Os céus estavam cínzeos. O inverno deixava tudo mais triste, não era surpresa, já que vinha de um lugar como o reino de Hähle. A casa de Keenan ele havia comprado recentemente com suas últimas missões. Havia conseguido ao menos dinheiro para um, e em seguida, com os materiais que tinha, fez algumas mudanças na estrutura da casa. De certo modo, ela era exótica, não era como as casas mais próximas. Por isso, muitas pessoas evitavam chegar perto, e sempre achavam que poderia conter monstros em seu interior, e bem, a casa tinha, Keenan e Aether.

Os visitantes ao chegarem próximos da mesma, iriam notar que a casa tinha uma pequena escadinha. Assim, se aproximando mais, veriam que a porta era dividida em duas, e entre o pequeno espaço entre esta e a escada, havia uma espécie de pilar vermelho que segurava o telhado de quatro pontas, com protuberâncias ascendentes.

Não só isso, como aquele telhado marrom tinha um segundo andar sobre ele, e dava para ver as janelas nada padronizadas para o povo de Hähle. Era só sobre esse segundo andar que ficava o fim daquela residência, com um novo telhado de quatro pontas oriental. Mas esse telhado era menor do que o inferior, e apesar de sua magnitude reduzida, era visível ao alto.

Os panos com alguns kanjis em frente a porta tremulavam ao vento, e lá dentro, coisas interessantes aconteciam. Keenan havia colocado alguns pratos sobre a mesa. Agora, ele apenas colocava o que parecia ser Sushi, feito de algas marinhas e peixe cru. Não só como também algumas vasilhas tinham Tempurá, uma espécie de guloseima salgada frita em óleo. No momento,ele estava depositando bebida fermentada chamada saquê, em pequenos pratos de bebidas, enquanto colocava algumas garrafas no centro da mesa.

Passos poderiam ser ouvidos da escada próxima. Aether parou sob o piso de madeira, encostando a palma direita sobre o corrimão. Ele havia acabado de tomar banho e estava com os cabelos molhados. Mesmo assim, seus fios louros eram fortes o suficiente para armar mesmo com o peso das partículas de água em seu cabelo. Ele ajustou a toalha em sua nuca e prosseguiu caminhando.

Aquela sala de estar tinha alguns corredores, mas Aether prosseguiu para o outro lado, indo para a sala. O garoto poderia observar as janelas engradeadas, bem como alguns sofás confortáveis e cadeiras, mesas próximas. Decorações como alguns estandartes de seda imitando um dragão oriental existiram, bem como gatos chocalhantes perto das janelas e macacos batedores de tambor.

O Celta se sentiu confortável com os pés sobre o tapete vermelho que seguida desde a entrada até próximo da saída da sala de estar. Tinha até mesmo uma mesa baixa para pessoas se sentaram e jantarem em situações tradicionais do mundo antigo. Aether se questionava o quão estranho poderia ser seu progenitor. Mas aproveitou e pegou seu livro de magia e então, abriu algumas páginas para ler enquanto começava a fumegar, secando a si mesmo com magia elementalista. Segundo seu velho, ele deveria atender seus visitantes que estariam chegando.

Aether estava sentado sobre o estofado da sala enquanto mantinha uma das pernas cruzadas sobre a outra. Os olhos azulados, quase cinzas, fitavam com tamanho foco o livro, absorvendo as informações que tinham ali, ele precisava se aprimorar ainda mais, precisava ficar ainda mais forte para ser o mais Arcano que o mundo já viu, mas, era só uma das ambições de sua mãe, talvez não fosse o suficiente, talvez fosse.

Na filosofia de todos os bruxos como também em Fries, os bruxos servem á um propósito, e uma vez que este popósito é cumprido, quando morre, o detentor da magia se une ao Fohat, indo para o Akasha. Os olhos carrancudos do garoto se abriram em um leve susto, indicando que pessoas batiam na porta de entrada daquela casa nada normal. O Celta poderia claramente perceber que seu progenitor era uma criatura bizarra, por que raios sua mãe havia o mandado atrás de uma criatura tão estranha?

