{RP FECHADA} A calma antes da tempestade

Depois de conseguir o itinerário e voltar para Terus, numa viagem igualmente cansativa, era bom ao menos estar em casa de novo. Amelie encontrou um substituto para sua abstinência, embora soubesse que seu amado não gostava nem um pouco de seu novo vício e Flint parecia animado para a incursão que teriam em breve. Parecia que as coisas estavam encaixando em seus lugares novamente e a tripulação estava animada com o prospecto de ganhar bastante no futuro, então dias depois de desembarcar em Terus decidiram dar uma festa no navio, o que não era incomum. Embora soubesse que não iria poder beber, a ruiva estava animada ainda assim, pela esperança futura de um bom saque e por finalmente conseguir algo que a acalmasse. As noites não eram mais tão difíceis, conseguia dormir na maior parte das vezes, não discutia mais por coisas pequenas e sem importância, suas mãos tremiam menos. Se perguntava se estava conseguindo se livrar do vício em álcool, embora tabaco não fosse tão saudável, não tinha como saber disso. Não sendo uma pirata, neste mundo e em Hahle ainda por cima, ou sequer saber ler. Talvez Elliot soubesse de algo, mas ela já estava farta de tê-lo se intrometendo em sua vida e suas escolhas, então apenas ignorava o médico quando este aparecia na viagem de volta ou até mesmo quando atracaram no porto.

Parecia que Elliot, entretanto, não gostava de ser visto como membro da tripulação e trocava suas roupas pretas por roupas mais coloridas e claras quando desembarcava em Terus, era um covarde na concepção de Amelie, sequer entendia como Flint conseguia lidar com aquilo, mas precisavam de uma mão habilidosa e naquele momento ele era a única. Vestiu as roupas como de costume, mais animada que o normal, pegando seu charuto e puxando Keith como de costume, talvez ele já tivesse se acostumado a ser puxado para essas confraternizações no navio. Era um dia quente, havia sentido falta do calor de Terus enquanto estava em outras terras, gostava de sentir o sol queimar sua pele que havia perdido um pouco do bronze enquanto estavam em Silya, mas já ganhava novamente, deixando seu rosto vermelho enquanto caminhava até o navio segurando a mão de Keith com uma mão e o charuto com a outra enquanto levava à boca.

Assim que chegou na monstruosidade negra que era o Blackmore, subiu para o convés e assistiu com os olhos enquanto os outros tripulantes tocavam instrumentos e bebiam como se o mundo fosse acabar no dia seguinte, mas não conseguiu deixar de notar alguns comentários sobre três tripulantes que haviam ficado em Terus e tinham desaparecido. Isso não cheirava nada bom, franziu o cenho enquanto assistia um dos piratas conversar com o outro sobre os três, tentando ouvir os detalhes através do barulho, mas não sabiam de muita coisa, apenas que tinham sumido, o que fez uma bola se formar em sua garganta e o peito apertar. Não era o tipo de coisa que acontecia, tripulantes não sumiam simplesmente do nada. Tentou encontrar Flint com os olhos, mas ele não estava em lugar nenhum, provavelmente estava preocupado demais com isso para qualquer tipo de celebração, talvez se culpasse, talvez estivesse planejando o que fazer, não podia deixar que os vigilantes tirassem informações preciosas dos três. Amelie engoliu em seco e virou-se para Keith, com o olhar totalmente preocupado.

— Isso não cheira bem, na verdade cheira a vigilantes. — Suspirou apertando sua mão com mais força enquanto segurava o olhar no dele. Todos estavam comentando sobre isso, apesar de estarem bebendo, fumando ou dançando e ela conseguia sentir o medo que pairava no ar, o medo de serem pegos a qualquer momento, não dava para saber quem seria o próximo, o que aconteceria, o que fariam com eles. Ela havia prometido a si mesma que não deixaria seus irmãos passarem pelo que ela passou, mas não conseguia parar de pensar no que os três estavam passando agora. Entretanto, era a vida de um pirata afinal, tudo o que podiam fazer era aproveitar aquele dia como se fosse o último, porque provavelmente poderia ser. Embora estivesse com o coração apertado, começou a caminhar pelo navio com Keith, até mesmo Gallant parecia estar bem aquele dia, conversava com outros piratas enquanto mexia no cabelo loiro e longo que teimosamente caía sobre o rosto. — Eiiii! — Acenou para ele e ele acenou de volta com um sorriso no rosto, mas parecia ocupado, então não o incomodou, entretanto, enquanto estava olhando para Gallant, sentiu alguém se aproximar dos dois. Ao olhar para frente era como se tivesse visto um fantasma.

— Amelie! — O homem exclamou, lembrava muito bem dele, não tinha como não lembrar.

— Logan. — Forçou um sorriso.  — Que porra você tá fazendo aqui? — Era realmente confuso vê-lo ali usando roupas pretas de novo depois de tanto tempo. O sorriso extremamente carismático que ele tinha não mudou, apesar do tempo.

