(RP FECHADA) The Sea Will Calm You

Quando chegaram ao Blackmore, que estava atracado no porto de Hahle, estava chovendo um pouco, mas ela não se importava. Seus cabelos e roupas molhadas não a importavam, ela queria apenas ensinar Keith a ser como ela, para que se algum dia alguém invadisse o navio ou este fosse cercado por sirenes, ele soubesse como se defender e era algo que ele havia expressado várias vezes, essa vontade de melhorar, de ser melhor do que ele era, de se tornar um lutador também.

Então ela o levou até o navio, chovia levemente, não tanto quanto na noite anterior. Naquele ponto todos já sabiam que eles eram casados, o que a mantia mais calma, assim nenhum tripulante iria dar em cima dela como faziam anteriormente.

Entregou uma das suas espadas para Keith, ambos molhados de chuva no convés do navio e ergueu sua espada contra ele.

— Quando alguém erguer a espada contra você, você ergue de volta e avança. — Então avançou para cima dele, o surpeendendo, ele sabia que ela nunca iria machucá-lo, ela realmente nunca iria, era apenas um treinamento. Ele ergueu a espada e as duas espadas se cravaram.

— Você precisa ter força o suficiente pra me derrubar e colocar a espada na minha garganta,

Dizer aquilo parecia natural para ela, mas talvez não tanto para ele. As espadas se travaram várias vezes, ele caiu para trás em muitas delas e ela o ajudou a se levantar, mas logo voltou à posição original, pois nenhum inimigo iria ajudá-lo a se levantar. Segurou a espada entre os dedos enquanto circulava ele.

— Foco. Não pense em mim, apenas na espada.

Então avançou contra ele, que surpreendentemente conseguia segurar uma espada muito bem. Era mais forte do que parecia e ela tentava lutar contra o choque de ambas com grunhidos de frustração, mas não conseguiu. Keith realmente a surpeendia a cada dia que passava.

Ela recuou para trás, desviando de um ataque dele, ergueu a espada novamente e continuou a briga entre duas espadas gêmeas, que ela carregava com muito carinho.

— Você não pode deixar te travarem assim, se o fizerem dê um soco no rosto deles. Vai, dá um soco no meu rosto. — Ela sabia que isso era apenas treinamento e não significava nada, mas talvez ele não visse da mesma forma. Precisava fazer com ele visse, pois ele precisava aprender, mas não conseguia socar seu lindo rosto, apenas esperava por uma reação.
4

Amelie ergueu a espada e o viu a socar como se ela não fosse nada. Riu de sua reação, mas entendia, também não conseguia machucá-lo. Porém ele precisava de algum incentivo, então ela bateu com a espada em sua cabeça.

— Quando eles tiverem aqui, não vão ser eu, vão ser outros monstros.. — Bater nele a machucava também, mas ela precisava ensiná-lo a se desprender do que sentia por ela e agir como um real tripulante. Flint estava observando tudo, quando ele não estava era um momento muito raro. Ela olhou para ele que olhava do topo do convés em relance e olhou para Keith novamente.

— Quando te atacarem eles não vão querer saber quem você é ou o que você fez, eles vão querer apenas te matar, então foque no meu rosto e me dê um soco de verdade.

Imaginou que ele não conseguiria, mas novamente, Keith a surpreendia a cada dia que passava. Ele conseguiu dar um soco em seu rosto, com dificuldade, mas após o soco ela se movimentou para trás, para mais longe dele.

— Você precisa aprender a socar mais forte, mas quando perceberem que você se protegeu, eles vão recuar e então atacar novamente.

Avançou de novo contra ele, o derrubando no chão. Ela não poderia estar desprotegido, precisava aprender a proteger a si mesmo. Então ela gritou e todos os membros da tripulação estavam ao lado deles. Era como um grito primordial que imitava aves, mas continuou mesmo assim.

— Quando eles te pegarem, pense apenas nas armas que você carrega, não pense em mim por um minuto, você precisa aprender a se defender.

Sua voz saiu séria e ela o levantou novamente, Vendo todos aqueles homens de preto ao sei redor deveria trazer medo, mas ela continuou mesmo assim.

—Foco na espada que você carrega, avança contra mim.