Com isso, levantou e caminho á passos lentos até a porta e girou chave, estendendo a mão e empurrando para o lado ao invés de puxar como uma casa comum. Seu olhar carrancudo foi de Keith para Amelie e por último, Tristan. Apesar da reação da ruiva, o garoto manteve seu sorriso por mais que os olhos fossem um contraste sobre sua face. Era comum que suas sobrancelhas acompanhassem os olhos tão cruéis. Apesar dos resmungos, exibiu um sorriso de canto e explicou: — Oi pra vocês também. Tem saquê. — Disse simplesmente.

[...]

Enquanto observava aqueles três, o garoto Tristan se dirigiu á sua mãe, e depois a si. Ergueu uma das sobrancelhas para o menor, o olhando de cima. — Por que obviamente seu pai não confia em mim, e, porque sua mãe me acha péssima influência. — Exibiu um sorriso após os dizeres, mesmo que seus olhos distintos o fitassem. — Eu não me importo com o que eles pensam de mim, mas, faz o que você quiser, é a sua máxima liberdade inerente, garoto. — Respondeu calmamente, embora seu tom de voz expressasse energia.

Com isso, deu meia volta, sumindo atrás da porta da casa. Foi nesse momento que Keenan surgiu exibindo um sorriso para os três. — Olá pessoal. Bem vindos á minha casa. Com o dinheiro de nossas missões, comprei a casa e materiais, e depois reformei eu mesmo de forma a imitar um país do Mundo Antigo, antes do Declínio. — Respondeu, explicando para eles o motivo da exoticidade daquele lugar. Fez um gesto para eles, apontando para a mesa. — Fiquem á vontade. — Pediu.

Com isso, Keenan pegou Tristan no braço, tocando os fios ruivos do menor. — Tá crescendo a cada dia, moleque. Um dia será mais alto que eu. — E o colocou no ombro como se fosse um bebê. — Vamos comer. — Pediu, e se sentou com Tristan. — Temos Tempurá, Sushi, e Bolinho de arroz, chamado Onigiri. — Explicou, colocando um bolinho de arroz em cada prato para eles, bem como o Tempurá frito em óleo e o Sushi, carne de peixe cru enrolado em alga. — São comidas do mundo antigo, devem estranhar á primeira vista, mas é gostoso. — Tranquilizou, dando uma espécie de pratinho para os dois adultos, execto Tristan. Assim, abriu uma garrafa e depositou um líquido transparente em cada. — Bebida alcóolica fermentada, mais nutritiva e saudável do que as cervejas normais, porque não possui açúcar. O Saquê. — Explicou, e depoistou água para seu sobrinho, dando na mãozinha dele enquanto o sentava na cadeira, começou servi-lo em seu prato.

Aether empurrou a porta e depois fechou, seguindo com passos lentos até a mesa. Assim, sentou-se do lado de Keenan, pegando as coisas que tinham ali. — E aí. Como estão, Midenhall? Conheci o vovô Midenhall, parece que ele criou vocês bem. — Dirigiu-se á Amelie e Keith. — Abre a boquinha Tristan, vou colocar devargazinho... — Dizia Keenan. — Velho, terminei de por os papéis rúnicos com dispositivo de encantamento ilusório, verão esta espelunca como um local quebrado e abandonado, então estamos seguros. — Comentou o outro loiro, olhando seu pai de lado.

Keenan estava terminando de colocar mais uma colherada na boca de Tristan, que parecia gostar bastante sobre o novo sabor. Assim, passou a colher nos lábios róseos do menor, de tal modo que não sujaria seu rostinho bonito. — Bem, o Onigiri. — Apontou com uma das mãos. — É feito de arroz basicamente. O Tempurá... — Indicou. — É usado vegetais fritos ou mariscos, fervente em óleo quente. — Explicou. — E por último, Sushi.  Sushi é basicamente carne de peixe cru, enrolado com algas. Demorei pra achar por aqui. — Explicou.

— Bom, eu cresci em um dojô. Com um mestre que tinha conhecimento do mundo antigo. Arte do Kenjutsu, Arte da Espada, essas coisas, as coisas que eu uso são vindas do mundo antigo. É por isso que chamam os antigos usuários disto como Samurais. Cresci nesse ambiente assim até destruírem o Dojô. — Contou friamente. — Se não quer o Sushi, coma Tempurá. É frito em óleo, eu incrementei vegetais e mariscos. — Explicou á ruiva. — Bem, se você insiste... — Comentou com o comentário sobre Tristan.