— Eu tava em outra tripulação, decidi voltar pra essa. Sabe como é, velhos hábitos nunca morrem, senti falta daqui. Aqueles piratas eram fracos demais, os saques não eram bons, eu perdia mais do que ganhava, só que... — Novamente, ele falava demais e a simples voz do homem fazia Amelie querer socar a cara dele, mas apenas deu um sorriso amarelo meneando a cabeça e suspirou. Nem se importava com o resto das coisas que estava dizendo, apenas observou enquanto ele falava com um sorriso enorme no rosto e um copo de vinho na mão.

— Ah... Ok... Logan, esse é Keith, meu marido pra todos os efeitos, Keith, esse é o Senhor Foda-Ruim. — Amelie riu de verdade dessa vez, mas Logan fechou a cara. Olhou para ela e depois para Keith, passou a mão no rosto e voltou a sorrir, com aquele sorriso enorme que Amelie odiava.

— Amelie, isso foi anos atrás... Eu melhorei... — Parou por um segundo e fitou Keith, coçando a nuca com o melhor sorriso que conseguiu dar. — Quer dizer... Não pra ela... Eu só... — Ele limpou a garganta e voltou a olhar para Amelie de novo.

— Seu carisma vai te matar algum dia, cara. — Abraçou o braço de Keith antes que ele começasse a tremer de raiva como um pinscher, o outro apenas riu, dando de ombros.

— Vamos todos morrer um dia, se meu carisma me matar, pelo menos vai ser uma morte lendária. — Ele piscou para ela, mas pareceu lembrar de Keith de novo e fechou o rosto rapidamente enquanto trocava de olhares com ele. — Err... — Amelie estava achando a situação muito engraçada, não deveria, mas estava, então apenas riu. Era difícil ver Logan sem jeito, ele sempre tinha uma resposta para tudo embaixo da língua, disso ela lembrava, mas parecia que agora estava com medo de alguma coisa. — Eu ouvi dizer que você é um lycan, é verdade? — Tentou puxar assunto com Keith, enquanto sorria novamente e tentava ser carismático, mas ela imaginou que por dentro ele estava se cagando de medo, o que a fez soltar uma risada, talvez alta demais. Levou o charuto à boca novamente e soprou a fumaça. Estava se divertindo e aquilo iria ser deveras interessante de assistir.

Amelie sentiu o braço de Keith ao seu redor e puxou a fumaça para os pulmões de maneira mais profunda, virando-se para olhar para ele. Soltou a fumaça enquanto o ouvia falar com Logan, vê-lo daquela forma fazia ela sentir orgulho e talvez outras coisas, mas não era lugar para isso. Entreolhava seu marido e o outro enquanto Keith falava com ele, deixou uma risada escapar pela situação em que estava, sabia que deveria ser tão irritante para ele quanto estava sendo para ela, não conseguia suportar Logan por perto e agora teria que lutar ao lado dele. A simples lembrança do que aconteceu entre os dois fez ela querer vomitar o que comeu antes de sair, era extremamente constrangedor, mas não iria demonstrar isso, assim como Keith não estava demonstrando seu ódio por completo e Logan tentava não demonstrar seu medo, era como um jogo no fim das contas.

Logan riu, bebendo o vinho que estava no copo. Deuses, aquela risada, Amelie odiava aquela risada, sempre odiou. Se perguntava o que estava na cabeça quando decidiu transar com aquela criatura, mas ambos eram muito jovens, provavelmente bêbados e ela não era conhecida por tomar decisões coerentes, na maioria das vezes.

— Ugh, qual é, eu achei que uma tripulação era uma família, um protege o outro, não é assim que funciona?  — Ele pareceu ter percebido que Keith estava irritado pela forma que falava e lá estava novamente aquele sorriso extremamente irritante em seu rosto. Amelie revirou os olhos cruzando os braços, apoiando o cotovelo no outro braço enquanto levava o charuto à boca novamente, soltou a fumaça propositalmente na cara de Logan, que tossiu um pouco, mas já parecia estar acostumado a lidar com aquilo.

— Na minha humilde opinião, existem excessões. — Deu de ombros, talvez estivesse irritada, mas não era possível notar isso, apenas suas alfinetadas. Logan bebeu mais um pouco, ignorando completamente Keith e Amelie, como se fosse um imbecil ou estivesse tentando muito se enturmar, estava na turma errada, entretanto.

— É, eu sei bem sobre os perigos, sou pirata desde os dezessete anos, foi quando conheci a Amelie. — Ele sorria de uma maneira extremamente estúpida e as palavras saíam de sua boca como uma cachoeira de merda. Amelie suspirou o mais fundo que conseguiu.

