Amelie era um desastre com crianças, nunca se viu sendo mãe ou cuidando de uma, então estava sendo muito difícil lidar com Tristan. Compreendia seu sofrimento, mas não como um sofrimento infantil e sim o mesmo de um adulto, sua concepção de infância era distorcida e ela não sabia lidar com aquele menino chorando na cama enrolado em uma manta. Enquanto a água esquentava, deixou a panela grande de lado e ficou observando a criança de longe enquanto ele tossia e perdia o fôlego de tanto chorar. Não sabia o que fazer para acalmá-lo ou demonstrar sua preocupação, então o deixou sozinho em seu sofrimento, era melhor do que dizer algo de maneira ríspida demais e apenas piorar a situação. Percebeu que não havia tirado as botas sujas e tinha sujado o chão de madeira, o que a fez ficar irritada, porém não deu muita importância, já estava molhando o piso de qualquer forma.

Quando a água esquentou o suficiente para um banho relaxante e confortável, Amelie levou até a banheira de madeira e a despejou lá, misturando com a água do balde ao lado para dar mais volume e não ficar extremamente quente. Como havia perdido sua força física, foi uma tarefa extenuante e quase derrubou ambos os recipientes, mas se sentiu aliviada quando conseguiu. Voltou até Tristan e tirou seu corpete de couro que usava sobre a blusa para retirar o peso excessivo, em seguida retirou as botas molhadas e sujas e se agachou em frente ao menino.

— A água tá pronta, logo Keith chega com as roupas quentes. — Tentou ser gentil ao falar com ele.

— Sua voz não é doce como a da mamãe, dá medo... — Ela olhou nos olhos do menino e suspirou, abaixando a cabeça.

— Eu sei. Eu não sou doce como sua mãe também e eu faço coisas ruins pra sobreviver, mas... — Bem, não havia um "mas", Amelie não se via como uma pessoa boa de forma alguma, havia feito coisas horríveis e iria continuar fazendo pelo simples prazer de fazê-las, as coisas boas que fazia não relevavam as ruins, então numa escala, ela não se via como uma pessoa boa merecedora de coisas boas. — Bom, vamos antes que a água esfrie. — Tentou esboçar um sorriso simpático enquanto tirava a manta de Tristan e colocava no chão por estar molhada, a área em que ele estava sentado também estava molhada.

Amelie o pegou nos braços novamente e ele voltou a se segurar nela com tanta força que puxava seu cabelo longo sem perceber, juntamente com parte do tecido da blusa. Ela o colocou no chão e começou a ajudá-lo a tirar a roupa molhada e suja de sangue, jogando no chão. Precisava jogar aquilo fora depois. Em seguida o colocou na banheira com água quente e jogou uma loção de lavanda, que era basicamente a planta esmagada deixada na água por muito tempo, juntamente com o sabonete sem cheiro feito de gordura animal e o entregou. Tristan olhou o sabonete por um tempo e depois olhou para ela, Amelie ergueu as sobrancelhas ruivas como se dissesse "vai", mas ele continuou confuso então ela suspirou derrotada e pegou o sabonete das mãos do menino, que quase escorregou dentro da água. Então começou a esfregá-lo com força para tirar toda a sujeira que havia se acumulado, puxou a perna da criança tão rápido que ele deslizou e teve que se segurar na banheira, mas Amelie continuou esfregando sem se importar, até que chegou no rosto e cabelo. Ela tentou ser mais gentil lavando o rosto dele, mas ao chegar no cabelo começou a esfregar com a mesma intensidade e a cabeça dele ia de um lado para o outro enquanto ele esboçava uma careta de desconforto. Mas precisava enxaguar o rosto e principalmente cabelo, então como fazia consigo mesma, decidiu enfiar a cabeça do menino dentro da água de súbito, o que fez ele se assustar e começar a se debater levemente enquanto estava submerso. Foi quando Amelie ouviu a porta se abrindo e Keith chegando, olhou na direção da porta e depois voltou a atenção para a criança novamente, o puxando de volta para fora da água. Ele estava completamente assustado com os olhos arregalados e o cabelo ruivo escorrido em seu rosto. Ela pegou o pano que ficava num banquinho do lado da banheira e fez sinal para ele se levantar, ajudando Tristan a sair da banheira, então lhe entregou o pano para que ele se enxugasse, mas ele ficou confuso novamente e ela decidiu fazer isso. Mas não era gentil, então em sua pressa acabou tirando uma careta de desconforto do menino novamente, principalmente ao enxugar seu cabelo. Quando ele estava completamente seco e o cabelo não tão molhado, Amelie o envolveu no pano e o levou até a cama, onde pegou um dos conjuntos de roupa que Keith havia comprado e começou a vestir Tristan, eram roupas simples de ficar em casa, em cores neutras, uma túnica marrom e botinhas de couro.

