{RP FECHADA} Nightmare

Amelie não se importava com coisas materiais, estava ali somente porque Keith estava animado em olhar todas aquelas coisas, sabia que ele queria comprar alguma coisa para ela, mas tinha um mal pressentimento sobre aquilo. Seu instinto nunca mentia. Ele a puxava enquanto ela olhava as coisas com pouco interesse, mas vê-lo sorrir era o suficiente pra fazê-la sorrir também enquanto ele mostrava as coisas de maneira animada. Quando ele a puxou e mostrou as bússolas, seu pressentimento apenas aumentou, como um grito dentro de seu peito. Começou a olhar ao redor quando ele não estava olhando para não preocupá-lo.

— Bússolas não funcionam assim, amor.  — Disse com um sorriso no rosto, ajustando seu chapéu. — Mas se você quiser comprar uma, seria bom caso a gente se perdesse. — Quase riu de sua inocência, mas manteve o olhar atento ao seu redor. Ele continuava olhando as coisas e ela soltou sua mão para que ele tivesse mais liberdade em procurar as coisas, se afastou um pouco, o observando e observando as pessoas ao redor, algumas olhavam para eles com um certo desdém por saber o que eles eram. Keith mostrava as coisas que encontrava e ela sorria para ele, embora a sensação em seu peito apenas aumentasse com o passar do tempo. Sabia que alguma coisa estava errada e seus olhos de águia não estavam conseguindo captar.

Muitas pessoas estavam de um lado para o outro no mercado, uma delas passou entre eles e foi o suficiente para ela sentir uma mão a puxando, uma mão forte, tentou lutar contra, mas sua boca foi tapada pela outra mão, ela sentiu o impacto, não sabia quem era, não conseguia vê-lo, mas sabia que o homem era muito forte, começou a arrastá-la para fora do mercado enquanto ela se debatia e as pessoas pareciam ocupadas e distraídas demais para perceber. Em um instante Amelie estava ali, do lado de Keith, olhando as coisas que ele se animava em mostrar, no outro Amelie desapareceu em meio à multidão de pessoas.

Amelie sentiu o impacto quando foi jogada com força contra o chão de pedra e bateu em uma parede, apesar da dor, ela não demonstrou, seu olhar era apenas de ódio, o tipo de olhar que colocaria medo em qualquer pessoa, mas aquele homem parecia determinado e seu olhar não o intimidou. Ele era enorme, tinha uma barba preta e longa e a cabeça raspada, uma cicatriz no rosto, usava roupas simples, seu olhar era tão cheio de ódio quanto o dela. Ele se aproximou, mas ela não tinha para onde correr, estava encurralada naquele beco estreito, como um animal indefeso tentando fugir de uma presa. Se perguntou por um momento se ele não era um vampiro, mas seus olhos eram os olhos mais escuros que ela já viu e eles queimavam em raiva e rancor. Ele desferiu um soco em seu rosto com força, o que a fez cair para o lado, dando espaço para ele chutá-la no abdomen. Ela gemeu de dor, tentando levantar, mas ele a chutou novamente no mesmo lugar, fazendo ela cair no chão, seu chapéu já havia caído. Cuspiu o sangue que saía de sua boca e olhou para ele com o mesmo olhar.

— Você não sabe por quanto tempo eu esperei esse momento! — Ele exclamou a chutando novamente, dessa vez mais forte. Ela deixou um gemido alto de dor ecoar pela rua vazia.

— Você não sabe quem eu sou.  — Disse olhando para ele de baixo, o olhar dele tinha tanto ódio que ela sentiu seus instintos gritando para ela sair dali.

— Oh, eu sei, Amelie Mildenhall. — Disse seu nome com desgosto nas palavras, desferindo outro soco em seu rosto. Ela caiu no chão de cara contra o piso duro. — Eu sei quem você é, achei que era mais forte do que isso, acho que o que falam sobre você está errado. — O homem a puxou pelos cabelos, a erguendo para que ela sentasse novamente e a segurou pelo pescoço.

— Se você me matar, você vai se arrepender.  — Tentou falar entre o sangue que saía de sua boca e nariz e a mão forte que segurava seu pescoço, a impedindo de respirar.