— Logan, cala boca antes que eu te dê um soco. — Ele pareceu perceber que havia falado demais e tentou disfarçar bebendo mais um pouco. Afastou o copo do rosto, voltando a sorrir abertamente, como se estivesse conversando com velhos amigos em uma situação totalmente apropriada. 

— Isso é tão legal! Eu nunca vi um lycan antes! Quer dizer, quando sua vida é no mar, é meio difícil ver outras raças. Eu fiz parte de uma tripulação uma vez que tinha um bruxo, era muito louco! Mas ele morreu, enfim... Não era uma tripulação tão boa quanto essa. Como eu disse, eu senti falta daqui, foi meio difícil convencer o Flint a me deixar voltar porque ele não gosta muito de mim, sabe... Quando... — Amelie limpou a garganta para ele calar a boca, estava falando demais, ela estava começando a perder a paciência.

— Logan, puta que pariu... — Reclamou, respirando fundo. Ele olhou para ela, parecia que seus olhos sorriam, mas ele era assim. Sorria o tempo inteiro, talvez tivesse algum problema cognitivo muito sério.

— Ok, ok, desculpa, eu falo demais às vezes, eu sei disso, mas é mais forte que eu. — Esboçou um sorriso ainda maior, Amelie não sabia como ele conseguia sorrir tanto e de maneira tão grande. — Enfim, eu soube do que aconteceu com os três tripulantes, quer dizer, eu não estava lá, é claro, então eu não sei totalmente, eu sei o que as pessoas falam, óbvio. É preocupante se forem os vigilantes de novo, precisa tomar cuidado, da outra vez... — Dessa vez ele parecia genuinamente preocupado com a ruiva, ela apenas deu de ombros. Não tinha medo de ser pega novamente, mas sempre que tocavam no assunto do que aconteceu no passado era como se enfiassem o dedo em uma ferida que ainda estava muito aberta e inflamada, infeccionando o corpo inteiro com uma febre terrível. Amelie olhou para baixo, levou o charuto à boca novamente e deu uma longa pausa antes de responder.

— É, da outra vez... — Deixou as palavras no ar, não queria continuar falando sobre aquilo, não queria pensar naquilo ou saber que aquilo tinha acontecido, era algo que enfiava no fundo de sua mente e deixava ali, apodrecendo.

— Bom, não vamos falar de coisas ruins, eu não sou de falar de coisas ruins, sou bem positivo até, mesmo nessa vida. Eu me ferrei da outra vez, num ataque que fiz, quase perdi o braço, mas continuei sorrindo, porque se você não sorrir mesmo estando na merda, não tem porquê estar na merda em primeiro lugar, haha! — Aquele homem era muito energético, o que fazia Amelie querer socar ele novamente, era incrível como ele se tornava mais e mais irritante à medida que o tempo passava. Ela ficou em silêncio, esperando que ele entendesse, mas ele apenas continuou falando, começando a gesticular com as mãos, embora uma estivesse ocupada. — Em tempos assim temos que nos apegar a nossos companheiros e nossa família, sabe... É o que temos nessa vida. Quando a própria nobreza quer nos exterminar, temos que nos unir. Sabe, Keith, união. É importante, cara! Uma vez eu... — E começou a falar sem parar novamente, como se estivesse fazendo um discurso ou contando uma história extremamente emocionante, o que fez Amelie levar a mão à testa e massagear os olhos, respirando fundo. — ... Então eu disse, "cara, você deixou a espada cair" e quando ele olhou pra mim, veio uma bala de canhão bem em cima dele que partiu ele ao meio, isso não é louco? Louco demais! Aqueles caras eram bem ruins, enfim... — Ele simplesmente não parava de falar, era inacreditável, se perguntava quanto tempo iria demorar até ele perceber que estava falando sozinho.

Amelie estava literalmente no seu limite, tinha se esquecido do quanto Logan falava e o quão irritante ele poderia ser quando começava a falar, era como um rádio quebrado que não parava por um minuto, mesmo depois de ouvir Keith, ele apenas sorria e continuava falando, ela sequer prestava atenção no que ele falava mais, apenas lançou um olhar irritado para Keith e suspirou.

— Certo, Logan, foi bom te ver de novo, mas acho que vamos aproveitar o resto da festa. Não vai ser difícil pra você fazer amigos, tem um carisma natural. — Estava visivelmente irritada e com "carisma natural" ela quis dizer "você é naturalmente imbecil", mas segurou a língua, não queria ser rude com ele logo depois que ele retornou à tripulação, não queria demonstrar o desconforto que ele trazia. Seu olhar era agora visivelmente decepcionado, mas o sorriso não saía de seu rosto.

— Ah, certo, a gente se vê por ai!  — Ele respondeu, animadamente. Amelie apenas forçou um sorriso de volta e segurou a mão de Keith, sem dizer mais nada, o puxando pelo convés. Quando se afastaram o suficiente para ele não conseguir ouvir ela deixou um suspiro longo escapar de seus pulmões.