— Precisamos mandar as roupas dele pra um alfaiate e tingi-las de preto. — Ela comentou com Keith enquanto ele cozinhava. Tristan apenas observava a movimentação dos dois com os olhos assustados e curiosos. Amelie levou o outro conjunto de roupa para o guarda-roupa simples de madeira e quando achou que iria conseguir tomar banho e trocar aquelas roupas molhadas, Keith começou a servir a comida. Sentiu seu estômago protestar de fome e estendeu a mão para Tristan, que segurou com alguma relutância. Ele tinha medo de Amelie, enquanto se sentia seguro com ela ao mesmo tempo, era estranho. Se sentia mais confortável com Keith por ele ser menos agitado e mais compreensível. Toda a situação o fez permanecer em silêncio até se sentar na cadeira, ele olhou a comida e depois fitou Keith.

— Temos que agradecer aos deuses... — Então Tristan fechou os olhos e começou a sussurrar uma reza que provavelmente havia aprendido com seus pais, dando mais ênfase a Ovedo. Amelie olhou para Keith sem saber o que fazer e de cenho franzido coçou a nuca sem jeito, observando a cena até ele acabar. Assim que ele terminou, avançou na comida com ferocidade, estava faminto, até mesmo sorriu para Keith antes de falar de boca cheia. — Obrigado... Minha barriga tava doendo. — Em seguida voltou a comer como alguém que não via um prato de comida há dias.

Amelie sentou-se lentamente em sua cadeira, ainda de cenho franzido e começou a comer também, observando aquele menino estranho. Quando se sentiu menos desconfortável, virou-se para Keith.

— Vamos levá-lo até Elliot, ele passou muito tempo naquela casa fechada com vários cadáveres... Sem comer direito... Vestindo roupas imundas... Isso não deve ser saudável, vamos deixá-lo com Elliot por uma noite e o buscamos amanhã quando tivermos certeza que ele está bem. — Mas Amelie não se preocupava apenas com a saúde do menino, mas com seus planos que seriam completamente arruinados se ele continuasse ali. Colocou um pedaço grande de peixe na boca e continuou, de boca cheia. — Também precisamos de um lugar maior que tenha quartos separados pra ele poder ficar. — Enquanto Amelie falava sem parar, Tristan permanecia calado comendo, mas parecia estar incomodado.

— Quem é Elliot? Ele é mau? — Claro que a pobre criança estava traumatizada e desconfiava de todos ao seu redor.

— Elliot é um amigo nosso, ele é curandeiro, médico. Já salvou minha vida muitas vezes e já cuidou de Keith também. Você também vai conhecer alguém especial pra mim que parece comigo... Com nós dois na verdade. Eu tenho certeza que ele vai gostar de você. — Bagunçou o cabelo de Tristan esboçando um sorriso e voltou a comer quando viu que o menino parecia mais relaxado.