Sabia que ele se se sentiria mal com isto, mas insistiu mesmo assim, desviando das suas tentativas contra a espada. Seu rosto corou quando ela percebeu que ele estava realmente investido naquilo. Soltou uma risada brincalhona e continuou, vendo que ele ainda não estava pronto para uma batalha.

—Foco na espada!

Repetiu novamente e avançou contra Keith, tentando fazê-lo vê-la não como sua esposa, mas como um inimigo que ele odiava.

—Tente ver quem você mais odeia nesse mundo e lute contra eçe!

Seu incentivo pareceu dar certo, pois ele mudou completamente de atitude, o que a fez se animar ainda mais. Ele foi contra sua espada e ela foi conta a dele, numa luta que parecia eterna entre dois amantes.

— Veja quem você odeia mais e imagine que você está cravando uma espada em seu pescoço!

Tentou segurar a espada contra a que ele usava, mas foi inútil, ela foi derrubada no chão. Gritou vitoriosamente e todos da tripulação aplauidram, ela começou a virar-se do lado contrário de Keith ainda com a espada em mãos e avançou contra ele, que segurou muito bem sua espada.

— Veja quem você mais odeia,,,

Segurou a espada contra a espada dele, por ser homem.

— E crave espada em seu pescoço...

Era ruim ensiná-lo a lutar e vê-lo não ter coragem para defender a si mesmo e até mesmo ela, Os fios dourados agora estavam encharcados pela chuva, Ela riu para tentar tirá-lo de seu frenesi,

— Você está indo muito nem, meu amor, agora de novo!

Exclamou levantando-se e apontando a espada para ele. Ninguém teria a coragem ou o frenesi que ele apresentou diante daquele treino, estva orgulhosa delel com um sorriso no rosto ainda assim continuou.

Amelie continuou o treinando, ele parecia melhorar muito com seus incentivos, começou a lutar com mais raiva, o que a animou muito e pareceu animar a todos da tripulação, olhou de relance para Flint que tinha um sorriso no rosto. Desviava de seus avanços com facilidade, mas ele sempre conseguia alcançá-la hora ou outra. O navio estava no mar agora, um pouco distante do porto, eles não podiam ficar atracados no porto por muito tempo por conta dos vigilantes, então sempre estavam no mar ou em alto mar. O navio agora balançava, mas ele conseguiu mostrar um bom equilíbrio, até que ele se deu por vencido, talvez estivesse cansado, Amelie riu. O cheiro de peixe agora havia sido substituído pelo cheiro do mar, o que a acalmava. Ouviu suas perguntas, mas não respondeu, apenas avançou contra ele e lhe deu um soco no rosto, não muito forte, respondendo junto:

— Quinze. — Ele ficou um pouco desnorteado com o soco, mas ela o puxou para levantar-se novamente.

— Ainda não acabamos. Vamos, continue.

Ela soltou a espada no chão, o incentivando a fazer o mesmo.

— Se você deixar sua espada ou arma de fogo cair, vai ter que continuar lutando. Lute comigo. Uma luta corporal.

Ela avançou contra ele novamente e lhe deu um chute leve no torso. Em seguida se afastou, começando a caminhar ao seu redor.

— Você não pode deixar te atacarem assim, você precisa me paralisar.

A simples ideia de machucar Keith, o homem que amava, lhe trazia náusea, mas ela continuou. Deu outro soco leve no outro lado do seu rosto.

—Você precisa avançar contra mim e me paralisar antes que eu te paralise e quando me paralisar, precisa me sufocar.

Sabia que ele iria ir contra a ideia, mas o relembrou:

—Eles não vão ter piedade. Imagine quem você mais odeia de novo e avance contra mim, de verdade!

As últimas palavras saíram mais como um grito do que como uma exclamação.

Amelie sentiu-o envolver o braço por seu pescoço enquanto ela tentava se desvencilhar. Segurou seu braço com a mão tentando puxá-lo para tirá-lo do seu pescoço, mas ele era mais forte do que parecia. Ela era um pouco mais baixa do que ele então conseguiu dar uma cabeçada que o nocauteou para trás, esperava que não houvesse o machucado muito. Virou-se para ele e avançou o derrubando no chão e subindo em cima dele.