— Puta merda, que cara insuportável. — Massageou as têmporas, respirando fundo enquanto andava. Começou a observar a movimentação no navio enquanto fumava seu charuto, ao menos agora tinham se livrado dele... Por enquanto ao menos, ele sempre voltava uma hora, ela lembrava bem disso. Da próxima vez provavelmente iria socar a cara dele, estava impaciente e o pior é que agora seu tabaco tinha acabado. Precisava comprar mais, bufou de raiva. Mas ao olhar ao redor, notou alguns tripulantes embaixo de uma tenda improvisada, fumando enquanto conversavam, reconheceu um deles, ele havia salvo sua vida quando levou aquele furo no estômago, se não fosse por ele matando o homem antes que ele cravasse a lâmina mais fundo, provavelmente teria morrido ali mesmo.

Puxou Keith animadamente na direção deles, eram no máximo cinco homens conversando animadamente embaixo de uma tenda. O cheiro que vinha dali, no entanto, era diferente do esperado. Amelie franziu o cenho, mas continuou mesmo assim, até estar ao lado de Philip, que era seu nome.

— E aí Philip, tem alguma coisa pra colocar aqui? — Perguntou animadamente. O homem era um pouco mais alto que os dois e tinha cabelos castanho claro, junto de uma barba rala e olhos castanhos. Seu rosto estava um pouco sujo, mas ele parecia muito animado.

— Oww, Amelie! E aí Keith! Bom, eu não tenho tabaco hoje, mas tenho outra coisa. — Ele parecia mais animado que o normal, Amelie fez uma careta confusa. Ele começou a rir do nada. — A gente encontrou esse elfo, tava vendendo uma planta muito louca, é muito louca, ele disse como explica, mas honestamente... — Ele apontou para o lado e foi quando Amelie viu um homem de cabelos muito loiros, tão loiros que pareciam brancos, bem lisos, o rosto quase celestial, roupas muito diferentes da que eles usavam e as orelhas pontudas escapavam pelas mechas dos cabelos longos. Ele levantou a cabeça e olhou para os dois, não parecia estar bebendo ou usando nada e tampouco fazia parte da tripulação. Que porra um elfo estava fazendo num navio pirata?

— Na verdade, a planta tem funções alucinógenas causadas por suas propriedades que são... — A voz do elfo parecia veludo e ele era muito sério, principalmente quando tentou explicar sobre a planta, mas Philip fez sinal com a mão para ele parar de falar.

— Ninguém liga pra porra das propriedades da planta, cara. Cala boca, a gente já te pagou. — Embora houvesse acabado de mandar o elfo calar a boca, o pirata falava aquilo de maneira descontraída. Ele virou-se para Amelie e ergueu a sobrancelha como se perguntasse se ela queria.

— Haha, põe aqui. Isso vai ser divertido! — Amelie realmente não se importava com o que tinha naquela planta ou que a planta era. Philip riu e amassou algumas folhas, colocando no charuto de Amelie após ela entregar e acendendo em seguida.

— Esse elfo aqui é muito certinho, eu nem sei porque ele tá aqui, a gente só trouxe ele. — Outro tripulante de cabelos mais escuros falou enquanto colocava os pés em cima da mesa e fumava seu próprio charuto. O elfo parecia extremamente incomodado em estar ali, parecia muito fora do lugar, deslocado. Amelie riu com isso e pegou o charuto de volta, sequer olhou para ver o que tinha dentro, apenas começou a fumar.

— A forma que ele fala é irritante pra cacete. — Ela comentou como se ele não estivesse ali, na verdade todos falavam como se ele não estivesse ali. O coitado apenas ficava de cabeça baixa, olhando para as próprias mãos, talvez se perguntando o que estava fazendo tão longe de Dungeloff. Amelie se perguntava o que tinha feito ele ir até Hahle, que tipo de vida ele estava fugindo para vir para um lugar tão diferente e tão distante. Devia ser triste ter que abandonar seu lar por causa de coisas externas, pensou consigo mesma, mas não disse nada. Ao inalar aquela fumaça estranha algumas vezes, virou-se para Keith, oferecendo o charuto com um sorriso no rosto. — Pode ser nosso último dia na terra, amor. — Aquilo era verdade, mas disse de uma maneira mais descontraída.

A ruiva franziu as sobrancelhas ao ouvir a resposta do homem que amava, não entendia por que se preocupar tanto se era apenas uma planta. Deu de ombros e levou o charuto à boca de novo, puxando a fumaça pra dentro dos pulmões. Philip riu quando Keith perguntou sobre o capitão saber sobre aquilo, os outros quatro piratas apenas olharam para ele depois de ouvir suas perguntas e logo uma crise de riso começou, até mesmo Amelie deixou uma risada espontânea escapar. Todos, menos Keith e o elfo estavam rindo. Seu marido era tão certinho, enquanto ela era completamente o oposto, era bom ter este balanço porque ao menos ele controlava seus impulsos insanos, Amelie achava fofo, mas ao mesmo tempo engraçado. O elfo deu um suspiro longo enquanto se ajustava no banco em que estava sentado, parecia desconfortável com as acomodações e os homens ao seu redor, mas ao ouvir Keith, parecia que tinha encontrado alguém, ao menos, consciente de seus atos no meio daqueles bárbaros.

