{ Q U E S T } The Ocean - Amelie Mildenhall & Keith Mildenhall

Assim como Amelie, todos estavam animados para o ataque, ela sabia o que fazer, seria fácil. Nos meses que se passaram, Keith ficava mais forte e ela não deixara de notar seus músculos, o que fazia com que frequentemente ela o seduzisse quando estavam sozinhos. Ver seu homem lutando e se tornando mais forte a fazia se sentir quente, todas as vezes que assistia ele lutando contra outros tripulantes, não conseguia evitar ficar corada com a visão de Keith lutando. Era como um prato cheio para ela e quando chegavam em casa ela sempre dava um jeito de mostrar o que aquilo fazia com ela para ele. Se perguntava se um dia iria ser demais e ele iria recusar, mas afastou o pensamento porque em todos os momentos, nunca parecia demais, pelo contrário, parecia que quanto mais eles se amavam daquela forma, mais intenso ficava, quanto mais forte ele ficava, mais interessada ela ficava em sentir seu corpo contra o seu. Ele não era mais o rapaz frágil e indefeso que ela conheceu no Festival, agora ele era diferente e ela gostava disso, gostava da confiança que ele passava.

Sorriu ao ouvi-lo falar sobre como iriam comemorar depois, ela ficou ansiosa pelo momento em que tudo acabasse e eles pudessem festejar. Assim que chegaram no convés, Flint parecia confiante, e o navio começou a navegar, mas ao chegar no meio do oceano ela sabia que algo estava errado pela forma que o navio balançou. Não demorou até que suas suspeitas fossem confirmadas quando Flint gritou que eram sirens. Elas pareciam mais violentas e dispostas, embora Blackmore fosse um navio gigante, se fossem muitas poderiam ter dificuldades em se livrar delas. Não conseguiu evitar olhar para Keith com preocupação nos olhos. Ele nunca havia lutado contra elas antes e para poder lutar contra era necessário chegar perto da beira, Amelie segurou seu rosto com os olhos preocupados.

— Lembre do que eu te disse, não chegue muito próximo ou elas irão te puxar para o mar e te afogar. E se você morrer, Keith Mildenhall, eu irei até as profundezas da morte pra te trazer de volta e te dar uma surra. — O beijou como se aquele fosse o último beijo entre os dois, encostando sua testa na dele em seguida. Olhou para ele uma última vez antes de puxar suas damas e correr para a beira do navio.

Diferente da maioria da tripulação, Amelie era imune à hipnose que elas causavam, então não era difícil pra ela conseguir lutar contra. Uma delas tentou se aproximar, mas ela apenas enfiou sua espada em seu olho, atravessando seu crânio e a sereia caiu no mar, morta.

— NÃO DEIXEM ELAS CHEGAREM PERTO DE VOCÊS O SUFICIENTE PRA HIPNOTIZAREM!

Gritou para todos que estavam tentando lutar contra as sereias, que tentavam agarrá-los pra baixo ou hipnotizá-los. Como era uma desvantagem que a maioria da tripulação era masculina, pensou para si mesma. De alguma forma, tinha um pressentimento ruim sobre aquilo em seu âmago, sentia que algo ruim iria acontecer e esperava que não fosse com o homem que amava.

Tudo estava um caos, ninguém havia esperado por aquele ataque surpresa. Embora Keith estivesse se esforçando para matar quantas conseguissem, ainda haviam baixas, alguns homens, principalmente os mais inexperientes que nunca haviam lutando contra elas antes, foram puxados para o mar e ela sabia o que isso significava. Seu rosto estava em uma expressão de puro ódio enquanto ela observava o que acontecia ao seu redor. Ouvia Keith disparar sua arma e os outros homens lutando, algumas das tripulantes que eram mulheres, conseguiam derrubá-las com facilidade, mas parecia que ou eles não estavam acertando no lugar certo, porque as machucadas conseguiam voltar, ou haviam muitas.

Depois de desferir mais um golpe contra uma delas, enfiando a espada em sua mandíbula que atravessou sua cabeça inteira até chegar no cérebro e puxar de volta, deixando o corpo da siren cair na água, ela virou-se para a tripulação. Era patética a forma que alguns lutavam ou eram puxados. Tinha um pressentimento muito ruim que não conseguia evitar, aquilo estava a deixando desnorteada, seus pressentimentos sempre estavam certos.

