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[QUEST] Fenris Andriel // MANTENDO A HARMONIA

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Mensagem por Wings of Despair Qua Fev 22, 2017 4:55 pm


Uma folha caiu no lago plácido, e pequenas ondas espalharam-se por toda superfície da água. O verão havia chegado há pouco tempo, e parecia que a floresta transpirava, contente, com o bem recebido calor, apesar da região um pouco mais fria. Os pássaros cantavam livres pelos céus verdes da floresta, raramente transitando para o céu azul acima do teto de folhas. O som de suas asas batendo contra o vento levantava as orelhas de um alce de chifres invertidos, que olhava para o alto e fechava os olhos, exatamente como o antigo elfo parado ao seu lado. O velho colocou a mão contra o corpo do enorme animal, que olhou em seus olhos antes de sair à passos lentos em direção a mata. O elfo acompanhou o movimento tranquilo do alce com os olhos, e apenas quando ele sumiu, o ancião virou-se para frente, para a vívida vila de Leore, tomada pelos galhos de inúmeras árvores mais antigas do que alguém poderia sequer lembrar das suas infâncias. Mas ele lembrava. Era apenas uma criança quando as árvores começaram a crescer ali. Lembrava delas no reflexo dos olhos do seu pai, encarando a vasta clareira vazia, preenchidos com o sonho de uma próspera cidade. Da última vez que vira seu pai ou a clareira, tudo não passava de uma simples fazenda, e hoje, para onde olhava, via pacatas habitações que se perdiam no meio das raízes das árvores, que formavam sinuosos túneis pelas ruas da vila.
Quanto mais fundo entrava em Leore, mais encantado o ancião ficava, e apesar de seu coração entristecer ao ver as muralhas de pedra erguidas como cautela aos ataques de lobisomens que infelizmente ocorriam na região de tempos em tempos, sentia-se pleno em ter retornado para as terras em que havia crescido. Resolveu caminhar por mais tempo e visitar os antigos lugares das redondezas em que passava os dias explorando. Queria ele ter vivido aqui até o resto dos seus dias. Teria evitado muita dor e sofrimento se estivesse com sua família, e agora, mais uma vez, a abandonou.


O patrulheiro andava de um lado para o outro enquanto Sylana subia nos galhos de uma árvore, na praça pública. A elfa olhou para os jovens caçadores, patrulheiros e guardas da cidade, e todos pararam o que estavam fazendo para ouvir o pronunciamento:
- Há cinco dias um ancião vindo do vilarejo de Fytla desapareceu nas redondezas daqui. Há relatos de que ele passou bem pouco tempo pela cidade. – Com essas palavras, Lasniel, o já conhecido vendedor de frutas da vila, acenou com a cabeça, confirmando, e Sylana continou – Seu filho viajou até aqui em busca do ancião, mas infelizmente não foi capaz de localizá-lo por não conhecer as matas daqui, por isso está oferecendo uma gentil recompensa em troca de qualquer notícia sobre o paradeiro de seu querido parente. Imaginei que algum jovem espirituoso se interessaria em encontrar o ancião, uma vez que é comum o ataque dos dentes de faca nessa época do ano, como vocês bem sabem. Seria lamentoso perder uma vida tão antiga, e permitir que uma calamidade aconteça é tão desonesto quanto causa-la.
O patrulheiro contorceu o rosto levemente enquanto Sylana descia da árvore, e sussurros tomavam a praça, com vários jovens elfos aventureiros partindo em direção às suas casas para buscar seus arcos e equipamentos. A jovial elfa se aproximou do nervoso patrulheiro:
- O que te incomoda tanto, Nias? – Ela murmurou, enquanto caminhava ao lado dele.
- A senhora sabe que eu deveria cuidar dos pronunciamentos, a capitã da patrulha local não deveria se incomodar com assuntos tão frívolos – O elfo sibilou, desviando o olhar. A capitã parou diante dele, movendo-se com graciosa agilidade.
- Quando o dia em que eu não puder lidar com assuntos frívolos chegar, será o dia em que eu terei perdido o meu caminho, Nias. Meu trabalho é certificar que nenhuma vida seja perdida dentro do nosso território, e qualquer tarefa relacionada a isso merece minha total atenção.  – Sylana respondeu em um tom firme de repreensão, mas baixo o suficiente para que apenas os dois pudessem ouvir.
- Desculpe-me, senhora. – O patrulheiro abaixou a cabeça, constrangido.
- Está tudo bem, – A capitã sorriu, continuando seu caminho – Venha, vamos cancelar as buscas.
- Cancelar? –
O elfo perguntou, confuso. – E o que foi tudo aquilo?
- Quatro dias, Nias. Os dentes de faca infelizmente já devem ter consumido grande parte do corpo do ancião.
- Acha que está relacionado aos corpos que encontramos nas últimas semanas? –
O patrulheiro apressou-se para acompanhar os passos largos da capitã.
- Do mês inteiro, inclusive os corpos dos alces. A época de controlar a mortalidade desses felinos chegou mais cedo do que esperávamos, e estamos pagando o preço da desarmonia. Isso agora é trabalho para um caçador.