— Se eu te matar, eu vou ter minha vingança. — Amelie ficou confusa, mas não deixou isso transparecer. Ela estava com tanta dor e fraca demais para lutar contra, que ele conseguiu erguê-la mais ainda, a pressionando contra a parede. — Você matou meu irmão, Seymour. Acho que vocês jogam os corpos no mar pra que não haja dúvidas de quem o fez, mas eu sei que foi você. — Ele se aproximou de seu rosto novamente enquanto Amelie tentava inutilmente lutar contra sua força. — Bando de ladrões filhos da puta. Eu sabia que ia te encontrar algum dia, sua reputação te precede, eu só não sabia que você era tão linda. — O olhar do homem desceu por seu corpo e voltou até os olhos azuis de Amelie. — Acho que vou me divertir um pouco com você antes de te matar. — Ele sorriu maliciosamente e ela cuspiu o sangue que tinha na boca em seu rosto, o que fez ter mais raiva.

— Eu prefiro morrer do que ter suas mãos nojentas me tocando.  — Foi difícil falar, mas ela conseguiu, não percebeu que isso apenas piorou sua situação porque ele gargalhou alto a jogando no chão com força de novo e a chutando com toda força que tinha. Amelie deixou um grunhido de dor escapar.

— Isso é bom, porque você vai ter os dois. — Ele começou a desabotoar seu cinto e ela viu a oportunidade de puxar sua espada, avançando contra ele, mas ele segurou seu pulso e o torceu, fazendo ela grunhir de dor novamente, a espada caiu no chão e ele a socou de novo,fazendo ela tossir mais sangue, caindo no chão, o que a fez sentir mais dor. Ele a puxou pelas pernas e se colocou em cima dela a socando novamente. — É uma pena desfigurar esse rostinho, mas é o que você merece depois do que você fez. — Não tinha sido ela quem tinha matado o irmão dele, ela queria dizer isso, a tripulação tinha mais de 100 pessoas, mas ele não iria ouvir. Ela começou a se debater inutilmente embaixo do corpo imenso do homem enquanto ele a imobilizava, gritando para ele sair de cima dela, mas o ódio em seu olhar era visível, ele não estava disposto a parar e não iria.

Quando ouviu Keith perto, ela queria gritar para que ele fosse embora, ele não teria chances com aquele brutamontes, não importa qual destino ela fosse ter, mas antes que falasse qualquer coisa, ele o tirou de cima dela, dando espaço para ela se rastejar pelo chão, sentindo os pingos de sangue caírem de seu rosto no solo. Se virou, puxando sua outra espada e viu a pior cena que poderia ter visto, Keith machucado no chão se contorcendo de dor por causa dela, ou melhor, por causa dele.

— Eu vim aqui matar uma e vou poder matar dois ladrões covardes! — Ele riu alto, agora focando em Amelie. Ela não conseguia tirar os olhos de Keith e ele percebeu isso, também percebeu a forma que ele o atacou tentando protegê-la, não foi difícil deduzir.

— Mais um passo e você morre.  — Amelie disse entre os dentes sujos de sangue, o homem parecia ignorar suas palavras, mesmo com a espada apontada para ele.

— Foi assim que você matou meu irmão, sua vadia? — Cuspiu no chão, avançando contra ela. Ela lutou contra sua força, mas ele conseguiu tirar a espada de sua mão e jogá-la para o lado. Pela primeira vez, Amelie teve medo. Não por ela, mas por Keith. Ela precisava distraí-lo o máximo que conseguisse.

— Keith, amor, você precisa sair daqui! Corra, busque por Flin-  — Antes que pudesse terminar sentiu outro soco em seu rosto, dessa vez do outro lado. Ele chutou sua mandíbula com o joelho, o que fez sua cabeça girar e a puxou pelos cabelos, com Amelie ainda tonta.

— Patético, a grande Amelie Mildenhall não conseguindo vencer uma luta. Eu esperava mais. — A jogou contra a parede, fazendo ela cair no chão, se apoiando apenas em seus braços. — Você vai ser meu brinquedinho antes que eu te mate e seu amorzinho vai assistir tudo, enquanto você grita pedindo pra eu parar, talvez você até goste. — Ele se aproximou novamente a puxando pelas pernas enquanto ela arranhava o chão de pedra tentando se segurar em alguma coisa. A chutou duas vezes, cada vez mais forte, enquanto sorria maliciosamente. Se abaixou e a puxou pelo cabelo, que grudava no sangue que estava em seu rosto. Virou-se para Keith que ainda estava no chão, mostrando Amelie completamente ensanguentada. — Como se sente sabendo que ela vai ser usada e morta e não tem nada que você possa fazer? Foi assim que eu me senti quando sua putinha matou meu irmão no Seymour. — Deixou a cabeça de Amelie cair, que bateu contra o solo, fazendo sua cabeça doer mais ainda. Ela tossiu cuspindo sangue que manchou o chão de escarlate, enquanto sentia o homem tentando levantar seu sobretudo e puxar suas calças.