— Bem, é apenas uma planta alucinógena, irá fazer-te se sentir mais relaxado, alegre, as coisas ao teu redor irão ficar mais coloridas, é parecido com o efeito do álcool no organismo, porém diferente deste. Não irá te fazer tirar tuas vestimentas, talvez te faça ver coisas, em Dungeloff dizem que é como abrir um terceiro olho para uma realidade oculta, entretanto parece que os cavalheiros ao meu redor e a dama, importam-se mais com a primeira parte do que a última.  — O elfo respondeu, olhando diretamente para Keith, de maneira elegante, juntando os dedos uns nos outros. — Cultivamos este tipo de planta em alguns lugares de Dungeloff e certas vezes é usado em cerimônias, ninguém se despiu em nenhuma delas, se isto acontecer contigo quer dizer que és insano.  — Amelie fechou a cara enquanto ouvia ele falar, odiava pessoas que falavam assim, de maneira tão cordial. Queria muito socar a cara daquele elfo, para ela, ele era extremamente irritante, talvez com alguns socos mudasse de atitude.

— Entendi porra nenhuma. — Resmungou e parecia que os outros piratas compartilhavam do mesmo pensamento, porque todos ficaram em silêncio depois que o elfo falou.

— Eu não acho que o Capitão vai se importar com uma plantinha, Keith.  — Philip quebrou o silêncio rindo, estava visivelmente alterado e os outros riram também. Realmente, Flint parecia estar ocupado com outras coisas, passou pela cabeça de Amelie que provavelmente tinha a ver com os tripulantes que haviam sumido, ele sempre estava nas confraternizações e desta vez não estava. O elfo suspirou, voltando a olhar para baixo, devia pensar que estava no meio de idiotas, Amelie percebeu isso.

— Bom, se você não quiser, sobra mais pra mim. — Ela riu para Keith, já começando a sentir os efeitos da planta estranha vinda de um reino distante. Estava animada para descobrir o que aquilo fazia, mas já começava a se sentir mais animada e leve, o que era bom, ao menos algo bom antes do caos que estava tão próximo.

Parecia que todos pensavam da mesma forma porque bebiam, dançavam e cantavam como se aquela fosse a última vez que fossem estar ali, apesar da animação, era possível notar a tensão e o medo no ar, que não se dissipava. Se olhasse bem poderia ver que aquela celebração carregava uma tristeza escondida.

— Essa coisa fala de um jeito irritante. — Comentou como que para si mesma, mas os outros apenas concordaram, com "é mesmo" ou apenas balançando a cabeça. Não se importava com o elfo, sua presença não era importante para ela, então não se importava em falar diretamente com ele. O mesmo também não parecia querer falar com eles, apenas falava quando se dirigiam a ele e se mantinha em silêncio durante todo o tempo.

— Eu nem sei porquê ele tá aqui, honestamente. — Um dos piratas falou. Amelie, entretanto, sentiu um pouco de pena do pobre elfo. Não era desejado ali e talvez só estivesse para tentar vender mais e ganhar mais dinheiro.

— É, também não sei, mas se ele continuar quieto pelo menos não vai encher nossos ouvidos com esses "sentir-se", "tua", sei lá o que mais... — Philip respondeu rindo, a diferença na maneira em que falavam era gritante.

— "Quero ir-me embora, tua laia é louca, não sei porquê estou-me aqui". — Amelie imitou o tom de voz do elfo e a forma que ele falava, seguida de uma gargalhada. O elfo não pareceu se incomodar em ser zombado, mas ela continuou rindo sozinha como fazia com frequência.

Keith parecia muito interessado no elfo, o que fez Amelie erguer as sobrancelhas. Ninguém ali se importava com a presença dele ou queria ouvir o que ele tinha a dizer, além de seu marido, é claro. Não sabia porque ainda se surpreendia com isso, ele era ávido por conhecimento e extremamente curioso, principalmente quando se tratava de coisas que tinham a ver com o bem estar da mesma. Se sentia meio mal por aquilo, quer dizer, ele deveria se preocupar consigo mesmo da mesma forma e intensidade que se preocupava com ela, mas se os lados fossem opostos, estaria na mesma situação, só lidaria de uma forma mais violenta do que a forma que ele lidava.