Amelie continuou comendo até acabar sua refeição, ela comia rápido. Cruzou os braços com a expressão emburrada ao ouvir os planos de Keith para o futuro onde ela teria que aprender a ler. Se dependesse de Amelie ela não aprenderia nunca, não via nenhum motivo para isto.

— Se ele vai aprender, por que eu tenho que aprender? — Certo que era mais infantil que a própria criança, de certa forma, porém para ela fazia sentido.

— Eu sempre quis um cavalinho de madeira, mas papai trabalhava no campo e dizia que era um cavalinho ou comida. Eu ajudava ele às vezes, meu braço doía muito... — Apesar de ser pobre, o menino era muito educado. Seu cabelo molhado estava bagunçado de um jeito adorável e ele pareceu se entristecer ao lembrar do pai, uma lágrima desceu por seu olho e Tristan logo tratou de enxugá-la com as costas da mão pequena.

— Você vai poder escolher quantos cavalinhos de madeira quiser. — Amelie tentou consolá-lo e esperou os dois terminarem de comer.

Assim que acabaram, ela se levantou e calçou as botas novamente, sentindo o desconforto do couro molhado contra os pés.

— Vamos! — Não esperava que Tristan descesse da cadeira e estendesse os braços para Keith, como se pedisse para que ele o levasse nos braços, mesmo se Keith estivesse ensopado. Amelie sentiu um pouco de ciúmes, mas desviou o olhar, saindo primeiro e descendo as escadas, indo em direção à saída. Não tiveram que esperar uma carruagem pois o porto ficava próximo da estalagem e só precisavam andar por alguns minutos. A chuva tinha dado lugar à um vento frio e trovoadas, tinha certeza que iria voltar a chover logo.

— Pra onde a gente vai? — Tristan perguntou, curioso, mas ainda se agarrando a Keith como se ele fosse soltá-lo no chão a qualquer momento.

Amelie virou-se para trás e esboçou um sorriso, tentando passar segurança.

— Somos piratas, estamos indo até nosso navio, pra ver Elliot e aquela pessoa que te falei. — Mas o menino se agitou, arregalando os olhos.

— Mas piratas são maus... — Era uma reação esperada, então a ruiva apenas suspirou.

— Não somos maus, maus são aqueles vampiros que mataram sua família. Você vai ver, somos bem diferentes do que dizem. — Talvez sua língua tenha se soltado demais e o menino começou a soluçar novamente, desviando o olhar de Amelie e abraçando Keith, enfiando a cabeça em seu ombro e chorando da mesma forma que estava antes.

Ela se sentiu culpada, mas não sabia o que fazer, não sabia como pedir desculpas ou desfazer o que tinha dito. Achava aquela criança muito sensível, porém ficou em silêncio o resto do caminho inteiro até chegarem, finalmente, no navio. Vários piratas estavam ali, seja tocando instrumentos, conversando, bebendo ou afiando suas espadas. O convés estava bem cheio e Amelie adorou poder estar ali novamente. O menino pareceu parar de chorar e virou-se para ver o que acontecia no convés, coçando os olhos.

Ela continuou indo na frente deixando Keith segui-la e Tristan olhava para tudo ao seu redor curioso, pareceu muito interessado na bandeira negra que voava no topo do mastro. Amelie continuou andando até chegar na sala de Elliot, como havia apenas um pirata que tinha acabado de contrair sifílis e estava desesperado, não demorou para que o médico viesse até eles. Elliot parecia surpreso em ver Amelie novamente, tanto tempo depois que tudo aconteceu.

— Encontramos ele na área rural, a família dele foi dizimada por vampiros, ele passou sabe-se lá quanto tempo em meio a cadáveres, dormindo com o cadáver da mãe, sem comer ou provavelmente comendo comida estragada e estava cheio de sangue que não era dele. Nós demos banho e comida, mas preciso ter certeza de que ele está saudável. — O médico pareceu muito confuso, ajustou os óculos e levou os olhos até o menino nos braços de Keith, que olhava para ele de volta, assustado.