Objetivos: Localizar e eliminar o grupo de dentes de faca descontrolados, trazendo harmonia à fauna das terras de Leore. ( K 250 )
Objetivo extra: Localizar o corpo do ancião e trazer algum pingente ou parte de sua roupa para mostrar ao seu filho, que aguarda na praça de Leore por alguma notícia. (K 300)
Local do objetivo: Redondezas florestais de Leore.


Wings of Despair
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Mensagem por Fenris Andriel Qua Mar 01, 2017 12:35 pm






The

Avenger

O dia amanhecera particularmente animado em Leore. O sol brilhava imponente por sobre a copa das árvores, lançando sombras por sobre a pequena vila. Uma cigarra gritava estridentemente por entre o canto dos pássaros, anunciando que a temperatura ia aumentar muito ainda. Um bom dia para caçar!  

Me dirigia para minha rotina de caça quando passei por Ev, que estava com seu semblante magoado. Aparentemente não me notara, tal era a concentração em seu próprio sofrimento.

Desde o dia em que meu pai morreu que não nos falávamos, não era algo exclusivo dele, eu não sentia vontade de abrir minha boca e emitir qualquer som para absolutamente ninguém, mas ele estava tomando tudo aquilo como uma ofensa pessoal e eu não estava com disposição para contrariá-lo. Tinha coisas mais importantes para fazer do que me preocupar com as crises sentimentais de um ficante covarde que bastava meu pai olhar feio para ele ir disfarçando e saindo à francesa.

Estava pronto para deixar a vila e me embrenhar na floresta, quando vi Sylana cruzar a praça, evitando os transeuntes que já saiam de suas casas para seus afazeres matutinos. Imaginei que fosse algum pronunciamento importante, talvez relacionado às preparações para a Lua de Sangue que se aproximava. Foi apenas por isso que hesitei no portão leste.

Quando ela terminou de dar seu anúncio eu estava já flexionando minhas pernas para o salto no galho mais próximo da muralha. Apenas porque eu conseguia, impulsionei meu corpo para o alto e, mesmo com o portão aberto, simplesmente saltei por sobre a muralha, agarrando um galho próximo do lado de fora e girando nele duas vezes, antes de finalmente pousar sobre um galho firme da seguinte.

Como sempre fazia, abaixei meu capuz, tornando-me oculto por sobre as matrizes bem elaboradas da tintura, que imitavam em muito a floresta ao meu redor, uma camuflagem bem eficiente, diga-se de passagem. Conferi minhas adagas, bem atadas acima das minhas nádegas. Meu ombro direito servia de apoio para o arco, herdado de meu falecido pai. A aljava estava bem atada as minhas costas, despontando por uma saída estratégica na capa. Estava devidamente pronto e na frente dos demais.