— Possuímos todo tipo de erva e planta em Dungeloff, plantas medicinais são tratadas de maneira especial. Acreditamos que temos uma conexão inegável com a natureza que nos cerca, não é difícil encontrar plantações de todos os tipos de coisas sendo muito bem cultivadas, a natureza faz parte de nós e a tratamos como um ser vivo, alguns a tratam como uma entidade.  — O elfo respondeu olhando para Keith e por um momento parecia animado em falar sobre seu lar, mas logo seu semblante se fechou. — Entretanto, sinto-lhe dizer que nossas plantas medicinais funcionam de maneira mais lenta, te aconselharia a ir à procura dos gwrach que habitam estas terras... Perdoe-me dizer... Miseráveis. Possuem poções, creio que devem ter algo para isto que funcione mais rapidamente, ouvi dizer que aquela laia desgraçada tem todo tipo de poções, porém eu não confiaria em nada vindo de um gwrach, não depois do que fizeram com meu povo, não depois do que vimos o que eles eram capazes de fazer durante a guerra entre os dois reinos. São patéticos e traiçoeiros, não tenho certeza se procura isto para ti, mas se preza pela sua vida, não deixe-as nas mãos de um bruxo. — O elfo cuspiu no chão mostrando seu desprezo. Realmente, as duas raças se odiavam de maneira extrema, assim como lycans e vampiros... E qualquer outra raça e humanos. Estavam bem na última posição da lista quando se tratava de viver em segurança e não virar comida ou sofrer nas mãos das outras criaturas, seja lá quais fossem. E ainda assim, lutavam entre si, como os vigilantes e os piratas por exemplo, ao invés de se unir contra aquelas aberrações, ao menos era assim que Amelie os via.

— Parece mais uma rixa que vocês têm com eles e eles têm com vocês do que algo que deva realmente trazer preocupações. — Amelie comentou, desinteressada. O elfo voltou a ficar em silêncio, talvez pensando sobre o que ela disse, mas não podia ignorar o ódio que sentia por Fries e todos que ali habitavam.

Quando Keith a beijou e disse que amava, ela ficou presa em seu olhar e não pôde evitar de deixar um sorriso apaixonado escapar por seus lábios. Trocaria qualquer coisa, até mesmo a vida que conhecia, para tê-lo ao seu lado para sempre se um dia chegasse a este impasse. Entretanto, a demonstração de afeto pareceu cômica diante dos outros tripulantes, quando Amelie ouviu as risadas baixas e abafadas, que eles tentavam abafar, ao menos. Ela virou-se e cruzou os braços, até mesmo Philip estava rindo.

— Não é culpa nossa se a única forma que vocês tem de sentir o toque de outra pessoa e um falso afeto seja com prostitutas em bordeis. — Amelie resmungou, o que fez eles pararem de rir, um deles até limpou a garganta.

— Ei! Também não é assim... A Sophia disse que me amava, eu quero fugir com ela, tirar ela de lá, fazer ela ter uma vida digna sem ter que vender seu corpo pra ter um prato de comida no fim do dia. Nós nos amamos, quando voltarmos do próximo saque, que promete bastante, eu quero comprar a liberdade dela e encontrar um lugar, mesmo que seja uma estalagem ruim, para ficarmos. Claro que eu não posso fugir dessa vida, é tudo o que eu conheço, talvez eu vá e não volte, mas ao menos ela vai ter a oportunidade de construir algo mesmo sem mim, livre das correntes que prendem ela àquele maldito bordel, poder recomeçar uma vida novamente, só espero que eu viva o suficiente pra estar ao lado dela e poder assisti-la enquanto ela faz isso. — A expressão e o tom de voz de Philip agora estava mais triste, era possível notar que no fundo todos estavam mexidos com o que estava acontecendo com os membros da tripulação, todos tinham medo de serem pegos e entregues à forca, ou pior, passar dias em tortura até finalmente se cansarem e entregá-los à forca mesmo assim. No final era isso o que eram: apenas ladrões esperando pela corda curta e mais de meia hora sufocando, como um belo espetáculo sádico, até finalmente morrer. Uma morte lenta e agonizante. Mas eram bem mais do que isso, não eram apenas ladrões, tinham tanta humanidade, compaixão, ambições, desejos, amor...

— Quando vocês conseguirem um lugar de vocês, eu quero ser a primeira a visitar. Juro que não vou beber todo o estoque de vinho no armário. — Ela riu, tentando trazer uma atmosfera mais leve para a conversa. Philip pareceu mais animado depois disso também e voltaram a conversar normalmente, mas aqueles pensamentos não saíam da cabeça de Amelie, até que ela lembrou-se de Keith dizendo que queria tentar, iria ser divertido. Virou-se para ele e levou o charuto até a boca do mesmo, era um simples de madeira, não muito grande. Ajustou entre os lábios de Keith, que queria muito beijar novamente e tentou ser o mais didática possível. — Certo, você só precisa puxar a fumaça como se estivesse dando um suspiro longo, mas não solta, segura ela nos pulmões o máximo que conseguir, provavelmente vai tossir um pouco no começo, mas logo se acostuma. Se a fumaça não ficar por tempo o suficiente nos pulmões pra fazer o efeito dela, não vai ter servido de muita coisa. Você só suga ela pra dentro, vai sentir os pulmões queimarem, mas isso é bom, quando não conseguir segurar mais, você solta, não precisa passar séculos com a fumaça dentro, mas não solte muito rápido. É só isso, é bem fácil. — Tentou encorajá-lo enquanto explicava da melhor maneira que conseguia, ninguém havia ensinado aquilo para ela, havia aprendido observando como sempre fazia. Só esperava que não fizesse mal ou ele se engasgasse na primeira puxada.