Keenan pegou um pequeno pratinho que cabia nas mãos e colocou um pouquinho de saquê. Mais foi bem pouco. — Aqui Tristan. Vai dar pra tomar. — Falou, colocando entre as mãos do pequeno. Tristan tomou em uma golada só e começou a piscar os olhos. Keenan o segurou com o braço. — Ops. — Comentou ele, pegando Tristan no colo. — Eu sou uma espécie de babá pra esse garoto, não é possível, me apeguei tanto. — Comentou, meio desnorteado.

Aether fixou os olhos em Amelie e ouviu calado enquanto comia um Tempurá no meio dos lábios. Assim, ele baixou os olhos enquanto ela falava, entendendo melhor sobre Hähle. — Hm. É... Faz tanto sentido. Não sei porque raios meu pai vive em um local miserável mas ele costuma gostar daqui, essa casa aqui... É uma boa casa, conseguiu vivendo com vocês e pegando tudo que envolvia matar pessoas e saquear. — E apontou o indicador para a mulher. — Parabéns pelo Pão e Circo. — Finalizou.

— Tem sim, beba. — Indicou Keenan, virando a garrafa e colocando mais no pratinho minúsculo de Amelie. Aether se virou para Keith. — Sou dominante da Arte da Abjuração. Quer que eu cure quem? Ademais, obrigado pelo soco, eu pude testar se eu não havia ficado enferrujado nessa arte minutos depois. — Indicou, olhando carrancudo para eles.

— Só conheço meu velho há alguns dias, então vai com calma, ainda estou me acostumando pelo fato de que eu tenho um pai, nem eu sabia. — Respondeu Keith, fitando seu olhar carrancudo sobre o loiro, erguendo a mão para indicar o gesto de que ele deveria ir devagar. — Então... — Aether nem teve tempo de continuar o que ia dizer, Amelie começou a falar. O Silbern Júnior apenas respirou profundamente como se devesse juntar paciência. Parte disso dizia que algo místico sobre ruivos se aplicava á ele. Cabelos ruivos, temperamento curto. E, coincidentemente, na raiz de seu cabelo tinha coloração ruiva natural.

Ele ouviu o que a mesma tinha a dizer, e então, manteve seu rosto inflexível a maior parte do tempo. No fundo, quando ela terminou, exibiu um sorriso para ela. Seu olhar ainda era carrancudo, mas seu sorriso esbanjava certa surpresa. — Certo, agora eu entendo melhor o que se passa nessa... Nesse lugar aqui. — Juntou os dedos, cruzando os mesmos enquanto apoiava os cotovelos sob a mesa. — E se você me desse um soco, nos dois iríamos brigar lá fora. — Rebateu o comentário sobre o soco, embora, apesar da irritação presente em sua voz, ele estava sereno. No fim, calou-se e continuou comendo. Keenan ainda segurava Tristan em seu colo.

O menino o abraçou e ficou grudado em si. — Hah, como se eu fosse rico o suficiente. Mas, quando for o aniversário dele, com certeza vamos ter roubado algum Itinerário mais grandioso. Como aquele que Capitão sempre fala, o Urca de Lima. Se um dia pegamos um Itinerário daquela natureza, bem como talvez sendo melhor que ele, podemos enriquecer mais. — Dizia calmamente exibindo um sorriso minúsculo para eles, movendo seu único olho entre Keith e Amelie. Keenan ergueu as sobrancelhas ao ouvir sobre a nova história. — Não é muito diferente de mim. Um dia precisei comer carne de monstro em um local de Hähle. Estava sozinho antes, e... Lutei com um monstro que se meteu no meu caminho. Então, quase morri, mas pra não morrer de fome, o devorei. — Finalizou. Aether o olhava de lado, embora sua expressão fosse neutra. Ele bebericava um pouco de saquê.

— Fiz algo similar. Um dia fui brincar com meus amigos escondidos em Fries. Eu não podia ser visto na cidade porque sou fiho de uma Bruxa Exilada pelo Governo podre deles. Então, em uma dessas, um dos Guardas do Governo usou sua espada encantada e rasgou o braço do meu amigo. Então... Como vingança, parti-lhe o braço também. Só que chegou os Bruxos da Academia, e eu tive que fugir, mas comi o braço do homem com meus amigos porque... Estava de noite e não tinha pra onde ir. Decidi ficar com eles, porque eu tinha que protege-los. Voltei para casa no dia seguinte. — Aether fechou os olhos, respirando fundo.