Inspirei fundo o ar da floresta, deixando os meus sentidos se ampliarem em meio ao meu habitat natural. Era como se, naquele momento eu deixasse de ser o Fenris, indivíduo, para simplesmente me tornar mais um pedaço daquela imensidão verde, uma partícula pequena, mas ainda importante e vital, no meio da coreografia perfeita que era todo aquele ecossistema.

Acima da minha cabeça, o teto verde que cobria toda o reino élfico me dava a segurança e confiança que eu usualmente usava para me locomover. Árvores que já habitavam ali há centenas de anos e que estariam ali milênios depois que eu morresse, suportando as estações e a dureza das intérpretes, me permitiam vagar por seus galhos sem a menor hesitação, tão fortes e firmes eram. Abaixo, o tapete verde feito de grama se alastrava por onde quer que a vista pudesse alcançar. Inúmeras espécies de flora se estendiam por onde nós menos imaginávamos, com as mais exóticas funções, muitas delas ainda desconhecidas.

Comecei a saltar por entre as árvores com a leveza e a graça com que os bailarinos dançam o lago dos cisnes, sem me arranhar entre os galhos, me esgueirando por entre as brechas com piruetas e cambalhotas. Ali, em meio ao teto verde oliva, eu estava tão feliz quanto um praticante de parkour no meio dos prédios.

Segui para o leste, usando meus instintos e minha última memória daquele senhor.

Lembrava-me vagamente de vê-lo deixando a vila em direção às montanhas ao norte, enquanto saía para verificar uma das armadilhas. No dia eu imaginei que ele estivesse apenas caminhando para inspirar o ar da floresta, afinal, ninguém seria louco de se aventurar mais que o necessário nas matas próximas a Ovedo, ainda mais naquela estranha temporada de Dentes Facas.

Eu já imaginava que as coisas estavam saindo do controle. Há duas semanas eu vi dois Dentes de Faca brigando por território enquanto caçava alguns cervos nas proximidades das correntezas negras, que desciam furiosamente das montanhas de Parel. Um deles perdeu a batalha e a natureza seguiu seu ciclo.

Dentes Facas são especialmente perigosos, mas raramente o encontramos, já que o território deles é bem grande e eles não andam em bando. São individualistas e só procuram um ao outro na época do acasalamento, o que já havia passado. Não havia motivo para o encontro daqueles dois, mas como não vi mais nenhum outro, eu dei de ombros. Além disso, não havia chegado o momento de caçá-los, ou assim eu imaginava.

Agora, toda essa displicência dos caçadores de Leore estava estourando bem na nossa cara. Se tivéssemos realmente uma interligação das informações, relatórios de caça, do que vimos, do que deixamos de ver, das nossas rotinas. Tudo isso poderia ser evitado.  

Uma coisa que estou achando estranho é o fato de não relatarmos um corpo nesses dias. Se o ancião realmente tivesse morrido nas nossas terras, com o número de caçadores que Leore tínha e o olfato aguçado que possuíamos, alguém já teria sentido odor pútrido. A menos, que tenham confundido com algum animal abatido, mas eles não pensaram nem em checar?

Não encontrei com nenhum animal abatido nesses últimos dias, mas eu era o único que caçava no limite das fronteiras com Ovedo então eu raramente encontrava alguém. Meu objetivo sempre era pegar um lobo ensandecido entrando em nosso território e ter a desculpa perfeita de caçá-lo. Seria a primeira vez, desde a morte do meu pai, que eu participaria das atividades junto aos demais.

Não demorei a perceber que os demais saíam para caçar. Alguns eram mais experientes e eu mal podia ouví-los se espalhando pela floresta, mas os mais novos faziam barulho desnecessário, pisando em folhas secas e fazendo questão de passar pelos arbustos, fazendo as folhas farfalharem. Aquele tanto de caçadores saindo em debandada iria afastar as presas, embora eu ache que a preocupação do momento eram os predadores.