— Keith!  — Gritou para ele. — Se você ficar aqui ele vai matar nós dois, você precisa encontrar o Flint! Keith!  — Tentava gritar o chamando, mas parecia que ele não a ouvia, estava com raiva demais para ouvir o que ela dizia.

— Parece que o ladrãozinho está com raiva. — Ele riu. Amelie se virou para encará-lo, num pensamento rápido, começou a desfazer o cinto de seu sobretudo, o homem a olhou confuso. Bastou mostrar a blusa de algodão embaixo de seu sobretudo que ele paralisou, olhando para ela como um pedaço de carne, como se nunca houvesse visto uma mulher antes.

— Você me quer, não ele. Eu sei que você pode me fazer sentir muito mais do que ele jamais fez.  — Odiava mentir, odiava falar de Keith daquela forma e odiava o que estava fazendo, mas era seu plano, que simplesmente deu certo. Sentiu o homem se colocar por cima dela e passar as mãos pelas partes que estavam embaixo da blusa branca. Ela sentiu nojo de si mesma, nunca se perdoaria por ter falado aquilo ou feito aquilo, mas quando ele estava distraído ela fingiu que ia beijar seu pescoço e mordeu com toda força que conseguiu, com um ódio e ferocidade tão grande que arrancou a carne do homem, cuspindo para o lado. Ele caiu no chão ao lado dela, gritando de dor.

— Sua puta! Vadia desgraçada! — Ele gritava enquanto grunhia de dor, segurando o pescoço, de onde o sangue jorrava. Amelie rastejou até sua espada, conseguindo pegá-la com dificuldade, mas estava machucada e fraca demais. O homem avançou sobre ela, banhado de sangue e socou seu rosto mais uma vez, dessa vez tão forte que Amelie viu estrelas.

Amelie cuspiu uma grande camada se sangue no chão, tossindo. Sabia que Keith estava com dor, quando olhou em seu rosto, ele tinha apenas um ferimento onde o homem havia o socado, provavelmente tinha o atacado de outra forma. O homem estava caído no chão, gritando de dor, por pouco não caiu em cima dela. Seu rosto deveria estar horrível depois de todos os socos que levou.

— Tem algo que eu preciso fazer antes.  — Ela disse com dificuldade, se arrastando pela parede tentando levantar do chão, quando conseguiu começou a cambalear até onde o homem estava e puxo a espada de Keith de seu pulmão, o homem gritou de dor, sangue jorrava pela ferida e por sua boca. Seria uma morte lenta e dolorosa, mas ela tinha outros planos. Dessa vez ele estava fraco, então ela conseguiu, pela força do ódio, virá-lo para que ele a encarasse. Ele não conseguia falar, se afogando no próprio sangue.

— Acho que vou brincar com você um pouco antes de te matar.  — Ela repetiu a frase que ele disse a ela, cuspindo o sangue que saía de sua boca em seu rosto. Era difícil segurar a espada, ela colocou no chão ao lado dele e se agachou, quase caindo, o cinto do homem já estava desabotoado, então ela apenas puxou sua calça, pegou a espada e olhou em seus olhos. Ele tentou lutar contra, mas estava morrendo e não conseguia falar, então Amelie segurou seu patético membro e lentamente começou a arrancá-lo enquanto o homem grunhia de dor. Quando tirou por completo se aproximou de seu rosto e enfiou em sua boca fazendo ele cuspir uma grande quantidade de sangue. Agora ele morreria mais rápido, mas ela teve sua vingança. Olhava em seus olhos enquanto ele morria. — Você mexeu com a pessoa errada.  — Sua voz era de puro ódio, seu olhar também. Logo os olhos do homem foram perdendo o brilho e ele morreu.

Amelie não conseguia mais segurar o peso do próprio corpo depois daquilo e caiu no chão batendo sua cabeça e tossindo sangue. Conseguia sentir o gosto de ferro em sua boca inteira.