— Desculpa, amor. — Sua voz era gentil, mas carregava um pouco de remorso, principalmente pelo que ela estava prestes a fazer. Desferiu um soco contra seu rosto, do mesmo lado, dessa vez um pouco mais forte e colocou as mãos ao redor do seu pescoço, começando a sufocá-lo, mas não de verdade, não na parte que o ar passa. Segurava seu pescoço com força.

— Você precisa se soltar de alguma forma e a única forma é me fazendo sentir dor. Eu sei que você não quer, mas precisa. Finge que eu sou a pessoa que você mais odeia de novo.

Continuou o sufocando, em cima dele, esperando sua reação.

— Você precisa!

Amelie continuou o sufocando e o ouviu dizer seu nome. Continuou o sufocando, seu peito doía por ter que machucá-lo, mas ele precisava aprender e era necessário. Dizia isso à si mesma enquanto estava em cima dele.

Mas de repente sentiu um soco em seu queixo, o que não foi forte, mas doeu, ela pendeu pra trás e quando ia voltar a sufocá-lo ele a derrubou no chão e subiu em cima dela. Amelie gargalhou de maneira divertida e ele conseguiu ir contra suas mãos e começar a sufocá-la, fazendo de volta o que ela estava fazendo nele.

— Isso! Aperta mais forte. — Riu sentindo os pingos da chuva ficarem mais fortes e se chocar contra seu rosto. Parecia uma maníaca, talvez fosse um pouco. Enquanto ele a sufocava ela murmurou alto o suficiente para apenas ele ouvir.

— Isso está me deixando molhada... Lá embaixo.

Riu novamente, ver Keith daquele jeito fazia coisas com ela, embora ela amasse o fato de ele ser sempre gentil e delicado, descobriu que amava quando ele era violento. Talvez até demais. Tentou se concentrar na luta novamente e colocou as mãos no seu rosto, apertando, tentando fazer ele sentir dor. O rosto tão lindo que ela amava tanto, agora tentava machucar. Engoliu em seco. Lembrou-se de que precisava.

— Não deixe que a dor te faça parar, você precisa me segurar assim por mais alguns minutos com toda força que tiver. Não se preocupe em me machucar, só continua.

Continuou tentando com as mãos e tentando chutá-lo, mas ele paralisou suas pernas com a dele, o que deixou seu corpo mais quente do que estava antes. Ele estava indo muito bem, ela estava impressionada, então riu novamente. Queria beijá-lo, mas não era hora para isso.

Ele conseguiu segurá-la por tempo o suficiente para matá-la caso estivesse bloqueando seu ar, o que a deixou orgulhosa. Quando ele parou e reclamou, ela percebeu que ele estava com raiva. Ela fez sinal para ele parar, tirando as mãos de seu rosto e se rendendo. Keith parou e com um pouco de dificuldade conseguiu se levantar, Amelie levantou também.

— Você foi ótimo, amor! — Riu correndo para seus braços e o abraçando. À esta altura já estavam em alto mar. — Estou orgulhosa de você. —  Ela passou a mão por seu rosto checando se ele estava muito machucado, não estava pois os socos que desferiu contra ele não foram tão fortes.

— Me desculpe por ter te ferido, foi necessário.

Com o cenho franzido segurou seu rosto, agora gentilmente, com as duas mãos e o beijou profundamente, não se importando com a tripulação que assistia e agora fazia barulhos estranhos, comemorando. Ele realmente havia ido muito bem contra uma pirata tão experiente, algo surpreendente. Ao se afastar, sussurrou em seu ouvido.

— Com a outra coisa você queria dizer me foder?

Voltou a olhar para ele com um sorriso brincalhão no rosto.

— VELAS! — Flint gritou do topo do convés, de repente tudo parou. Logo no primeiro dia de treinamento um navio apareceu.

— NÃO VAMOS ATACAR, VAMOS?! — Um dos tripulantes perguntou alto para que Flint ouvisse. Seu consultor lhe entregou um objeto que era usado para ver de longe.

— ELES ESTÃO VINDO EM NOSSA DIREÇÃO, É UM NAVIO PEQUENO, MAS TEM BANDEIRAS DO SEYMOR!  — Gritou para todos ouvirem. "Merda", ela pensou.  — PREPAREM-SE PARA LUTAR!

— Desculpa por isso, amor... — Ela franziu o cenho enquanto Blackmore erguia as velas para ir mais rápido em direção ao navio. — Você precisa ficar dentro.