Eu pude ouvir o bater das asas dos pássaros junto com seu piado agudo, espantados pela multidão de elfos que estavam invadindo a floresta num número maior do que o normal. Junto com as aves, os cervos começaram a debandar de volta para seus habitats seguros, o barulho seco de seus cascos trotando ecoando no solo da floresta, trazendo as vibrações até os meus ouvidos. O ecossistema entendia que haviam predadores mais ferozes na área.

Isso me permitiu avaliar bem o cenário.  

Haviam tantos elfos ao mesmo tempo na floresta, que era mais provável que nossos únicos adversários naquele momento fossem os Dentes Faca. A partir do ponto que vi a briga territorial, eu fui distribuindo o território dos predadores, imaginando onde seriam as área mais prováveis em que se encontrariam e, com o som dos elfos se espalhando, tentando adivinhar qual ponto seria bem sucedido em abater os animais.

Eu já estava quase chegando ao ponto que imaginei ser o território de um dos que não seria pego imediatamente pelos demais, quando vi a cena.

Um Elfo estava dois galhos abaixo, seu arco tencionado ao seu máximo, pronto para um disparo certeiro contra um dos Dente Faca. Uma fêmea, grande e bem gorda, caçando comida.

Armei a flecha e fui mais rápido que meu companheiro.

— Ahhhh! — Ele gritou, quando a flecha cravou há  milímetros do lado de seu pé.

O grito dele fez com que a Dente Faça o percebesse e corresse na direção contrária, talvez para seu ninho ou qualquer outro lugar que ela considerasse seguro.

— Qual o seu problema? — Questionou irritado, o rosto vermelho de raiva.

Era um dos novatos barulhentos e eu questionava onde estava seu supervisor. Ele estava prestes de abater uma Dente Faca prenha. Se ele estava caçando sozinho, era melhor que voltasse para Leore e aguardasse os mais experientes voltarem, já que, por um triz, ele não atrapalha o equilíbrio da Natureza.

Não me dignei a responder. Apenas saltei para uma árvore próxima e segui meu rumo, sem me importar com os resmungos, que não demoraram a ficar para trás, graças à minha velocidade e furtividade. Subi um pouco para o norte, chegando ao ponto que imaginei ser o local do território de um deles.

Desci com cuidado e silencio, meus movimentos tão graciosos como sempre. Não demorei a encontrar os rastros do animal. Provavelmente era um macho, a passada dele dando mais de um metro e meio, grande demais para eu querer ser pego de surpresa ali embaixo. Tratei de saltar e voltar aos galhos, me movendo pela área até que o encontrei.

Estava farejando o ar, prevendo minha presença. Um belo espécime, um metro e meio de cerrilha, presas perigosas, músculos poderosos, um nível correto de gordura em seu corpo. Imagino que tenha feito a festa nos bosques nesses últimos meses. Bom...A festa acabou!

Puxei uma flecha da aljava e disparei, vendo-a atravessar o pescoço do animal. Nunca precisei de mais de uma flecha para abater ninguém e não seria hoje que eu ia começar a deixar de ser econômico.  

Ele tombou no chão e eu desci a seu encontro. Precisava limpá-lo e levar imediatamente suas partes para Leore. Couro para o Alfaiate, os dentes para o Ferreiro e as partes de carne para o Açougueiro.

Comecei esfolando o animal, retirando seu couro por inteiro, usando-o para estender a carne por cima do couro, como um piquenique. Retirei primeiramente o intestino, o estômago e os rins, junto com toda a carcaça e armazenando-a, enquanto começava a cortar o resto da carne, separando os músculos da carne macia, selecionando a nobre da mais barata.

Não percebi que estava tão compenetrado em minha tarefa até ele estar perto demais. Tive poucos segundos para me virar e cruzar minhas facas na altura do meu pescoço. Por puro extinto eu me joguei de costas no chão, próximo de meu tapete de couro, minhas pernas se flexionaram, acostumadas aquele tipo de abordagem de predadores.  