— ACERTEM NA CABEÇA, ATRAVESSEM ATÉ CHEGAR NO CÉREBRO OU ELAS VÃO VOLTAR! — Gritou para a tripulação que pareceu assentir. Parecia tão óbvio para ela que Amelie suspirou frustrada, mas sabia que não era fácil lutar contra aqueles monstros e sabia que para alguns ali era a primeira vez lutando com elas.

Procurou por Keith no meio da multidão e ele parecia estar procurando por ela também, seus olhos se encontraram e ela assentiu com a cabeça, com o olhar preocupado. Talvez tenha sido a primeira vez que ele a vira com aquela expressão, mas ela não conseguia esconder seus sentimentos, principalmente dele. Seu coração batia acelerado enquanto aquela sensação agonizante a dominava, não podia perder o foco então voltou para a beira do convés, uma delas tentou usar seu canto para hipnotizá-la, mas ela apenas riu alto.

— Isso não funciona comigo, verme.

E enfiou a espada em seu olho, pressionando para que perfurasse forte o bastante para atingir seu cérebro e a siren caiu na água, morta. Ela olhou para o mar e parecia que agora os tripulantes sabiam o que fazer, então a quantidade ia consequentemente diminuindo. Amelie deixou um rastro de esperança se apossar de si, um grande erro, se afastou da beira esperando que mais uma aparecesse à sua frente.

Amelie estava distraída matando uma sirene para não perceber o que estava acontecendo próximo à ela no convés, quando terminou de matar a sirene, buscou Keith com os olhos, ele tentava afastar um dos tripulantes de perto da ponta do convés, parecia que ninguém a escutava. Voltou sua atenção para o resto da tripulação, havia perdido alguns durante o processo, mas em um ataque de sirenes aquilo era normal. Ofegou segurando sua espada firme, faltava pouco para aquilo acabar, até mesmo Flint que também estava lutando parecia convencido que eles estavam ganhando aquela batalha. Ela deixou os ombros relaxarem, talvez seus pressentimentos estivessem errados pela primeira vez.

Foi quando viu, não muito longe, Keith extremamente na beira, sendo segurado apenas pela madeira do convés e uma sirene o hipnotizando. Seu mundo parou, suas mãos começaram a tremer, ela não conseguia sair do lugar, não conseguia se mover, tudo o que passava em sua cabeça era que ele estava de encontro com a própria morte e não tinha nada que ela pudesse fazer. Seu coração batia tão rápido que parecia que iria explodir, no meio de todo aquele caos tudo o que ela conseguia ver era o homem de sua vida indo embora. De repente conseguiu se recompor por puro ódio, ódio da situação, ódio daqueles monstros, ódio até mesmo de Keith por ter tido a capacidade de ter chegado tão perto da beira mesmo ela dizendo várias vezes que ele não deveria.

— NÃO! — Seu grito não era mais mandão ou sério, seu grito era cheio de dor e desespero, ela correu até ele, desviando e empurrando todos em seu caminho o mais rápido que conseguiu, e Amelie era muito rápida. Conseguiu ver a sereia segurando a gola de seu sobretudo e seu desespero apenas aumentou, ela correu mais rápido, sem se importar com nada. Não poderia deixá-lo morrer, não havia vida sem ele, como iria continuar vivendo quando a pessoa que mais amou durante toda sua vida não estava mais ali, como iria continuar lutando se não iria haver mais nada para lutar... Seus olhos se encheram de lágrimas enquanto ela corria, tentando gritar seu nome, mas parecia que ele não a ouvia, completamente hipnotizado pelas garras da sirene.

Quando finalmente chegou até ele o puxou com toda força que tinha e a sirene parecia puxá-lo de volta, mas ela conseguiu puxá-lo e empurrá-lo no chão, onde ele caiu ainda desconcertado e confuso sobre o que estava acontecendo. Ela ia começar a gritar e dar broncas, falando sobre o que tinha dito a ele, estava com tanta raiva, mas havia conseguido afastá-lo da ponta do convés, onde ele lentamente recobrava a consciência. Aquelas vadias eram mesmo poderosas. Ele estava caído no chão tentando se levantar e ela iria até ele, mas não havia se dado conta de que agora estava no mesmo lugar que ele estivera, e o pior, de costas. Seus olhos se encontraram e ela iria falar alguma coisa até que as garras da mesma sirene a puxou por seu sobretudo, seus olhos se arregalaram e tudo aconteceu muito rápido, a sirene a puxou com tanta força que seu chapéu caiu e ela perdeu o equilíbrio, tudo o que conseguiu fazer antes de ser puxada foi segurar sua espada com força em um ato instintivo, não percebera que havia feito aquilo. Mas a sirene a puxou e ela caiu dentro do mar, de olhos abertos, havia esquecido de respirar então tinha pouco oxigênio. Tudo o que conseguia ver agora era a água que queimava seus olhos e Blackmore ficando para trás.