— Não é bom ficar perto de cadáveres, é por isto que jogamos nossos cadáveres em buracos, no mar ou no fogo. Eu vou fazer alguns exames nele, vocês podem esperar aqui ou do lado de fora.

— Nós vamos buscar ele amanhã, use esse tempo pra fazer o máximo que puder por essa criança, pode deixar ele no meu quarto quando ele quiser dormir. Eu tenho coisas pra fazer. — Elliot suspirou e fez que sim com a cabeça, fazendo sinal para Keith colocá-lo em uma das mesas de madeira que ele usava para procedimentos. — Não tenha medo, vamos voltar, eu prometo. — Amelie tentou sorrir para ele, mas o menino parecia muito assustado com tudo aquilo, então em um impulso ela foi até ele e o abraçou forte, fazendo carinho em suas costas. Tristan ficou sem reação, mas pareceu ter mais segurança nas palavras da pirata.

Assim que saíram da sala de Elliot, Amelie não conseguiu encontrar Flint no navio, imaginou que talvez ele estivesse em outro lugar resolvendo outras coisas importantes para o ataque que iria acontecer dali a sete dias. Onde deixariam Tristan durante este ataque? Bom, iria encontrar uma solução quando estivesse perto. Segurou a mão de Keith, suspirando e começou a caminhar de volta para a estalagem, notando que o vento frio que vinha do mar ficava mais forte e o céu mais escuro.

— Ele disse que minha voz não era doce e que dava medo. — Amelie resmungou, olhando para o chão enquanto caminhava de volta.

Amelie sorriu quando Keith perguntou sobre seus outros planos e levou o dedo aos lábios fazendo um "shh!" e continuou caminhando ignorando-o completamente durante todo o caminho. Quando chegaram perto da estalagem começou uma tempestade com trovoadas e Amelie jurou ter visto um raio com o canto do olho, mas não havia tempo para observar a tempestade, tinha que correr antes que ficassem completamente ensopados novamente. Puxou Keith pelo braço e logo estavam dentro da estalagem enquanto ela ria da situação e a dona no balcão os olhava estranho. Ela o puxou pelo braço para voltarem para cima, o chão ficou ainda mais molhado quando entraram, mas ela não se importou.

— Eu vou tomar banho e tirar essas roupas molhadas, você pode ir depois. — Sem mesmo se mover para ir à sala de banho, Amelie começou a tirar as roupas. Primeiro a blusa cinza que era a parte mais fácil, já que já havia retirado seu suporte de couro, em seguida as botas molhadas e depois a calça, sem se importar se Keith estava bem atrás dela.

Caminhou rápido até a sala de banho que era dividida por uma cortina simples de tecido e teve que se desfazer da água que havia banhado Tristan, pois estava podre com sangue e sujeira. A parte ruim era que a água iria ser gelada agora, mas não fazia diferença para Amelie agora, mesmo estando frio lá fora, às vezes era bom um banho frio para esfriar os pensamentos. Ela entrou na água gelada depois de colocar a loção de lavanda e entrou de cabeça, limpando até seus cabelos, sem desfazer as tranças ou tirar as joias.

Tentou ser rápida e ao terminar o banho pegou um dos panos que deixavam no banco ao lado e caminhou para fora, se enxugando e enxugando também algumas mechas do cabelo que ia além do meio das costas agora e pingava no chão, mas ao menos Amelie cheirava bem. Ela fez sinal com a cabeça para Keith ir tomar banho também e tirar aquelas roupas molhadas, despretenciosamente, e ao vê-lo passar por si em direção ao lugar que acabou de sair, Amelie se certificou de que ele não estava mais olhando e foi rapidamente até o guarda-roupa enquanto se enxugava mais. Começou a procurar uma peça específica freneticamente, precisava ser rápida ou seus planos iriam por água abaixo, até que encontrou o vestido verde claro que estava naquele guarda-roupas há muito tempo e ela nunca cumpriu a promessa de vesti-lo. Amelie não se sentia confortável com vestidos, nunca havia usado um vestido em toda a sua vida, mas imaginava que Keith iria gostar e isso era o suficiente.