Sua visão estava turva, mas ela desceu dos braços de Keith, mesmo que contra sua vontade e se apoiou numa parede, fechando os olhos com força ignorando toda a dor que sentia.

— Eu consigo andar, pegue as compras e vamos pra casa.  — Mentiu, mas era uma boa mentirosa, embora odiasse mentir para Keith. Só queria ir pra casa, onde poderia estar segura com ele novamente.

— Acho vamos ter que pedir uma carruagem até a estalagem.  — Ela disse olhando para ele. Suspirou passando as mãos pelas espadas que havia conseguido pegar a tempo. Não sabia o que teria acontecido se Keith não a encontrasse, não queria pensar nisso, que morte vergonhosa para alguém tão famosa quanto ela. Tossiu mais sangue, menos do que da outra vez, o que era bom.  

Esperou que ele pegasse as compras enquanto encostava a cabeça na parede, não podiam fazer muitos esforços ou os hematomas só iriam piorar, então seria melhor irem para casa logo e não andando, ela não conseguiria andar, só queria ir pra casa, se limpar, tirar os fantasmas das mãos daquele homem de seu corpo. Queria chorar, mas tinha que ser forte, não podia deixar Keith mais preocupado do que já estava.

A viagem de carruagem foi como um borrão para Amelie, sua visão estava turva enquanto eles chegavam ao seu destino. Foi difícil subir pelas escadas até chegar na casa dos dois, onde eles estariam seguros. Amelie sentou na cama enquanto observava Keith colocando as coisas na mesa indo pegar outra coisa. Ela abaixou a cabeça, imaginando centenas de coisas, poderia estar morta agora. Quando ele voltou e sentou ao seu lado, ela recuou levemente ao ver o tecido em sua mão, mas deixou que ele fizesse o que quisesse, fazendo uma careta enquanto ele limpava seu rosto que estava cheio de hematomas.

— Você não precisa fazer isso.  — Sua voz saiu mais ríspida do que ela queria, mas não conseguia esconder como se sentia.

Levantou-se e começou a se despir, tirando primeiro o sobretudo preto, depois a blusa de algodão, as calças e as botas. Os hematomas roxos visíveis em sua pele que por baixo da roupa era pálida. Não sentia vergonha com Keith, só queria se livrar daquela sensação horrível de ter as mãos daquele homem em seu corpo.

— Acho que ambos precisamos de um banho.  — Era como se Amelie agora fosse uma casca vazia, sua voz não tinha emoção, mas aquilo era um convite, ela caminhou com dificuldade se apoiando nas paredes e ao chegar na banheira, a encheu com a água que tinha em um balde, grunhindo de dor ao fazê-lo, ainda estava muito machucada.

Entrou na banheira e mergulhou, deixando a água lavar seu corpo e cabelo, quando viu que não tinha mais ar para segurar, sentou-se novamente, começou a esfregar com a esponja sua pele com tanta força que sentia o sangue escorrendo por algumas das partes que passava. Queria tanto se livrar do fantasma do toque daquele homem, mas não importava o quanto esfregasse, era como uma memória que nunca se apagaria.

Quando Amelie ouviu a voz de Keith, ela parou de esfregar seu corpo freneticamente. A esponja flutuou na água sem ela ao menos perceber, lágrimas começaram a escorrer de seus olhos como uma cascata e ela desabou, desabou completamente, soluçando e gemendo de angústia, como se nada ao seu redor existisse, apenas aquilo dentro de sua mente. Ela não conseguia parar de pensar, a dor que sentia fisicamente não era nada comparada à dor que ela sentia por dentro.

— Você não... me merece...  — Gaguejou entre soluços tentando controlar o turbilhão de emoções que sentia. Estava de cabeça baixa, parecia estar fitando a água, mas seus olhos estavam vazios, opacos, com a única luz que refletia ali sendo das lágrimas que escorriam por seu rosto. — E-Eu deixei outro homem me tocar...  — Ela tentava falar, mas era como se houvesse um bolo em sua garganta. — Eu te traí, você não me merece...  — Continuou chorando e soluçando perdida em uma agonia que só ela conseguia sentir. — Não importa... O quanto eu esfregue... Eu não consigo não sentir... As mãos dele em mim...  — Ela tentou formar uma palavra completa sem soluçar, mas não conseguia. — Eu sinto muito... Eu nunca vou me perdoar... Você deve estar me odiando agora...  — Não conseguiu mais aguentar e começou a chorar como um bebê, juntando as penas ao próprio corpo e as abraçando, evitando olhar para Keith, estava com medo do que veria em seu olhar.