Embora estivesse embaixo da água conseguia ouvir os gritos de Keith vindo do navio, ele gritava tão alto que era quase impossível não ouvir. Seus olhos ardiam com a água salgada e ela tentou respirar, mas apenas inspirou água, água salgada que entrou em seus pulmões e fez ela se remexer enquanto era puxada para baixo. Era difícil ver qualquer coisa com seus olhos ardendo, mas precisava focar em ficar viva porque sabia que se ela não voltasse, Keith iria se jogar também e o simples pensamento a fez se desesperar por dentro. Tentou se desvencilhar das garras da sirene, mas ela continuava a puxando para baixo por seu sobretudo. Segurou sua espada com força e com muita dificuldade conseguiu pegar sua outra espada que estava em seu sobretudo e desfazer o cinto. Não tinha muito tempo pois já lhe faltava oxigênio, precisava ser rápida. Se desfez de seu sobretudo o mais rápido que conseguiu, o que era uma pena porque ela amava aquele e a siren agora só puxava uma peça de roupa para baixo. Ela começou a nadar para a superfície, lhe faltava ar, estava engolindo muita água, se não fosse rápida o suficiente iria acabar se afogando. Seus olhos ardiam tanto que ela precisou fechá-los, agora só usava uma camisa longa preta e calças, se sentia desprotegida sem seu sobretudo. Uma siren a puxou pelo braço tentando arranhá-la com suas garras, ela segurou sua espada e enfiou no olho da criatura, a água se encheu de sangue já que ela estava perto da superfície, mas ela não podia parar. Continuou nadando até chegar na superfície, olhou em volta e viu que já não haviam tantas sirenes na superfície ou tentando atacar o navio. Não achava que conseguiriam vê-la porque ela nadou para perto demais do navio e começou a subir pelas cordas que ficavam ao redor, sem perder tempo para respirar, precisava sair do alcança das sirenes o mais rápido possível ou seria levada de volta para o mar e dessa vez ela não iria conseguir escapar.



Começou a escalar pelas cordas que eram trançadas em vários X para ajudar a tripulação caso eles caíssem na água ou precisassem chegar muito perto para fazer algum reparo. Suas mãos estavam cansadas e ela havia guardado suas espadas em sua calça, não sabia de que lado estava subindo, apenas que precisava subir. Uma das sirenes tentou puxá-la novamente, mas elas apenas a chutou com a maior força que conseguiu, várias vezes e ela caiu de volta na água. Amelie subiu pelo lado oposto de onde havia caído, se jogou dentro do convés completamente ensopada e começou a tossir toda a água que tinha engolido, colocando para fora de seu organismo. Deitou-se para cima e conseguiu ouvir uma comoção do lado oposto. Ela continuou de olhos fechados, tentando puxar o máximo de oxigênio que conseguiu, esperando seus olhos pararem de doer.

— Amelie! — Ouviu a voz de uma mulher gritando e se aproximando. Ela não conseguiu responder, lutar com uma sirene dentro da água havia sido a coisa mais difícil que já tinha feito e seus braços doíam. A mulher, que era uma tripulante, segurou seu rosto para constatar que ela estava respirando. — CAPITÃO, AMELIE ESTÁ AQUI! — Ela gritou alto para que Flint pudesse ouvir, mas em sua mente tudo o que conseguia pensar era em Keith, ela estava feliz por ter salvado sua vida, mesmo que tivesse quase morrido no processo.

Tossiu mais uma vez e a última camada de água do mar saiu de seu estômago, ela caiu novamente na madeira dura do convés, batendo a cabeça dessa vez, o que doeu, mas ela não disse nada. Conseguiu abrir os olhos com dificuldade, olhando o céu azul e aberto no céu. Ofegava tentando recobrar a respiração até que sentiu Keith a segurando nos braços, a abraçando. Ele chorava como se uma tempestade houvesse se formado dentro dele, se desculpava, mas ela não entendia. Quando ele se afastou ela quase reclamou, mas percebeu que ele estava procurando ferimentos. Ela respirou fundo.