Ele estava em cima de mim, meus pés em seu peito, as patas contidas pelos meus cotovelos e os dentes pelas minhas facas. Foi um breve momento, quando meus pés o a lançaram contra uma árvore. Imediatamente me pus de pé, dando passos para trás, recuando enquanto ele se recuperava do impacto. Eu queria atravessar uma flecha bem no crânio dele, mas meu arco estava pousado ao lado da carcaça e não tenho certeza se seria capaz de executar mais uma defesa como aquela.

Ainda tonto, a fera avançou. Eu me mantive na esquiva, fugindo de suas garras e presas, fazendo-o bater nas árvores e se perder em galhos e arbustos, enquanto eu esperava o momento correto. Não podia me dar o luxo de estragar os espólios da caça.  

Ele não se cansava, mesmo desorientado do jeito que estava. Eu girava ao redor de seu corpo, com movimentos precisos e graciosos. Quando vi a oportunidade, não hesitei em, durante um salto dele, me abaixar a cravar as adagas cruzadas no pescoço da fera, que tombou por cima de mim dramaticamente. Havia terminado.

Fiz o mesmo procedimento que havia feito com a outra, mas dessa vez o fiz mais rápido, separando tudo mais rápido e subindo para as árvores o mais rápido que pude, ficando com meu arco a postos acima das árvores. Se o outro havia vindo por causa do cheiro da carne, então presumo que ele não deveria ser o único.

Demorou uns cinco minutos para o primeiro aparecer, tímido e desconfiado. Não deu tempo para ele recuar. A flecha atravessou sua cabeça antes que ele tivesse a oportunidade de desaparecer na folhagem, caindo no limite da clareira. Três a menos.

Espantei a fêmea grávida com três flechas antes que chegasse perto da armadilha e abati mais um, minutos depois.  

Quando percebi que não haveria mais, eu usei o couro de forma a parecer uma sacola para poder juntar as quatro caças e levá-las, com certa dificuldade de volta a Leore.  

No caminho, notei o reflexo de alguma coisa abaixo de mim, uns trinta metros ao norte. No início, achei que fosse apenas uma coincidência, mas a curiosidade me fez seguir o brilho.  

Escondido por entre as folhagens da densa vegetação, um pingente prateado brilhava por entre os arbustos verdes. O cheiro de alfazema estava impregnando o local por causa do acúmulo daquelas ervas naquela parte do bosque. O raio de sol passou pelo amuleto e me chamou atenção para a ossada escondido pelos arbustos de alfazema.

Peguei o pingente, imaginando que se tratava do ancião, mas era estranho estar naquele estágio de decomposição. Só faziam 5 dias. Não fazia o menor sentido.

A alfazema explicava o motivo de ninguém ter notado o odor pútrito do cadáver, mas aquele nível de composição não dava para explicar, não importa qual tipo de verme o comesse ou qualquer agente decompositor do tipo...A não ser que...

Subi para as árvores e não demorei a encontrar. Um grupo de formigas marchava pelo chão das florestas de Leore. As Come-Tudo!

Uma espécie de formiga carnívora que podia bem ser considerados a espécie mais perigosa de todas. Elas marchavam pela floresta sem um ninho, devorando tudo em seu caminho, deixando para traz apenas a ossada daqueles que tiveram o azar de cruzarem seu caminho. Os ovos viajavam junto das formigas, enquanto a rainha liderava a tropa. De todas as formas de vida que se desenvolveram após o Declínio, aquela, na minha opinião, era a mais desprezível.

Bom...Isso resumia o mistério do ancião. Provavelmente fora atacado por um dos Dentes Faca, o odor de seu cadáver fora disfarçado pelas alfazema e mais tarde fora devorado pelas Come-Tudo. Um destino cruel para alguém tão idoso. Acho que as palavras de Sylana faziam sentido pra mim agora. Era de fato lamentoso perder uma vida tão antiga.

***


Entrei pelos portões atraindo olhares curiosos. Odiava quando chamava tanta atenção de outrem, mas imagino que sejam poucos que entram pela cidade com quatro sacos de couro de Dente Faca cheios de espólio. A maioria dos caçadores que eram menos experientes, filhos dos caçadores mortos no último ataque, nem teriam feito as separações de todas as utilidades e provavelmente havia trago não mais que 40% de aproveitamento da caça. Meu pai me ensinara que toda e qualquer parte de um animal pode ser útil.