Fez sinal para ele entrar, esperando que ele não quisesse lutar. Embora tenha se saído muito bem, estava preocupada que ele não conseguiria se sair bem numa batalha.

Os homens começaram a preparar os canhões, suas armas, pintar o rosto de preto. Amelie correu para pegar suas espadas e ajustou o chapéu voltando para Keith e o beijando novamente.

— Eu vou ficar bem.

Amelie arregalou os olhos quando o ouviu falar. Como ele iria lutar se aquele havia sido seu primeiro treino? Ele havia ido muito bem, surpreendentemente, mas ela estava com medo que em uma batalha real como a que iriam enfrentar ele não conseguisse.

— Amor... — Ouviu Flint gritar que eles se aproximavam em alta velocidade pelas ondas. — Você não pode lutar! Esse foi seu primeiro treinamento, e se acontecer alguma coisa com você? E se te machucarem de verdade? —  Ela viu em seus olhos que ele tinha determinação e não iria desistir, um bolo cresceu em sua garganta, seu coração pulsou mais rápido. E se acontecesse alguma coisa com ele? Aquele pensamento se repetia em sua cabeça de novo e de novo enquanto ela pensava, mas não tinha tempo para pensar ou tentar convencê-lo.

— Certo, mas não se afaste de mim.

Se deu por vencida e pegou sua espada das mãos dele.

— Eu vou precisar das duas.

As guardou em sua cintura novamente e caminhou até uma espada que estava no chão, o entregando, com o cenho franzido.

— Por favor, fique perto de mim... — Seus olhos agora estavam molhados de lágrimas. Ela não conseguia imaginar perdê-lo. — Você trouxe sua arma, não trouxe? —  Esperava que ele houvesse se lembrado de trazer, se tivesse e conseguisse, não iria precisar lutar de perto. Suas mãos estavam tremendo quando lhe entregou a espada.

— SE PREPAREM, ELES ESTÃO SE APROXIMANDO! — Flint gritou do topo do convés novamente. Olhou em seu objeto novamente, agora que estavam mais perto podia ver que era um navio com poucos tripulantes, talvez 50, e Blackmore tinha mais de cem. Que loucos eram aqueles que iriam atacar um navio tão grande com uma tripulação tão pequena? Ele se perguntou, talvez fosse apenas vingança e eles não tivessem medo de morrer. — ESSES LOUCOS TEM UMA TRIPULAÇÃO QUE É METADE DA NOSSA E A EMBARCAÇÃO É PEQUENA, AINDA ASSIM, SE PREPAREM! ELES VEM COM SEDE DE VINGANÇA!

Amelie engoliu em seco, era uma boa notícia que eram poucos homens e a embarcação pequena, mas era uma má notícia que eles provavelmente estariam com muita raiva e a raiva faz muita coisa. Os navios se aproximaram e ela sentiu o impacto enquanto começaram a disparar os canhões. Era muito barulho. Os homens de Blackmore miraram contra os homens de Seymour e começaram a atirar com suas armas, alguns foram acertados e caíram para trás.

Amelie não percebeu quando Flint desceu, tirando sua espada, ele sempre lutava e era um ótimo lutador, muito melhor do que ela até. Ele parou em frente aos dois e indagou:

— Amelie, o que está acontecendo? — Flint perguntou, olhando para Keith e depois para Amelie que estava visivelmente alterada.

— Ele quer lutar, mas... — Antes que pudesse terminar, com as palavras trêmulas, Flint virou-se para Keith. — Você foi ótimo, garoto, me surpreendeu, bom trabalho.

Ele sorriu para Keith e depois virou-se para Amelie de novo. A fez virar-se para ele e a abraçou como um pai abraça uma filha. Ela era como uma filha para ele, o afeto que sentia por ela era o mesmo de um pai.

— Não se preocupe, minha criança... — A afastou, segurando seus ombros, depois de um abraço apertado. — Lembre do que eu te ensinei desde o início, não foque em nada além do inimigo à sua frente. — Olhou para Keith ao dizer isso, pois ele também precisava ouvir aquilo. — Pelo jeito eles vão conseguir atracar o navio, vamos deixar eles entrarem e cercaremos. São metade, poucos homens, provavelmente inexperientes. — Deu um beijo no topo da cabeça de Amelie, ou melhor, em seu chapéu e se afastou, dando as instruções aos homens de seguir aquele plano. Flint era muito inteligente, isso sempre impressionava Amelie, como um homem tão inteligente havia se tornado um pirata.