— Não foi culpa sua, eu deveria ter percebido que estava muito perto da borda, baixei a guarda... — Sua voz estava rouca pela quantidade de água salgada que havia ingerido, mas assim que recobrou completamente a consciência deu um tapa em seu rosto. — Mas o que você estava pensando?! O que caralhos aconteceu?! — Agora ela estava com raiva, não necessariamente dele, mas de toda aquela situação. Franziu o cenho com os olhos marejados de lágrimas e o abraçou com força. — Eu pensei que nunca mais ia te ver de novo... — Ela tentava esconder o soluço, mas suas lágrimas a denunciaram. — Quando eu te vi quase caindo do navio eu achei que nunca mais ia te ver de novo, seu imbecil! — Não queria ofendê-lo com suas palavras, mas não conseguia evitar. O abraçou com mais força embora seus braços doessem.

Ela o abraçou mais forte enquanto ele chorava, sentia toda a dor que ele sentia, mesmo que não conseguisse sentir de verdade. Vê-lo daquele jeito só fazia seu coração apertar mais, odiava vê-lo chorando, mas ela também estava, só que tentou esconder. Ouviu suas palavras com atenção.

— Não foi culpa sua, se tiver alguém pra culpar, culpe aquele merda. Você apenas tentou ajudar, eu vou encher aquele filho da puta de porrada. — Embora estivesse com raiva, segurou seu rosto e olhou em seus olhos. Percebeu a marca que havia deixado e se arrependeu amargamente de ter lhe dado um tapa, não havia sido sua intenção lhe machucar, mas ela não conseguia se controlar quando estava com raiva. — Desculpa por ter batido em você, amor. Eu não queria te machucar. — Agora era ela que chorava copiosamente, passando a mão pelo lugar onde a marca havia ficado. Se perguntou diversas vezes se ele merecia alguém como ela, que a qualquer deslize simplesmente surtava, ela sempre havia sido assim. — Da próxima vez apenas deixe esses imbecis fazerem o que quiserem, se eles querem morrer, deixe-os morrer. Eu sei que você tentou ajudar, mas algumas pessoas não merecem ser salvas. — Sua voz estava séria e seu semblante agora estava com uma expressão de ódio. — Me mostre quem é, eu vou encher esse merda de porrada até ele esquecer o próprio nome. — Se levantou com um pouco de dificuldade, mas decidida e quando Amelie estava decidida a fazer alguma coisa, sua cabeça era dura demais para fazê-la mudar de ideia.

Amelie estava com tanta raiva que seu rosto bronzeado pelo sol ficou completamente vermelho, ela olhou o homem que tinha cabelos ruivos e uma barba ruiva densa. Era ele, o causador de tudo aquilo. Ela fechou o punho, queria tanto matá-lo, mas sabia que não podia, ele era um membro da tripulação, embora fosse completamente imbecil e inútil, Flint iria ficar com muita raiva se ela o matasse, mas ele estava ocupado demais guiando outros tripulantes para acabar com as últimas sirens que restaram. Ela começou a caminhar em direção ao homem com os punhos fechados, ouvindo Keith vir atrás dela. Ele sabia que não poderia pará-la, ninguém poderia pará-la naquele momento, ela estava com muita raiva, tanta raiva que transparecia até em seus olhos azuis, que contrastavam perfeitamente com o oceano que estava em volta deles. Começou a caminhar de uma maneira que os outros tripulantes simplesmente saíram de seu caminho, não era um andar rápido, ela não tinha pressa. O homem parecia estar ocupado erguendo as velas. Ela o fitou com um olhar mortal. Quando chegou perto dele, simplesmente parou, estava ensopada, mas não se importava.

— Olá, verme. — O homem parou quando ouviu sua voz. Ao olhar para ela, fitou seu olhar com os olhos verdes. Ele olhou para os lados em busca de algo, talvez algum apoio, mas todos à sua volta simplesmente se afastaram.

— Desculpe, eu entendi certo? — Sua voz falhou, ela percebeu que ele estava com medo.

— Eu não costumo fazer isso com minha própria tripulação, mas acho que deveríamos ter uma conversinha. — Seu olhar mortal fitava os olhos dele, ele engoliu em seco. Não conhecia Amelie, mas os outros conheciam e sabiam o que ela queria dizer com "conversinha". Todos ao redor paravam para observar ficando longe o suficiente. — Eu acredito que foi você que estava hipnotizado por uma siren, estou certa? — Ele assentiu com a cabeça, hesitante.

— Não foi culpa minha... É minha primeira vez à bordo, eu só queria ajud-... — Amelie estalou a língua, se aproximando mais, ele recuou dois passos.