Passei primeiro no açougue, entregando as carnes das caças para o açougueiro, que presumo saber melhor o destino dela e para quem distribuir do que eu. Depois entreguei os dentes para o ferreiro, que imaginava saber o que fazer com o material. Por último, entreguei o couro pro alfaiate, ciente de que ele poderia aproveitar para fazer roupas e tapetes.

Fui devidamente pago pelas mercadorias, a preços justos, como era de costume. Eram mercadores que negociavam com meu pai e, portanto, ficavam gratos dele ter deixado um discípulo muito bem treinado, que sabia exatamente como cada um deles gostava que seus produtos fossem tratados. Eu provavelmente era o mais bem pago de Leore, mas não me importava muito com esse fato.

A cidade estava empolgada com as opções da temporada. As carnes mal entravam e já saiam. Alguns mais vaidosos iam analisar as peles para poder planejar suas vestimentas com o alfaiate, guerreiros estavam curiosos para o que o ferreiro da cidade faria com os dentes. No geral, parecia um clima bem descontraído. Na minha opinião, atípico e fora de propósito, diante da ameaça de nossos vizinhos.  

Me dirigi ao prédio da patrulha, recuperando minha furtividade inicial, me misturando as massas e aproveitando para olhar as lojas que ainda estavam abertas. Alguns estavam precisando de algumas mercadorias. Acho que vou aproveitar para trazer para eles depois que entregar o pingente para a Sylana.

Entrei timidamente, passando pelas mesas sem chamar a atenção dos patrulheiros, compenetrados em seus relatórios. Talvez eles tivessem maiores informações se os caçadores também fizessem esses mesmos relatórios a eles, interligando as informações, mas eu mesmo era réu de juízo quando se tratava de compartilhar minhas experiências.

Pousei o pingente na mesa de Sylana, que só então se deu conta que eu havia entrado em seu escritório. Estava muito compenetrada em uma discussão desinteressante com seu comandado.

— Fenris! — Falou, tão logo me percebeu. — O que é isto? — Questionou, pegando o pingente e o analisando.

— O que sobrou do ancião. — Respondi e minha voz estava rouca e grasnada, como se tivesse acabado de acordar. — O encontrei em uma ossada próximo à uns arbustos de alfazema. As Come-Tudo estavam próximas. — Sinceramente eu estava tão boquiaberto com o som da minha voz quanto ela. Já fazia um bom tempo que não via necessidade de falar.

Ela agradeceu meu esforço e me entregou a recompensa. Acho que tentou falar mais alguma coisa, mas eu já cruzava o corredor, então desistiu, voltando a sua discussão sem sentido com o subordinado. Passei pelas mesas dos demais servidores sem maiores interações. Todos estavam ocupados e eu também. Tinha algumas Annor’a para colher, Lasuel estava com o estoque baixo.

***


As insistentes batidas na porta estavam me irritando.

Eu estava sentado, tomando minha bebida amarga favorita, Néctar Negro, quando elas começaram. De início eu pensei em não atender, imaginando que a pessoa logo iria embora, mas os minutos foram passando e, seja lá quem fosse, permanecia batendo na porta com a paciência de uma maldita aranha à espreita em sua armadilha de teia.

Elas pararam de novo e eu imaginei que tinha desistido. Ótimo! Poderia tomar meu desjejum em paz!

toc-toc-toc

Argh! Que inferno!

Levantei-me e fui abrir a porta, sem me importar com o fato de vestir apenas um pedaço de pano folgado, que havia encomendado ao Alfaite outro dia para o verão. Era feito de algodão e só servia para tapar minha genitália, assim eu podia dormir bem mais à vontade durante aquela estação quente.

Quando abri a porta, dei de cara com um Elfo desconhecido.