Virou-se para Keith e segurou seu rosto, num impulso, o beijando, mas não era um beijo qualquer, era um beijo cheio de paixão. Ao afastar os lábios manteve suas testas grudadas.

— Eu te amo. Fique perto de mim o tempo todo, não se afaste.

Disse aquilo com os olhos ainda molhados de choro, o nariz agora vermelho. Suas mãos ainda tremiam enquanto pousavam no rosto do homem que amava.

Os homens de Seymour logo invadiram o navio, achando que estavam em vantagem, mas foram encurralados completamente pelos tripulantes do Blackmore. Eles o cercaram, não deixando nenhum sair enquanto os canhões bombeavam por completo o navio deles. Então a batalha começou, usualmente sempre avançavam em Amelie primeiro por ela ser até então a única mulher do navio que lutava, mas logo eram surpreendidos por uma pirata extremamente habilidosa. Suas espadas travaram-se contra a espada de um dos homens, ela começou a lutar segurando com forças suas damas. Ela lhe deu um chute entre as pernas e ele gritou de dor, recuando para trás, lhe dando o espaço que precisava para dilacerar seu intestino com as espadas. Era bom usar as duas, pois elas eram leves e ela podia sair cortando duplamente.

Um dos homens de Seymour cravou os olhos nela e avançou contra, ela se levantou rapidamente, dando alguns passos para trás enquanto ele corria em sua direção. Quando as espadas se travaram ela notou que ele era muito forte, mais forte do que o outro, iria conseguir desarmá-la, então ela precisava de outra estratégia. Passou a perna rapidamente contra suas pernas de maneira inesperada e ele caiu no chão. Então foi para cima dele, começando a sufocá-lo, dessa vez sufocando de verdade, ela pressionou com toda a força que tinha enquanto ele socava seu rosto, um soco bem forte que a fez cuspir sangue no chão, mas ela não tirou as mãos do pescoço dele, estava determinada a matar aquele homem custe o que custasse. Quando percebeu que seus olhos estavam começando a se fechar e ele perdia a resistência, ela apertou ainda mais, tanto que suas mãos doíam. Enfim, ele morreu, havia conseguido matá-lo e só para ter certeza cravou sua adaga no pescoço dele, o sangue espirrou em seu rosto, mas ela não se importou.

Procurou Keith com os olhos e o encontrou lutando com um homem, ele estava indo muito bem. Ela sorriu e levantou-se num pulo, tirando as espadas da cintura e indo para seu lado. Outro homem avançou contra ela, mas ela manteve a posição próxima a Keith, não podia deixá-lo sozinho naquela luta, caso o homem o derrubasse, estava pronta para arriscar sua vida o matando.

— Mire na barriga! — Exclamou alto o suficiente para que ele pudesse ouvir. — Quando ele lhe der espaço enfie a espada na barriga dele com toda sua força!  

De repente a chuva começou a ficar mais forte, como se o céu soubesse do que acontecia, mas não era uma tempestade. Amelie estava ensopada, mas manteve a posição e começou o combate com o outro homem que foi fácil de matar. Enquanto lutavam ele fez uma piada sobre ela ser mulher e estar lutando, o que a fez atacar com mais raiva ainda e quando enfiou a espada em seu estômago e cravou mais fundo, se aproximando do rosto dele.

— Você não sabe quem eu sou, seu merda!

Gritou tirou a espada de seu estômago o chutando para trás, ele caiu morrendo no chão, então ela cravou a espada novamente agora em seu olho, profundo o suficiente para acertar seu cerebro e ele morreu. Não tiveram muitos homens para lutar, mas de tempo em tempo ela olhava para Keith, que retribuía o olhar com rapidez, pois precisavam continuar lutando.

Logo, com toda a tripulação do Blackmore lutando conseguiram matar todos eles. Começaram a comemorar com gritos estranhos e ela caiu ajoelhada no chão com o rosto cheio de sangue.