Deixou o pano cair no chão e começou a tentar vestir rapidamente, tinha até mesmo um suporte por baixo que ela tinha que aprender a colocar, enlaçar a parte de trás para conseguir apertar o vestido no torso era ainda mais difícil e o processo a fez bufar de raiva, até que ela puxou as cordas finas tão intensamente que o ar faltou em seus pulmões. Nossa, como odiava aquilo, nunca mais iria vestir um vestido na vida. Afrouxou um pouco, mas infelizmente havia perdido muito peso e havia ficado um pouco folgado.  

Amelie começou a tirar as joias do cabelo com tanta pressa que puxou alguns fios junto, depois desfez as tranças desengonçadamente e pegou o pente de madeira, penteando os cabelos freneticamente até que estivessem arrumados o suficiente. Fez tudo isso em tempo recorde, tudo pelo nervosismo e estava ainda mais nervosa em ir até o espelho e ver o resultado, mas a curiosidade falou mais alto.

Assim que Amelie se viu no espelho velho com bordas de madeira, era como olhar para outra pessoa. Talvez a pessoa que ela teria sido se houvesse continuado em sua família nobre, não se reconhecia. Seu coração apertou, Amelie franziu o cenho passando as mãos pelo rosto, cabelos, vestido... Aquilo era tão diferente de quem e como ela era.

— Callidora... — Nem mesmo sua voz combinava com sua aparência, mas seus olhos encheram de lágrimas ao lembrar do encontro com sua progenitora. O espelho a chamava como uma realidade alternativa onde sua vida havia sido diferente, era hipnotizante.

Até que a movimentação de Keith saindo do banho chamou sua atenção, ela passou as mãos pelos olhos tentando esconder as lágrimas e virou-se para ele, dando de ombros.

— Eu não sei como usar isso, ficou meio grande... — Seu rosto agora pálido ficou vermelho de súbito, sentiu a vergonha queimar em suas bochechas e se sentiu igualmente exposta. Não ter calças era estranho. Passou a mão pelo cabelo novamente tentando arrumá-lo e deu de ombros de novo, jogando os braços enquanto fitava Keith sem jeito.

Amelie se sentia completamente constrangida usando aquele vestido, era algo alienígena para ela, não conseguia se sentir confortável usando aquela peça de roupa ou saias, ou qualquer coisa que não fosse uma calça. Porém Keith havia gostado bastante, conseguia ver isto em seu olhar, enquanto ela estava envergonhada e sem jeito, ele a olhava de maneira completamente apaixonada. Sentir a mão dele em sua cintura a tirou de seus devaneios e sentir seu corpo próximo do dele lhe trouxe novos devaneios.

— Eu não sei danç-... — Não houve tempo de terminar sua frase, pois seus lábios foram ocupados pelos dele.

Levou a mão até seu rosto retribuindo o beijo de maneira mais feroz, mais apaixonada, mais intensa. Estava na hora de colocar seu último plano em prática.

Segurou sua camisa e o puxou ferozmente até a cama, forçando-o a sentar-se nela, o que acabou desfazendo o contato de seus lábios, mas Amelie precisava de fôlego de qualquer forma. Subiu a saia do vestido até a parte superior de suas coxas, dando espaço o suficiente para conseguir sentar-se em seu colo.

— Eu quero criar memórias boas... — Murmurou, levando uma das mãos de Keith até sua coxa direita e voltando a beijá-lo com intensidade.

