A carruagem sacolejava conforme a sinuosa estrada ficava para trás. O interior era acolchoado, revestido com um tecido de um azul marinho muito escuro, tendendo ao negro tanto quanto a cor dos céus. Era o símbolo dos Beaufort, um fundo azul, sob uma caveira dourada de uma criatura mitológica, talvez um dragão.

Era um símbolo ameaçador ao mesmo tempo que cheio de nobreza. Ameaçar os inimigos com uma caveira de ouro significa tanto morte quando poder. Para Amy, significava um tipo de elo que já não lhe dizia muita coisa. Ela não era um soldado, apenas mais um elemento em toda a estrutura do coven. Sua existência era uma eterna suspensão. Ninguém da família a queria viva, mas nenhum deles a podia matar.

Apesar de ser uma das bruxas mais talentosas de todo o reino, mandavam-na buscar ervas junto aos fornecedores locais. Diziam que era importante que um gwrach conhecesse o lugar de onde retira suas ervas, mas Amy era uma especialista em magia do Akasha e na Conjuração e não em amassar plantas com um pilão. Mesmo assim, fazia o que mandavam pelo único motivo de que teria paz se estivesse longe de Beauville.

Chegou em Dubra ainda pela manhã e deixou para trás uma floresta quando finalmente chegou a fazenda. Ela havia ido sozinha, ninguém além do cocheiro, o jovem deformado Millestone. Ela ordenou que ele ficasse na carruagem e esperasse. Millestone não era um bruxo e sim um impuro. Uma mistura entre gwrach e humano, ele era capaz de fazer magia, mas ninguém jamais havia confiado nele para isso. Ele tinha uma deformidade que o deixava curvado para frente, diminuindo em alguns centímetros mais baixo e aleijando seu ombro esquerdo. O único trabalho que tinha força para executar era o de cocheiro e mesmo assim, sempre que precisava aparelhar os cavalos, sentia uma dor lascinante.

Amy não o achava simpático, mas não o desprezava. Mesmo assim, notava que talvez por corresponder com sorrisos, por vezes aquele homem a olhava de formas pouco lícitas. Ela fazia vista grossa para isso. Não queria arranjar problemas para o homem que não deveria ter outra forma de sobreviver. A única vez que expressou alguma preocupação, disseram-na que era paranoica.

Seus passos foram gentis, quase como se tivesse algum receio de ferir o gramado sob si. Vestia-se com um vestido azul celeste com três camadas de seda, que formava uma saia ondulante muito bonita, mas expunha seus ombros, visto que era segurado apenas por duas alças. Deveria encontrar-se com o fazendeiro ali, o homem que a receberia com as coisas que precisaria levar. Contudo, tudo aquilo se provou um pouco anticlimático. Após caminhar alguns minutos, não viu ninguém na parte frontal da fazenda. Ficou parada, esperou um pouco, mas decidiu dar a volta na casa, procurando por alguém que pudesse atendê-la.