— QUEIMEM O NAVIO DELES E JOGUEM SEUS CORPOS NO MAR! — Flint gritou depois que tudo terminou e os homens começaram a fazê-lo, afinal eram só, literalmente, peso morto no navio. Ele caminhou até os dois, vendo que Amelie estava no chão se dirigiu a Keith. — Você tem talento, garoto, fez muito bem! — Deu dois tapas em seu ombro sorrindo para ele e depois se virou para Amelie, caminhando até ela. — Filha... — Antes que ele pudesse continuar e se aproximar mais ela fez sinal com a mão para ele parar, ofegante, tentando recobrar a respiração enquanto olhava para o nada com o rosto cheio de sangue.

O laço entre Flint e Amelie havia se tornado maior depois do que aconteceu com ela. Ele sempre a viu como a filha que nunca teve, mas agora, depois de quase perdê-la, sentia que precisava demonstrar esses sentimentos, embora ele não fosse um homem que demonstra o que sente. Ele recuou, sorriu para Keith e saiu para continuar dando ordens à tripulação sobre como prosseguir.

Amelie continuou no chão olhando para seu próprio reflexo que se refletia na água da chuva, batendo contra a madeira do convés, tentando recuperar a respiração. O soco que havia tomado tinha sido muito forte e ela cuspiu sangue novamente, tentando ajustar sua mandíbula, o que só fez doer mais. Engoliu em seco e continuou ali. Não sabia porquê estava ali, talvez se sentisse culpada por Keith ter que lutar em seu primeiro dia de treinamento e passar por um perigo imenso, ela ofegava tentando recobrar a respiração gradualmente com longas puxadas de ar.

Amelie cuspiu mais um pouco de sangue enquanto tentava se recuperar, com respirações pesadas. Seu rosto inteiro doía pelo soco que levou e seu nariz sangrava, mas continuava de cabeça baixa enquanto observava os pingos de sangue se misturarem com a água da chuva.

Não havia percebido que Keith havia se aproximado até que ele falou, ela tirou o chapéu o que quase nunca fazia, agora com os cabelos grudando no rosto que era lavado pela chuva, o sangue do homem que matou, que havia ensopado seu rosto, estava quase completamente limpo. Perdida em seus próprios pensamentos demorou até perceber que Keith estava falando com ela. Levantou a cabeça o suficiente para olhá-lo e cuspiu mais sangue no chão, passando a mão por seu nariz para tentar limpá-lo. Não queria que ele se preocupasse.

— Eu estou bem. — Sua resposta saiu um pouco fria, com um tom de tristeza aparente. — Foi só um soco no rosto.  

Um soco que provavelmente havia deixado uma marca em seu rosto, ela respirou fundo e voltou a olhar para baixo.

— Isso foi culpa minha, eu não deveria ter te trazido pra treinar logo hoje...

O resto da frase engasgou em sua garganta. Ela ouvia Flint gritando ao longe, ouvia corpos sendo jogados no mar e o cheiro de fogo, já que haviam incediado o navio deles. Tudo parecia um borrão, tudo que ela conseguia pensar era em como aquilo havia sido sua culpa, se não tivesse o trazido para treinar no navio naquele dia, aquilo não teria acontecido. O pensamento de culpa continuava se repetindo em sua mente até que ela ergueu os olhos o suficiente para ver que ele havia se machucado, o que apenas piorou a situação.

— O que foi isso?!

Seus olhos arregalaram, abaixando o sobretudo de Keith no braço onde ele havia se cortado o suficiente para ver o corte através da camisa branca que ele usava por baixo do sobretudo.

"A culpa foi minha, a culpa foi minha..."

O pensamento continuava, agora mais alto em sua cabeça, ela desabou com apenas as duas mãos sustentando seu corpo, de joelhos. Seus pensamentos estavam nublados, era como se ela não estivesse ali. Não conseguia sequer limpar seu nariz dessa vez então o sangue continuava pingando, não conseguia sentir a dor em seu nariz ou seu rosto, estava dormente como se estivesse em um lugar muito distante dentro da sua própria cabeça.

Amelie parecia ouvir tudo como um borrão enquanto cerrava os punhos que sustentavam seu corpo, caso falhasse iria acabar caindo em cima de Keith e não era isso que ela queria, mas não conseguia pensar em mais nada. Não sabia o que estava acontecendo, era como se houvesse caído em um oceano profundo de onde não conseguia sair, tudo ao seu redor era um borrão, todas as vozes pareciam ecos em sua cabeça, nunca havia ficado em um estado emocional tão estranho como aquele.