Cada movimento de seus lábios e línguas fazia o ambiente ficar mais quente, embora estivesse frio do lado de fora. Amelie sentiu um fogo queimar em seu peito que não sentia há muito tempo. Envolveu os dedos nos cabelos de Keith, os puxando enquanto levava a outra mão até seu rosto, acariciando. Como estava sem nenhum bronze e sua cor natural se mostrava, era muito fácil ver que Amelie se corava com facilidade e agora suas bochechas estavam completamente vermelhas.

Fechou os olhos, movendo a cabeça de Keith para longe de seus lábios, a colocando entre seus seios. Enquanto sentia seus lábios em sua pele, pegou a mão que estava em sua cocha e a colocou dentro de seu vestido, sentindo os dedos de Keith tocarem sua intimidade. Arfou ao sentir um toque tão próximo, sentia-se tão úmida que a parte baixa do vestido, onde estava sentada, havia se ensopado levemente. Fazia tanto tempo que não sentia seu toque ou seu corpo ou seu beijo que agora queria tudo de uma vez, como se houvesse acabado de acordar de um sono extremamente longo e ao acordar cada célula de seu corpo ansiava por Keith.

De seus lábios escapavam gemidos baixos até que não conseguiu mais suportar e levou as mãos até a calça de Keith, arrastando-a para baixo e usando os pés para despi-lo mais ainda. Puxou Keith pelos cabelos numa ferocidade maior e tirou sua mão de dentro do vestido, levando os dedos de Keith até a própria boca do mesmo, forçando-o a limpá-los com a língua. Em seguida o beijou com uma intensidade absurda, demonstrando todo o desejo que estava escondido dentro de si, usando a mão livre para juntar seus corpos em suas intimidades, o que arrancou um gemido alto e abafado de Amelie enquanto ela estremecia com o contato.

— Eu te amo... — Sussurrou, porém sua voz era grave demais e nunca parecia que ela estava sussurrando quando o fazia. — E eu quero que você me foda.

Era difícil lembrar-se de quem era ou onde estava quando o desejo a consumia de maneira tão avassaladora, sequer sabia quanto tempo havia passado sem amar Keith daquela forma, mas parecia uma eternidade torturante e fria, sem paixão, quando agora tudo parecia mais colorido, quente e queimando como fogo em brasa.

Sorriu quando ele a elogiou, seus olhos fitando os dele, completamente hipnotizados.

— Você que é, eu quero te devorar completamente... — Com isto puxou seu cabelo, o beijando novamente, mordendo seu lábio inferior com força, começando a se mover ferozmente em seu colo, já que ele havia parado.

Estava completamente descontrolada, guiada pelo desejo e pela paixão, não havia senso em sua mente, sequer percebia os gemidos que saíam por seus lábios, tudo o que existia era o desejo e a luxúria e Amelie estava completamente dominada, se movendo tão rápido e com tanta força que ouviu a madeira da cama protestar novamente, porém continuou, não se importava. Havia apenas uma coisa que importava agora e fazia parte do homem que amava.

Cada vez que praticamente pulava em seu colo, a sensação melhorava e sentia que precisava expressar isto de alguma forma, então levou os lábios até seu pescoço e as unhas até suas costas, como uma leoa insana completamente cega pelo desejo.

Se surpreendeu quando Keith a virou e ela sentiu suas costas na cama macia, os cabelos longos bagunçados, o rosto corado, lábios vermelhos por conta dos beijos e do sangue que se concentrava em seu rosto. Tinha tantas cicatrizes que não conseguia olhar para o próprio corpo, mas parecia que seu marido não se importava com isto, como ele mesmo havia dito da outra vez. Aquela vez que parecia tão distante... Alguns pensamentos intrusivos ameaçaram tomar conta da mente de Amelie, seu grande e recente trauma, porém ela tentou focar no que estava acontecendo naquele momento.