— Não, a culpa foi toda sua e agora teremos uma conversa particular, só eu e você. — Sua voz estava ríspida, seu olhar cheio de ódio. Viu que o homem inexperiente tremia, não por frio, pois era um dia ensolarado, mas por medo. Ela conseguia colocar medo em qualquer pessoa apenas com aquela expressão. Se aproximou mais rápido do que ele conseguiu recuar e desferiu um soco em seu rosto, tão forte que fez ele cair no chão. Andou lentamente ao redor dele enquanto ele se recuperava do soco e chutou o outro lado do seu rosto com toda força que conseguiu. Embora seus braços doessem e ela estivesse cansada por ter lutado frente a frente contra sirenes, seu ódio era maior. Ele tentou falar alguma coisa, mas ela apenas subiu em cima dele e começou a socá-lo de novo e de novo com toda força que conseguia, guiada pela raiva e não pela razão. Começou a desferir tantos socos que ouviu o nariz do homem quebrar, mas não parou, mirou em seus olhos e continuou o socando, suas próprias mãos agora encharcadas de sangue, ela sentiu seus dedos doerem com a força que o socava, mas não parou. Nada podia pará-la naquele momento, estava com tanta raiva que não conseguia pensar, apenas descontar todo o seu ódio naquele homem. A cada soco que dava ele gemia de dor, a cada soco que dava ela sentia seus dedos doerem, mas sua raiva era tanta que não se importava com a própria dor que sentia. Continuou o socando com toda força que encontrava em seu corpo, o sangue dele agora sujando seu rosto, o homem estava prestes a desmaiar quando ouviu um grito.

— AMELIE! — A voz de Flint ecoou em sua cabeça, mas ela não parou até que ele a puxou, afastando-a do homem que agora se contorcia em dor no convés. — Que porra você tá fazendo?! — Percebeu que Flint não havia percebido nada que havia acontecido porque estava distraído demais lidando a tripulação. Ele olhou para sua roupa com os olhos confusos e percebeu que ela estava ensopada. Ela tentou se soltar dos braços do homem, mas ele era mais forte que ela e conseguiu imobilizá-la. — FILHA! — Ele gritou por fim, enquanto ela se contorcia querendo voltar a bater, mas ao ouvir sua voz a chamando ela parou. Todos do convés pararam quando ele gritou aquela palavra. Ele era ruivo assim como ela, embora tivesse a cabeça raspada, sua barba não estava. Alguns pensaram até que ele era seu pai biológico. Ela se virou para Flint com o rosto cheio de ódio e quase o socou, mas suas mãos ainda a seguravam.

— VOCÊ NÃO SABE DE NADA, FLINT! — Ela gritou completamente descontrolada. — ESSE MERDA IMBECIL SE DEIXOU LEVAR, KEITH TENTOU SALVÁ-LO E QUASE FOI MORTO, EU SALVEI KEITH E UMA DELAS ME PUXOU PRA O MAR. SE NÃO FOSSE POR MINHA FORÇA E INTELIGÊNCIA EU ESTARIA MORTA AGORA! ELE MERECE MUITO MAIS DO QUE ISSO... — Antes que pudesse continuar, Flint a abraçou, um abraço paternal, apertado. Ela não esperava por aquilo, ele a abraçou tão forte que ela mal conseguia respirar. Sentiu seu cabelo molhar com as lágrimas que ele deixou escapar. Sabia que Flint nunca demonstrava fraqueza, principalmente na frente da sua tripulação, mas Amelie era como sua filha e pensar em perdê-la fez seu coração apertar e doer como nunca havia sentido antes. Amelie começou a se acalmar sentindo o abraço de seu "pai", sabia o que aquilo significava pra ele, ela nunca havia visto ou sentido ele daquele jeito. Suas mãos ensanguentadas caíram e ela deixou se render no abraço. Ele murmurou apenas para que ela ouvisse, que não sabia do que tinha acontecido e que se soubesse teria arrancado os olhos do homem com as próprias mãos, mas que estava orgulhoso e feliz por ela estar viva. Amelie fechou os olhos também deixando as lágrimas escorrerem por seu rosto sujo de sangue. Nunca havia recebido aquele afeto dele daquela forma.

A luta havia acabado, o navio não balançava mais, todas as sirenes haviam sido derrotadas e agora todos apenas olhavam, alguns muito confusos, para a cena. Não havia mais motivos para lutar, agora eles iriam voltar para Hahle e festejar sua vitória.