E tudo porque a pessoa que mais amava havia se machucado por sua causa. Repetia em sua cabeça sem conseguir lutar contra, várias vezes, a mesma coisa, que havia sido sua culpa, que eles deveriam ter ficado na estalagem em segurança e nada daquilo teria acontecido, pelo menos não com eles. De repente foi surpreendida pelas mãos e braços de Keith ao seu redor, ele a pegou nos braços e começou a caminhar. Amelie fechou os olhos, enterrando a cabeça em seu peito, sentindo as lágrimas descerem por seus olhos azuis. Quando ele a colocou na cama e começou a estancar o sangramento em seu nariz, ela se encolheu como uma concha, não conseguindo evitar as lágrimas que escorriam por seu rosto. Quando deu tempo o suficiente, ela tirou o pano do seu nariz e fungou, puxando o resto de sangue pra dentro, que logo estaria em sua boca.

— E aquele filho da puta te machucou. — Respondeu, num tom que era uma mistura de raiva e tristeza, arrependimento, culpa... — Poderíamos ter ficado na estalagem, poderíamos ter ficado... Nada disso teria acontecido se eu não tivesse...  

Não conseguiu terminar sua frase, os olhos estavam molhados de lágrimas e sua cabeça ainda estava nublada, mas ela estava mais sã agora.

— Desculpa, amor...

Colocou as mãos no rosto, mesmo sabendo que iria sujá-las com o sangue que ainda estava o manchando, e sujar o rosto com o sangue em suas mãos. Ele a deixava completamente vulnerável, ela mudava tanto quando se tratava de Keith que não se reconhecia, se aquilo houvesse acontecido com qualquer outra pessoa há meses atrás, ela mal se importaria, mas quando se tratava dele, quando estava com ele, tudo era diferente. Ele era sua fraqueza, com uma ação conseguia lhe levantar e com uma palavra conseguia lhe derrubar.

Ao ouvir suas palavras, ainda um pouco nubladas pela sua própria mente, ela percebeu que ele tinha razão. Keith tinha seus motivos para querer aprender a lutar, assim como ela tinha seus motivos para ensiná-lo e isso só parecia começar a fazer sentido agora. Se sentia boba por ter se sentido culpada, mas como não poderia, se ele havia se machucado, mesmo que um pouco? Também tinha sua razão para ter tido aquele mental breakdown depois da batalha, embora não soubesse muito bem o que havia acontecido. Era isso o que era amar, afinal, se preocupar com alguém mais do que você se preocupa consigo mesmo.

Quando sentiu seu abraço forte, ela o retribuiu, tirando as mãos do rosto e envolvendo ao seu redor. Ele era mais forte do que parecia, mais inteligente e capaz do que deixava transparecer por aquelas feições delicadas e frágeis. Enterrou a cabeça em seu pescoço e deixou-se se acalmar por seu abraço. Logo foi voltando à si, era como se seu toque fosse mágico. Ficaram assim por alguns minutos, abraçados, envolvidos nos braços um do outro até que ele falou novamente dizendo que a amava. Ela sorriu, ainda com a cabeça escondida por baixo de seus cabelos loiros.

— Eu também te amo. — Já não chorava mais, apenas sentia o gosto do sangue em sua boca. — Apesar de você ser insanamente inconsequente e surpreendente ao mesmo tempo, eu te amo com toda a minha vida.  

Quando ele a chamou de princesa pirata ela deixou uma risada escapar, o abraçando mais forte.

— Tô longe de ser uma princesa, amor.

Continuou naquele abraço que gostaria que durasse para sempre, mas sentiu o sangue que fungava de seu nariz descer mais ainda para sua boca e teve que afastá-lo, tentou afastá-lo gentilmente, e cuspiu o sangue no chão, limpando a boca em seguida.

— Aquele filho da puta realmente me acertou de jeito, acho que deslocou alguma coisa no meu nariz.

Amelie tocou seu nariz e começou a mexer nele, tentando movê-lo de um lado para o outro, o que doeu. Ele definitivamente havia deslocado alguma coisa em seu nariz, embora não parecesse externamente. Limpou a boca com a manga do sobretudo que estava molhado e deitou-se novamente. Ter sua presença ali, tão próxima, fazia ela querer beijá-lo e até mesmo algo mais, mas sabia que não estavam sozinhos e ambos estavam machucados.