Um gemido alto escapou de seus lábios quando o sentiu ir mais fundo e foi aumentando à medida que continuava, ela conseguiu livrar uma das pernas e envolveu as duas ao redor da cintura de Keith, o puxando com as pernas para mais perto, para que fosse mais fundo e embora não conseguisse falar, talvez ele entendesse o recado, já tinham feito aquilo o suficiente para se conhecerem assim. Amelie continuou cravando as unhas em suas costas pálidas, agora com músculos, levou os lábios até seu pescoço novamente e começou a beijar e morder, deslizando pelo ombro e envolvendo cada parte daquele homem.

— Você é meu... — Disse em seu ouvido, mordendo o lóbulo em seguida com ferocidade, como uma leoa.

À medida que sentia suas investidas dentro de si, sentia que estava mais próxima de chegar ao êxtase completo, como se seu corpo esperasse por isto por muito tempo. E então aconteceu, ela deixou a cabeça cair sobre a cama, as unhas pressionaram mais forte, gemeu extremamente alto sem perceber, as pernas apertaram com mais intensidade, como se seu corpo exigisse que ele fosse mais fundo e de repente aconteceu novamente, o que sentia misturada com a paixão acumulada era tão intenso que foi o gatilho para acontecer novamente e ela apenas se permitiu sentir aquilo, já havia sentido tantas coisas ruins.

Quando se recuperou, embora não tenha recuperado o fôlego, seus olhos se abriram lentamente e ela apenas sorriu, o fitando, em seguida voltou a beijar seu pescoço, indo até seu ouvido.

— E eu sou sua... — Sua voz saiu rouca e meio desconcertada. — Agora sua vez. — Voltou a chupar seu pescoço em seguida, de maneira tão intensa que iria deixar marcas no dia seguinte, ou talvez logo, levando em consideração a complexão de sua pele.

Quando Keith deitou sobre si e a beijou, ela queria que ele permanecesse assim e não se afastasse, mas parecia que seu marido se preocupava demais com ela e deitou ao lado. Ao menos a puxou para seu peito. Amelie sorriu de olhos fechados quando o ouviu dizer que tinha sido um dos melhores dias de sua vida. Ao menos seus planos tinham dado certo, embora tenha acontecido um imprevisto deveras inesperado. Levantou a cabeça para olhá-lo nos olhos.

— Até o catarrento ruivo faz parte disso? — Riu com a forma que chamou Tristan, não o via assim, mas se ele esperava outra coisa, estava bem enganado. Amelie iria tratar aquela criança da mesma forma que tratava qualquer coisa e teriam que se acostumar com isto, a única diferença sendo o afeto que já começava a nutrir pelo menino. Riu mais ainda com sua brincadeira sobre uma cama de ferro. — Bom, essa daqui já tá dando o que tinha que dar e a culpa é nossa...

Sentou-se na cama, ainda rindo e começou a retirar seu vestido por completo, o colocando de lado. Permaneceu sentada, completamente despida e apoiou a cabeça em sua mão, voltando a olhar para Keith.

— Quando os planos de Flint começarem a entrar em ação as coisas vão ficar muito complicadas... Ele tá insano depois do que aconteceu, quando olhei nos olhos dele essa madrugada, tudo o que eu vi foi ódio... Nada vai pará-lo até ele derrubar o último vigilante de Hahle... Mas como o reino vai ficar sem ninguém pra protegê-lo? — Amelie suspirou, levando a mão até Keith e acariciando seu rosto enquanto segurava o próprio rosto com a outra mão. — Eu fiquei pensando, sabe... Se as coisas são ruins com vigilantes, com ataques de vampiros e qualquer um que queira entrar aqui, como vão ficar sem eles? — Amelie franziu o cenho pensativa, a não ser que o rei possuísse outra maneira de proteger o reino, tudo iria se tornar um caos se conseguissem o que o capitão almejava. Mesmo não se importando tanto com Hahle, imaginava que outros lugares deveriam ser piores para alguém como ela e Tristan. Ao menos Keith possuía um lado lycan e poderia ir para o norte se quisesse, mas os dois ruivos eram apenas humanos. Nada mais que isso.