Tudo o que queria era poder voltar no tempo e fazer algo diferente, mas não sabia o que poderia ter feito de diferente, sua mente estava uma bagunça, tudo estava uma bagunça em sua cabeça, ela chorava tanto que não tinha tempo de respirar, soluçava e gemia como uma criança abandonada, enterrada em sua própria cabeça, em seus próprios demônios. Tinha certeza que Keith nunca a perdoaria por aquilo e mesmo que ele o fizesse, ela nunca se perdoaria.

Ouvia as palavras de Keith, mas era como se fossem ecos em sua cabeça. Ele poderia perdoá-la e não a odiar, mas ela nunca se perdoaria. Sentiu ele a limpando e o toque repentino a assustou, mas ela logo se acalmou, percebendo que era Keith.

— Você também está machucado.  — Não conseguia parar de chorar, enquanto as feridas em seu rosto ardiam com as lágrimas. Os hematomas provavelmente iriam demorar a sair. — E-Eu... Eu só quero deitar...  — Sua voz saiu falha, ela ainda estava traumatizada pelo que havia acontecido, enojada consigo mesma, se perguntava se esse sentimento iria embora algum dia. — Você é bom demais pra mim...  — Soluçou, voltando a chorar incontrolavelmente. —Isso nunca vai acabar, amor... Tem um preço pela minha cabeça, muitas pessoas me querem morta, eu não sei como duramos tanto tempo nesta taverna, talvez porque tô subornando a dona dando mais dinheiro, mas isso nunca vai acabar.  

Se levantou de súbito e sem se enxugar, ou colocar uma roupa, cambaleou até a cama deitando nela como uma concha, abraçando a si mesma enquanto se deixava levar pela dor, nojo, raiva. Eram tantos sentimentos ao mesmo tempo que Amelie não sabia qual deles lidar primeiro, apenas chorava inconsolavelmente enquanto o barulho da lareira trepidava.

Ao sentir o súbito toque, Amelie estremeceu, lembrando do toque daquele homem que não saía da sua cabeça ou da sua pele, mas logo percebeu que era Keith, o abraço dele a confortava, a deixava calma, era como um remédio. Segurou sua mão enquanto ele a abraçava por trás e aconchegou a mão dele em seu peito, entre as suas duas mãos. Ao ouvir o que ele disse, ela ficou pensativa, eles realmente se amavam e embora ela não quisesse colocar sua vida em risco, a vida dele já estava em risco desde o momento que se juntou a ela e decidiu se tornar um pirata. Pensando bem, embora ela fosse a mais procurada depois de Flint e mais famosa, toda a tripulação tinha um preço em suas cabeças simplesmente por serem piratas. Deixou-o terminar de falar e suspirou, usou uma das mãos para enxugar suas lágrimas.

— Eu não vou fugir, nós não vamos fugir.  — Embora sua voz estivesse falha por ainda ter lágrimas descendo por seu rosto, ainda era séria. — Eu não vou fugir porque não sou uma covarde, eu vou lutar até o dia da minha morte.  — Segurou sua mão com mais força. — Você e eu, juntos, não vamos fugir, não temos pra onde fugir e mesmo que tivéssemos, você e Flint, e toda a tripulação, são como família pra mim. E eu não abandono minha família. Não vou abandonar o homem que cuidou de mim como filha e não vou colocar sua vida em risco fugindo por Hahle e por todos os reinos por causa de homens como aquele.  — Engoliu em seco, sentindo as lágrimas teimosas descerem por seu rosto. —Se eles querem minha cabeça, vão ter que lutar muito pra conseguir e eu não vou colocar a sua em risco por causa de coisas que eu fiz.  

Fugir estava fora de questão, Amelie não iria fugir como uma covarde com o rabo entre as pernas por causa de vigilantes, pessoas que queriam matá-la ou seja lá o que fosse. Isso não era quem era ela, nunca foi, nem quando era maltratada no orfanato ou quando foi expulsa de lá, ela deu um jeito de sobreviver e daria um jeito de continuar sobrevivendo, não importa o que acontecesse.