— Bom dia, Fenris! — Disse, sua voz de barítono exageradamente animada e amigável. Não gostei dele — Posso entrar? — Ele questionou, ignorando completamente minha falta de roupa.

Dei espaço para que ele entrasse sem retirar minha expressão desgostosa do rosto. Ele fora insistente em ser atendido, se eu simplesmente fechasse a porta na cara dele, imagino que simplesmente continuaria a bater  até que eu o atendesse. A única forma de me livrar dele seria atendendo-o o mais rápido que eu pudesse ou matando-o. No momento eu estava cogitando a segunda opção.

No entanto, eu não o queria ali, então não me dignei a me vestir, nem fazer qualquer outra coisa. Apenas retornei à minha mesa, sorvendo mais um gole do meu néctar negro, enquanto comia um pão fresco, que eu mesmo tinha assado, ignorando totalmente a presença do outro.

Era mais alto que eu, talvez mais corpulento por isso ou pelos exercícios que executava, o que, pelas suas vestimentas caras, me dava uma certa dúvida sobre ele precisar executá-los. Era visivelmente um nobre, com uma barba bem aparada, queixo firme, feições firmes e olhos verdes belos. Seu cabelo era encaracolado e dourado e sua pele parecia bem bronzeada, quase como se feita de cobre. Sua pose era altiva e nobre, mas meus alarmes de perigo gritavam para que não abaixasse a guarda próximo dele. Andava com uma bengala com o punho feito para parecer a cabeça de um grifo, fabricado pelo mesmo material de minhas adagas. Era brilhante, mas havia algo errado. Por algum motivo, o comprimento daquela bengala me lembrava muito uma lâmina.

— Desculpe a intromissão, mas eu gostaria de agradecer pelo outro dia. — Ergui uma sobrancelha ao outro, que andou graciosamente pelo recinto, sentando na cadeira que meu pai geralmente sentava. Aquilo me irritou.  

— Que dia? — Talvez tenha sido a coragem dele de entrar em minha casa ou a petulância de se sentar no lugar do meu pai, mas me surpreendi em ouvir minha própria voz, rouca e fraca. Não era apenas o fato de eu ter despertado há pouco, talvez estivesse começando a atrofiar de tanto desuso.

— Oh! — Ele exclamou, com um sorriso que fingia surpresa. — Perdoe-me a falta de educação. Sou Aron Tinuviel, filho de Algriel, o ancião que você encontrou morto na floresta. — Como se para confirmar, ele mostrou o pingente que havia recuperada na floresta há uma semana.

— De nada! — Respondi de forma seca, esperando que encerrasse a conversa e dispensasse-o.

Ele abriu um sorriso largo, desses que cegam agente de tão brancos que são. Eu costumava dar sorrisos desses, mas não via mais propósito em sorrir tanto assim. Odiava esse tipo de pessoa.

— Fenris Andriel, receio que não seja apenas um agradecimento que tenha me trago até seu lar. — E as verdadeiras intenções se revelam. Eu sorvi mais uma xícara de meu néctar negro, antes de dar-lhe um olhar totalmente desinteressado.

— E qual o outro motivo?  

— Eu resolvi me mudar para Leore. Com a morte de meu pai, não há mais motivo para permanecer em Fytla. — Eu ergui uma sobrancelha e fechei o rosto, esperando onde aquilo ia chegar. — E notei que os caçadores de Leore não são organizados e alguns ainda são muito inexperientes. — Eu meneei a cabeça afirmativamente. Era verdade. — Então decidi que abriria uma agência de caçadores aqui em Leore! — Anunciou, com um sorriso convidativo.  

— Ainda não entendi onde isso é meu problema...  

— Eu quero você como sócio! — Disse, abrindo os braços de forma convidativa.

— Não! — Respondi, sorvendo o líquido negro.

Eu vi o sorriso dele persistir, mesmo diante do meu olhar firme.

