[RP Fechada +18] You know what I want

Meus olhos observaram a calma dentro da minha taverna. Homens desciam as escadas que davam nos quartos com as mulheres ao seu lado, dando um breve 'bom dia' em minha direção. As pessoas que já estavam nas mesas comiam lentamente, quando não estavam cochilando com a cabeça encostada na madeira. Era a primeira vez que eu tinha visto algo do tipo ali. A Pata de Unicórnio estava sempre tão cheia e animada, que não parecia realmente o lugar.

Porém, não podia culpar os clientes. O festival do vinho tinha acontecido e, pelo o que meu senso de direção tinha me mostrado, minha taverna era uma das primeiras no caminho de volta para a cidade pelo porto. Peguei a jarra de ale mais fraca e derramei nos copos das pessoas que bebiam. O olhar de espanto delas era evidente, e eu dava sempre a mesma resposta: "Por conta da casa,
Ele cura essa ressaca física e a moral também". Minha visão foi chamada a atenção pelos navios que atracavam ali com muito cuidado, os donos de restaurantes e também tavernas esperando que seus carregamentos chegassem. Apoiei a jarra em cima do balcão e fui para o lado de fora, também esperar meu carregamento semanal de bebidas e matérias prima.

Meus saltos batiam contra o píer de madeira, e eu cumprimentei (em maior parte os homens) as pessoas que estavam ali esperando. Acenei para o homem em cima do barco, dando o sinal que precisava do carregamento. Eu nunca realmente precisei em me preocupar com carregar as coisas para dentro do estabelecimento, já que meu navegante gentilmente fazia isso por um copo de vinho dos mais fortes que eu tinha.

Meus olhos, então, caíram sobre a água. Um meio sorriso surgiu em meus lábios. Eu nunca realmente senti falta de casa, já que desde pequena sabia que não era o lugar onde eu pertencia, mas as vezes me dava saudades de meus amigos, da agilidade que era ir de uma ponta a outra, da inocência que eu tinha quando apenas morava em baixo daquele mar.  Minhas sobrancelhas se estreitaram no meio da testa, ao ver ondas completamente avulsas ali perto de mim. Aquele não era um movimento normal para o dia de hoje.

Foi então, que eu me deparei com os fios loiros voando no píer. A respiração parou de entrar em meus pulmões, e as batidas do meu coração aceleraram como não faziam há muito tempo. Engoli em seco. Ali estava a primeira garota que eu realmente tinha amado na minha vida, mas que não tinha dado certo por milhões de motivos, um deles era que eu não queria mais morar no mar, e a mesma era contra a minha ideia de vida.

Meus passos me levaram até o corpo esbelto lentamente. Odëssea estava exatamente do jeito que eu lembrava dela. Limpei a garganta ao chegar perto da garota.

-Acho que a maré realmente faz encontros acontecerem, como dizia seu pai. -Ofereci um sorriso tímido para a sirene. Eu conseguia, depois de tantos anos, ainda não saber como lidar quando ela estava perto. -Não sabia que tinha vindo para a terra. Porque não entramos n'A Pata para conversarmos? O vento me ainda me incomoda depois de tantos anos aqui em cima.

Um suspiro deixou meus lábios e eu caminhei ao lado de Odessea silenciosamente até o meu estabelecimento. Milhões de pensamentos passavam por mim. Porque diabos ela estava aqui? O que estava acontecendo lá em baixo? Porque ela apareceu depois de tantos anos? Eu não sabia, mas ia tentar entender, mesmo que fosse a última coisa que eu iria fazer ali.

Peguei um vinho que tinha sido feito com algas marinhas e apontei para uma porta atrás do balcão, lhe oferecendo um pequeno sorriso. Meu coração ainda batia aceleradamente, e eu pedi para a garota que me ajudava ali que não fôssemos incomodadas. Passei logo atrás da loira pelos panos e pela porta que tinha ali, a fechando atrás de mim.

O local era o que eu chamava de meu escritório. Tinha uma grande mesa de madeira, um sofá pequeno, uma poltrona e duas cadeiras de cada lado da mesa cheia de papéis e agendas que se relacionavam aos preços da minha Taverna.

-Provável que ninguém entre aqui.

Peguei duas taças e entreguei para a garota, servindo a bebida nos dois compartimentos. Coloquei a garrafa no chão, e apontei para que ela se sentasse na cadeira enquanto meu corpo se encostava na mesa. A mão direita pegou de volta um dos copos, e, sinceramente? Aquele silencio me matava. Mas eu não sabia como agir perto da garota que tinha quebrado meu coração e destruído um dos sonhos que eu tinha certeza que iam acontecer. Meus dedos brincavam com a taça, e os olhos finalmente encontraram os dela. Meu estômago apertou.

-O que você faz em terra, Sea? -Minha voz falhou, mas eu precisava saber. Minha vontade era gritar, mandá-la de volta para o mar e reclamar o quanto ela tinha julgado minha vontade de vir para cá, mas mesmo assim ainda estava na minha frente. Nada saiu. Mas ela sabia que aquele era o porque da minha pergunta. -Eu só quero entender o que te trouxe aqui.

O copo foi à minha boca e eu dei um grande gole do vinho. As cicatrizes que eu tanto tinha reprimido feitas por ela voltaram a sangrar em questão de segundos, apenas ao ver as orbes claras e os fios dourados. Se não fosse a mesa atrás de mim apoiando meu corpo, eu tinha certeza que já estaria no chão.