Os efeitos que o elfo descreveu estavam começando a surgir, Amelie se sentia mais leve, as coisas tinham mais cor, não via coisas como ele disse que os elfos viam, talvez fosse algo inerente a eles e ela não conseguisse ver porque era humana, talvez precisasse de mais tempo. Se irritou um pouco com isso, queria se divertir e ter toda a experiência descrita, então meio emburrada, se ajustou no banco depois de passar o charuto para Keith.

— Alguém tá vendo alguma coisa? Eu acho que esse merda tá mentindo, eu quero ver coisas. — Cruzou os braços, os outros tripulantes negaram com "não" ou simplesmente balançando a cabeça. Ela bufou. — Você tá mentindo pra gente, caralho? — Se dirigiu diretamente ao elfo desta vez, odiava quando mentiam para ela e o elfo pareceu indignado, a fitando desta vez.

— Talvez não sejas espiritualmente desenvolvida.  — Respondeu, com desdém, elegante demais para dar de ombros, mas sentia que ele iria caso pudesse. Isso a fez ter mais raiva ainda.

— Talvez o cu da sua mãe seja, por isso você tem alucinações. — Desviou o olhar depois de dizer isso, arrancando algumas risadas dos outros piratas. O elfo apenas voltou a fitar suas mãos, sem dizer nada. — Eu vou dar um soco nessa sua cara... — Foi interrompida ao ouvir Keith tossir. Virou-se para ele, observando enquanto ele resmungava sobre o conteúdo. Seu semblante mudou rapidamente, quando sorriu para o marido e tirou o charuto das mãos dele.

— Certo, vamos tentar de novo. Assiste. — Levou o charuto à boca, sugando a fumaça o mais fundo que conseguiu, segurou a fumaça por alguns segundos e depois soltou, acabou indo bem na direção dele, pois estava virada para ele e o mesmo estava bem ao seu lado. Isso a fez rir. — Tem que tragar várias vezes, uma só não vai fazer porra nenhuma, vai, tenta de novo. — Entregou-o novamente, erguendo as sobrancelhas para que ele fizesse como pediu.

Porém, ainda estava com muita raiva do elfo, então voltou sua atenção para ele.

— Eu acho que vocês, orelhas pontudas, são um bando de lunáticos, por isso saem vendo coisas por aí, eu não duvidaria que tiram as roupas também, são tão elegantes e cordiais, mas por dentro deve ter um fogo no cu que nem toda a água do mar de Hahle conseguiria apagar, a única diferença entre você e eu é que pelo menos eu admito meu fogo e ele apaga. — Meneou a cabeça apontando para Keith. O elfo pareceu transtornado ao ouvir uma mulher falar de maneira tão aberta sobre algo tão privado. — Você já deve até ter dado esse cu, seu cu é diferente do nosso ou é o mesmo cu? — Realmente, os efeitos daquela planta só pioravam a língua de Amelie, ela estava pronta para ofender aquele elfo de todas as formas possíveis, ele suspirou, com os olhos arregalados e parecia se negar a responder, mas após pensar mais um pouco, decidiu se pronunciar.

— Sinto falta de Dungeloff, ao menos lá o povo e as damas possuíam maneiras. Estou me retirando, tenham uma boa tarde, cavalheiros. — Ele se levantou, mas um dos piratas o puxou de volta, o forçando a sentar no banco novamente.

— Tu fica! Nem pensa que vai fugir, a gente te pagou, caralho! — Reclamou enquanto o elfo fechava a cara e voltava a fitar o chão. O pobre coitado estava preso ali e só iria embora quando eles decidissem que ele poderia ir embora.

— Sinto falta de não ter um elfo aqui, podemos ser ladrões, mas ao menos temos palavra. — Ela riu, não queria rir, mas tudo parecia engraçado agora. Os outros também pareciam estar numa brisa enorme, as coisas ficavam mais leves ao menos. Virou-se para Keith novamente, para ter certeza de que ele estava fazendo certo, seu tom de voz mudou de súbito para um tom mais carinhoso. — Se você demorar muito, vai acabar queimando toda a planta e não vai ter nenhum efeito, amor. — Fez carinho em seu cabelo que balançava um pouco com o vento que vinha do mar. Era bom estar ali, apesar da tensão, era leve estar ali com ele e seus companheiros, precisava aproveitar um dia de cada vez, não era possível saber quando tudo iria por água abaixo.