— A gente precisa do Elliot, nós dois.

Ela avisou, olhando para seu corte no braço. Um olhar triste, a sensação de culpa veio novamente, mas ela tentou se lembrar de suas palavras. Ele havia ido muito bem e saído de uma batalha, sua primeira batalha, mal treinado, com apenas um corte, se isso fosse com qualquer outra pessoa, esta pessoa teria morrido na hora.

— Eu tô orgulhosa de você, amor. Você foi muito bem, impressionante, na verdade. Se eu não estivesse com a boca cheia de sangue te daria um beijo profundo pra demonstrar o quão orgulhosa eu estou.

Ela sorriu quando disse isso a ele, olhando em seus grandes olhos azuis. Passou a mão suja de sangue em seu rosto, ainda sorrindo apaixonadamente para ele.

Se surpreendeu quando ele a carregou nos braços novamente, foi um susto inesperado. Se segurou, envolvendo o braço em seu torso e apertando seu sobretudo com força. Sabia que ele não iria derrubá-la, ou pelo menos esperava que não, já que estava tudo molhado. Enterrou a cabeça nele novamente e fechou os olhos enquanto o sentia a carregando.

Quando ouviu o que ele disse, ela ficou pensativa por um tempo, era algo que ela não havia pensado antes, levantou a cabeça e fungou o sangue que descia do seu nariz, que desceu para sua boca. Ela engoliu dessa vez.

— É verdade, eu não tinha pensado nisso. — Ergueu a cabeça o suficiente para olhá-lo, ele era tão forte apesar de tudo, tão forte a carregando, isso a fez sorrir. — Você prefere Mildenhall ou podemos inventar um novo?  

Questionou, ainda sorrindo, embora seu nariz e seu rosto inteiro doesse. Ela fez uma careta de dor, mas continuou.

— Mildenhall é por conta do Flint, embora eu não o chame de pai, ele é como um pai pra mim e eu como uma filha pra ele, desde o início, quando eu tinha 15 anos. Ele me acolheu e cuidou de mim, me ensinou tudo que sabia, viu que eu tinha potencial de ser como ele, me mandava roubar coisas nas ruas de Hahle, eu me saía muito bem. Acho que depois do que aconteceu comigo, por quase me perder, Flint se tornou mais afetivo, como hoje, me abraçou, me chamou de filha, o que ele não costumava fazer.

Dessa vez cuspiu o sangue que fungava no chão, enquanto ainda era carregada por ele.

— Ele tem esse exterior frio e calculista porque precisa ser, quando você é líder de um navio como esse, mas no fundo ele tem um interior gentil e protetor. Talvez ele devesse ter sido meu pai de verdade, somos parecidos nisso.

Ela enterrou a cabeça perto de seu ombro agora.

— Mas podemos inventar outro se você quiser, você é o marido afinal.

Riu fechando os olhos e se agarrando mais à ele, enquanto procurava por Elliot. Se sentia segura em seus braços, como se o mundo inteiro não existisse e apenas eles dois estivessem ali, como se nada pudesse machucá-la, visualizou eles dois novamente na estalagem e tudo o que aconteceu. Queria repetir aquela noite, queria estar segura no mundo particular que eles criaram novamente. Queria sair do navio, mas para isso precisavam encontrar Elliot, que estava tomando conta dos feridos da tripulação no convés. Alguns tinham feridas graves e provavelmente não iriam sobreviver, alguns já haviam morrido embora Elliot tentasse de tudo através da chuva, salvá-los. Ele se deu por vencido no último e esboçou um olhar que dizia tudo o que o homem precisava saber. O homem sabia que ia morrer, mas não tinha medo em seus olhos, ele sorriu e pediu álcool, dizia que merecia pelo menos mais uma dose antes de partir. Amelie ergueu a cabeça olhando tudo aquilo. Não haviam muitos homens machucados o suficiente para estarem ali, mas ela ouvia o que o homem dizia, o que cortou seu coração. Ela o conhecia, franziu o cenho e voltou a enterrar a cabeça no peito de Keith novamente, não queria assisti-lo morrer.