— Acho que você não entendeu. — Ele disse, dessa vez com ares de negociador e eu pude ver o que parecia ser um sorriso ofídio. — Eu estou propondo que você comande e treine caçadores capazes, com a mesma mentalidade e capacidade que a sua. — Ele frisou a palavra mentalidade, como se quisesse dizer alguma coisa e eu fingi que não estava a par de suas segundas intenções. — O tipo de pessoal que vai estar sob seu comando. Imagine as possibilidades! — Ele se ergueu da cadeira, caminhando até as bancadas da cozinha, ficando de costas para mim. Imaginei que eu conseguiria ficar uma faca na nuca dele sem o menor problema.  

— Não tenho paciência ou vontade de ensinar ninguém! — Revidei, embora eu estivesse vendo uma possibilidade que me agradaria.

— Olha... — Ele se virou para mim de um jeito dramático. — Leore tem um problema e, pelo que pude perceber conversando com o Líder da Vila você foi uma das vítimas desse problema mais recentemente. Imagine que você consiga criar uma unidade para lidar especialmente com esse problema. — Ele pousou sobre um assunto muito sério e eu o olhei com raiva, mas ele não recuou. — O que eu estou te oferecendo é a oportunidade de possuir uma força bem organizada sob seu comando, para você treinar como quiser. Eu saio lucrando e você também!

Havia raiva em meus olhos, mas eu estava realmente interessado na proposta. Minha vingança pessoal passaria para um nível maior, além de conseguir defender Leore com maior eficiência caso aquele incidente voltasse a se repetir. Mas, como ele havia me escolhido?

— Porque eu?  

— Você deve imaginar que é invisível e, de fato, serviria para serviços de espionagem muito bem, mas, você é um caçador tão excelente quanto um negociador inteigente. Se alguém prestar atenção em você, verá que é, na verdade, bem chamativo. — Disse e eu me surpreendi. — Você colheu Annor'as antes que o estoque do Lasniel acabasse, sabendo do aumento de demanda desse tipo de fruta na estação. Caçou dois Peru’s selvagens quando ficou ciente que o Líder estava para receber um convidado importante. E não se esqueça que quando as crianças foram infectadas por aquela bactéria você se adiantou em trazer as ervas pro herbalista antes mesmo dele pedir. — Suas palavras acompanhavam gestos de mãos muito delicados e graciosos.

Meu queixo caiu. Eu estava sendo espionado.

De fato, eu sempre me adiantava aos futuros pedidos, mas isso tinha mais a ver com meu tempo livre e a necessidade de ficar na floresta do que com o cuidado com a população de Leore em si. Claro que tinha um apego irracional pela minha vila, meu pai também tinha e sempre me fez agir dessa forma, mas jamais imaginei que isso ficaria tão óbvio para um forasteiro, ainda mais um que chegara ha pouco mais de uma semana na vila. Com que tipo de criatura eu estava lidando?

Ele viu minha determinação falhando diante de seu discurso. Era óbvio que me pegara com a guarda baixa. Raramente alguém parecia saber tanto de mim, ainda mais sem que eu soubesse absolutamente nada sobre o outro. Tenho que admitir que seus argumentos eram bons, além do mais, eu conseguiria reunir melhores informações trabalhando com outras pessoas, mas estava mesmo disposto a voltar a comandar outras pessoas? Era natural quando meu pai era vivo, mas não me via fazendo isso de forma alguma.

De qualquer forma, Aron não sairia dali com uma resposta negativa.

— Me dê algum tempo para pensar. — Retruquei e seu sorriso ofídio ficou ainda mais aparente. Ele sabia que havia conseguido seu intento.

— Tem todo o tempo que quiser. — Ele falou e se dirigiu a porta, fazendo uma pequena vênia, antes de batê-la atrás de si.

A impressão que tinha é que havia feito um trato com um demônio.


With Aron Tinuviel ✖ Quest Done ✖ tks, clumsy!

Fenris Andriel
. :
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Religião :
Agnóstico

Sexualidade do char :
Bissexual

Ocupação :
Caçador

Inventário :
(1) IRMÃS LUNARES (Arco e Flecha)
(1 par) KUKRI's (Adagas)

Fenris Andriel
Elf

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