Parecia que todos estavam relaxados e rindo entre si, mas tudo o que Amelie conseguia pensar era em como ela queria socar aquele elfo. Quem ele pensava que era para dizer que o que ela era ou deixava de ser? Por algum motivo, sua raiva apenas se intensificava, mesmo tentando focar em Keith e o quão fofo, adorável e lindo ele ficava quando estava nas alturas. Sequer lembrava que havia acabado de tragar a fumaça e tentava mais uma vez. Isto tirou uma risada abafada de Amelie, enquanto ela continuou acariciando seu cabelo. Entretanto parecia que sua mente estava funcionando em câmera lenta, Keith apenas respondeu ao que o elfo havia falado um bom tempo depois, a ruiva quis rir, nunca seria uma dama, mas o elfo fez isso por ela. Uma risada baixa e contida do homem inundou o ambiente fazendo todos olharem para ele, era a primeira vez que ele ria, pareceu perceber isto porque olhou para cada um deles com um olhar sério em seguida.

— Eu creio que cada criatura nesta terra se ilude de alguma maneira. — Ele disse, parecendo discordar de Keith com um filtro cordial, o que fez a raiva de Amelie aumentar ainda mais.

— Eu creio que eu vou te encher de porrada agora. — Ela levantou subitamente, como num pulo e avançou para cima do elfo, mas Philip a segurou tão forte que Amelie não conseguiu se mover. — Você é surdo, porra? Não ouviu o que ele acabou de dizer?! — Amelie estava visivelmente alterada fitando seu colega de bordo, mas Philip apenas segurou o olhar no dela, enquanto a forçava a sentar de volta no banco, a empurrando levemente.

— Eu sei, mas a gente pagou ele... — O pirata respondeu, sentando-se de volta.

— Eu pago mais pra bater nele. — Amelie retrucou, voltando a fazer carinho no cabelo de Keith como se nada tivesse acontecido. Era incrível como seu humor era maleável. — Eu vou socar esse elfo até as orelhas ridículas dele entrarem de volta pro crânio. — Comentou como se não fosse nada, concentrada demais no homem que amava para fazer qualquer coisa. Keith já parecia sentir os efeitos, mas era um pouco diferente. Era diferente para cada pessoa, então fazia sentido. Se apoiou em seu ombro, deitando a parte de trás da cabeça em seu braço enquanto virava para o lado, embora não conseguisse apoiar os pés em uma mesa, tentava deitar-se. Aquela planta trazia sono e apesar dos efeitos bons, Amelie sentia que iria adormecer a qualquer momento.

Amelie fechou os olhos enquanto ouvia o oceano, o barulho das ondas parecia mais próximo, seu corpo estava dormente de uma forma maravilhosa, era quase como um orgasmo, mas durava muito mais tempo, aquilo iria durar horas se ingerissem mais. Era cansativo não ter como se deitar direito ou onde apoiar os pés, então ela estava numa posição meio desajeitada e desengonçada, mas era isso o que ela era, afinal. Ouviu Keith rindo e riu também, era bom ouvir o som de sua risada, era como uma música bonita.

— Espera, a gente tá indo pra Dungeloff desde quando? — Um dos piratas perguntou, de olhos arregalados. Não lembrava de ter concordado em ir para Dungeloff, na verdade ninguém tinha falado daquilo para ele.

— Não sei, cara, mas dizem que é bem bonito. — Outro pirata respondeu, tocando no ombro do outro.

— Ninguém tá indo pra Dungeloff, caralho, o navio tá no mar só, nem tá se movendo. — Philip respondeu, parecia o mais sóbrio ali.

— Eu não deixaria cidadãos... Não, não são cidadãos. Eu não deixaria coisas como vocês chegarem perto de minha terra. — O elfo comentou, um pouco irritado. Amelie aproveitou a deixa antes que alguém o respondesse.

— Eu mataria você aqui antes que conseguisse piscar, entraria na sua terra de merda cheia de coisas... Como você disse... Com orelhas bizarras e roubaria tudo daquela merda de lugar. — Nunca havia estado fora de Hahle, exceto quando o navio ia às zonas neutras de vez em quando, mas sentia raiva daquele elfo sem nenhum motivo específico. Os piratas riram, todos na mesma brisa, começaram a comentar sobre o que iriam fazer lá e o que poderiam saquear lá.

— Animais... — O elfo resmungou, suspirando fundo, mas Amelie ouviu e abriu os olhos, o fitando.

— Olha só quem fala, o cara que nem humano é. — Aquilo acabou saindo mais ofensivo do que o planejado, ela percebeu depois de alguns segundos, então se sentou virando para Keith. — Sem ofensas, amor. — Tocou seu nariz como fazia com frequência, com o olhar um pouco tenso. Não queria ofendê-lo, embora fizesse piadas com o lobinho.