[ EVENTO ] BAILE VAMPÍRICO TRIMESTRAL

O baile estava sendo preparado há muitas luas. Com o céu claro ou escuro, a movimentação nos corredores do castelo era sempre a mesma. Fluía como um coração pulsante.
Nas ruas da cidade as pessoas já estavam alugando carruagens de luxo e vestidos caros para o dia do Baile Trimestral. Aleksandr adorava poucas coisas em sua vida, mas uma delas era o luxo. Ele caía aos seus pés como uma criança. Cada objeto de luxo, cada roupa feita com o mais raro tecido, cada joia rara, cada sapato dourado, cada detalhe o regojizava. Ele amava  sentir o poder, ninguém em toda a Vollbrecht era tão gracioso, grandioso e vaidoso quanto Aleksandr; algo passado de seu pai, que era um homem dominado pela luxúria. Aquele homem com roupas belíssimas, expressão dura e movimentos graciosos já havia estado na miséria durante milhares de anos, mas ninguém poderia imaginar, pois não parecia. Aleksandr não trazia, nem de longe, a imagem de um miserável. O declínio havia sido um período sombrio que ele preferia deixar para trás, sequer pensava nisto. Era como um capítulo ruim em um livro que ele rasgou e jogou fora.
Quando ele e seu pai conseguiram o trono, à ferro e fogo, ele sentiu uma onda enorme de prazer dominar seu corpo.
O poder era o que movimentava Leistkows.
A noite estava chegando, Aleksandr acabara de resolver as últimas papeladas com o mais novo Assessor de Questões Públicas, @Jack Von Liestenchein que iria fazer a tarefa difícil por ele, e esperava que ele já estivesse ativo na noite do baile para observar como estavam os convidados e se surgiria algum problema do lado de fora de Vollbrecht - uma possível ameaça. A noite do baile poderia ser um evento impressionante, de escala gigantesca e deveras agradável, mas era igualmente perigoso, pois inimigos, vulgo licantropos, poderiam ter planejado um ataque à capital naquela noite, pois o reino inteiro iria parar e se reunir no castelo. Por este motivo Aleksandr estava sempre alerta, mantia soldados previamente pagos para vigiar os muros de cada cidade e vilarejo, mantendo a segurança contra possíveis invasores. Cuidava de seu povo como cuidaria de si mesmo.
Subiu calmamente as escadas centrais do castelo, que eram circulares e de frente para o salão que já estava pronto para receber os convidados, no caminho foi tirando as luvas e o sobretudo pesado, entregando tudo para uma escrava que já trabalhava para ele há quase um ano.
— Arrume as coisas para meu banho, Iva, por gentileza.  — A voz grave e aveludada do vampiro ecoou pelo corredor e Iva assentiu com a cabeça, os olhos esbugalhados e Aleksandr conseguia sentir o medo pulsando por suas veias. O coração de Iva sempre acelerava quando ele se dirigia a ela, a figura de Leistkows era para Iva, uma assombração. Ela ainda não havia se acostumado, talvez sentisse falta de sua antiga vida, embora fosse medrosa e covarde, Iva era uma de suas melhores escravas. Sempre fazia tudo do jeito correto, não sujava nada em suas tarefas e quando o fazia, limpava até reluzir. Ela já sabia como preparar seu banho de uma forma graciosa, conhecia todo o seu guarda-roupa e quando ele idealizava uma combinação de vestimenta, ela desenvolvia sua ideia perfeitamente. Desta vez ele queria algo espalhafatoso, dourado com detalhes entornados à mão, uma parte de baixo escura, um sobretudo chamativo e joias que combinassem com as cores da roupa. Ela assentiu com a cabeça ao ouvir seus comandos e entregou-lhe o roupão de seda dourada  que ele sempre vestia antes de adentrar seus aposentos ao sair da suíte. Aleksandr tirou a parte de cima de sua roupa e a entregou, ela engoliu em seco ao ver as veias acinzentadas marcadas em seus músculos, as cicatrizes de batalha quase translúcidas em sua pele que era branca como mármore, sem cor, sem vida. Ela nunca se acostumaria com aquele homem. Se é que era possível chamá-lo de homem, pois tinha certeza que Aleksandr havia sido cuidadosamente esculpido por Garaad em seus momentos mais febris. Ele retirou seus sapatos de couro duro e a entregou.
— Mande Elyot pôr estas roupas para lavagem. Da última vez vieram me notificar que ele havia ido fazer outras coisas e esquecido de minhas roupas.  — Iva fez que sim com a cabeça, virando-se para fazer o que seu mestre havia mandado, mas foi parada quando ouviu-o continuar. — Se não o considerasse tanto, Iva, já o teria degolado. Detesto empregados preguiçosos. Estou pagando uma fortuna à família de Elyot e ele já está aqui há três longos anos, deveria ser mais cuidadoso... Eu mudo de ideia tão rápido quanto um pássaro bate as asas. — Ela virou-se para ele e finalmente teve coragem para falar, mas sua voz estava vacilante.
— Não se preocupe, m-mestre. Irei até ele agora mesmo e darei seu recado. — Aleksandr aproximou-se lentamente de Iva, passou os dedos por suas clavículas e por algumas mechas de seu cabelo em seguida. — Não precisa temer minha presença, Iva. Se ainda estás viva aqui é porque aprecio sua companhia. — Sorriu, mostrando as presas. — E além do mais... Não tenho razões para beber-lhe até a morte. Tenho vários escravos que estão no Andar de Cima justamente para isto. Sou o vampiro mais antigo de toda a Vollbrecht, descontrolados são aqueles nascidos há pouco tempo. Achei que sabias disto. — Se afastou subitamente e entrou em sua suíte, retirando toda a sua roupa. Iva ainda estava paralisada, olhando fixamente para um ponto desfocado. — Não esqueças de fazer o que solicitei. Não gosto de atrasos.
Entrou na banheira e banhou-se, passou  quase uma hora sentindo a água quente  e perfumada abrir seus poros mortos. Gostava da sensação quente da banheira, mas apreciava mais ainda o ar frio que o esperava quando saísse de sua suíte.
Levantou-se, enxugou-se com o roupão de seda, ao olhar para a cama viu, delicadamente posicionados, a vestimenta que Iva havia selecionado para ele. Sorriu brevemente, adorava a atenção que recebia de seus escravos, Iva particularmente era uma criatura excepcional, embora tivesse medo de seu rei.
Vestiu a roupa, olhou pela janela e já escurecera. Vestiu a roupa, penteou os cabelos brancos, a barba que não estava com muito volume e se confundia com a pele de seu rosto, igualmente branca, colocou os sapatos e  o sobretudo. Um escravo o esperava do lado de fora, segurando uma de  suas coroas, que ele havia selecionado para aquela noite. Colocou a coroa pálida que poderia facilmente se perder em seus cabelos brancos e desceu para o saguão principal. Perfumado, vestido graciosamente e com uma expressão serena, sentou-se em seu trono, onde podia ver todo o salão e ordenou que os portões abrissem. Vários convidados já esperavam do lado de fora, ao abrir o portão alguns flocos de neve começaram a cair nas bordas da entrada, enquanto vestidos de todas as cores e máscaras chamativas roubavam a atenção.