{RP FECHADA} Sunrise

Elliot tirou um pedaço de papel do bolso e anotou algumas plantas que poderiam ajudar com a dor, com certa rapidez, naquele ponto ele estava com muito medo de Amelie explodir com ele e fazer o mesmo, pois ele conhecia seu temperamento, então algumas palavras saíam meio borradas. Ele entregou o papel à Amelie que apenas pegou e olhou com uma careta não conseguindo entender nada que estava escrito ali. Passou os dois dedos que segurava, friccionando a textura do papel e Elliot ia falar alguma coisa, mas decidiu ficar de boca calada. Ela franziu o cenho meneando a cabeça e decidiu entregar o papel para Keith, já que sabia que não ia conseguir entender nada ali de qualquer forma.

— É só papel.  — Ela resmungou, aborrecida por não ter conseguido entender.

Novamente Elliot ia falar alguma coisa, colocando seu óculos de novo, mas decidiu não falar nada para Amelie depois do que ela fez com aquele homem.

Quando Keith falou com ele, Elliot sentiu um suspiro profundo escapar de seus pulmões por não ter que responder nada a Amelie.

— Eu... Bem... Err... Eu não sei, para ser honesto, eu tenho tudo o que preciso aqui, eu... Não sei. — Elliot respondeu, tentando olhar para Keith, mas sua timidez o fez olhar para baixo.

— Queremos te dar um presente, Elliot. Pense em alguma coisa.

Ele se surpreendeu com a forma que Amelie falou com ele e a olhou, ainda de cabeça baixa.

— Presente... Não precisa, err... Eu tenho tudo o que eu preciso aqui. — Ele não gostava de ganhar presentes ou ter muita atenção sobre si.

— Então vai ser uma surpresa.

Amelie deu um soco leve em seu ombro que o fez estremecer e ele simplesmente se virou, sem se despedir, com medo, caminhando desengonçadamente para o lugar que estava antes, tentando desviar de alguns piratas no caminho. Amelie riu, virando-se para Keith.

— Ele não gosta de atenção ou talvez esteja com medo de mim.

Ela deu de ombros.

— Você precisa de mais bebida, a bebida vai ajudar a diminuir a dor que está sentindo. — Disse gentilmente, enquanto pegava uma caneca vazia e enchia com vinho, trazendo de volta para Keith. — Tem certeza que é só um soco, amor? Não quer ir pra casa? — Seu tom de voz era carinhoso, mas deixou transparecer um ar provocativo sem querer. Vinho era uma bebida afrodisíaca, afinal.

Tentou se conter, pois sabia que ele estava com dor, mas não conseguia parar os pensamentos impuros que circulavam sua mente.

Amelie colocou seu chapéu novamente, já queue estava ensolarado, ela não gostava de ficar sem, se sentia desprotegida, era seu esconderijo pessoal. Tentou aproveitar a festa, mas tudo o que conseguia pensar era em Keith e em como ele estava com dor, embora a bebida ajudasse, não iria durar para sempre. Ela percebeu que ele desviava e tentava fugir de Flint sempre que o via em algum lugar, o coitado devia estar com medo. Precisava ter uma conversa com Flint da próxima vez que se encontrassem, ele não podia simplesmente chegar e fazer o que quisesse, não com seu marido. Se ela era como uma filha para ele, ele teria que tratá-la como tal e ouvi-la, embora ele tivesse a mesma cabeça dura que Amelie tinha.

Percebeu também que Keith estava muito bêbado e iria acabar desmaiando se continuasse bebendo mais. Suspirou, ela estava um pouco mais sóbria do que ele, então tratou de cuidar dele para que ele não exagerasse tanto na bebida. Era uma festa, mas chegando ao fim já tinham muitos piratas desmaiados no chão ou caídos em cima das coisas e ela não queria que Keith fosse mais um, então ele finalmente aceitou ir para casa. Tiveram que pedir uma carruagem, embora fosse perto, porque ele não conseguiria caminhar até a estalagem. Ao chegar lá ele foi direto para a sala de banho. Ela se deu conta de que ele não havia entendido as indiretas que ela jogava para ele durante a festa inteira, talvez estivesse muito tenso ou muito bêbado. Bufou, se despindo, também precisava de um banho. Quando tirou a última peça de roupa ela caminhou até a banheira de madeira e entrou dentro dela, não sabendo como os dois caberiam em uma banheira tão pequena, ela se moveu para onde ele estava, engatinhando pela água até que seus rostos estivessem próximos um do outro. Acariciou a parte de seu rosto que não estava machucada.

— Você está com medo de Flint.  — Ela deduziu, analisando os belos traços de Keith e o machucado em seu rosto. — Ele não deveria ter feito isso, nada disso, eu vou conversar com ele pessoalmente assim que puder. Honestamente, eu queria socá-lo de volta.  — Ela olhou para baixo, decepcionada consigo mesma. — Eu não consegui te proteger, quando é nosso dever proteger um ao outro. Isso não vai se repetir, mesmo que eu tenha que ir contra ele, se ele é meu pai, ele vai ter que me ouvir e eu estou com muita raiva dele.  — Sua raiva transpareceu na forma que ela falava, mas ainda continuava de cabeça baixa. Deitou a cabeça em seu peito, brincando com a água.

— Mas você também vem fugindo das minhas investidas a festa inteira. — Ela sorriu, travessamente. — E eu disse que ia ter volta. — Começou a descer a mão por seu torso lentamente, com os dedos finos, tentando o provocar. Então levantou a cabeça novamente e o beijou, conhecia seus pontos fracos o suficiente para não precisar de muita coisa, mas tinha planos. Sua cabeça, desde que foi chamada de gatinha e leoa, funcionava como uma máquina tramando o que queria fazer quando voltassem para casa, mas ele provavelmente havia se esquecido disso por conta do álcool e por conta do medo de encontrar Flint novamente, porém Amelie não havia, ela nunca se esquecia de nada.

Amelie ouviu o que ele falou, mas sabia que ele tinha medo, embora negasse. Não conseguia esconder a raiva que sentia de Flint, sua cabeça era dura demais pra qualquer outro pensamento razoável entrar em sua cabeça.

— Não é isso.  — Sua expressão estava visivelmente transparente, uma expressão de raiva. — Ele não é assim, eu vou falar com ele da mesma forma, ele não pode simplesmente fazer o que quiser com você e achar que tudo vai ficar bem, quando ele te machuca, me machuca também. Eu vou falar com ele ainda assim. Você não está estragando nada entre eu e meu pai, se tem alguém que está estragando isso, é ele.  — Quando Amelie colocava algo em sua cabeça, era muito difícil tirar, mas não queria pensar nisso agora.

— Eu estava pensando em um jogo. Um joguinho de dominação. — Ela riu olhando para ele com um olhar travesso. — Vamos ver quem tem mais força, lobinho. — Então levantou da banheira, saindo de dentro dela, completamente molhada pela água, lançou um olhar provocativo para Keith antes de sair andando com o mesmo sorriso no rosto, para o quarto, esperando que ele a seguisse. Sentou na cama pensando em fazer alguma piada sobre cachorros novamente e riu consigo mesma, mas não disse nada.

Quando Keith finalmente sentou ao seu lado, ela tentou se segurar com sua pergunta, mas não conseguiu. Talvez isso o deixasse com raiva, era o que ela queria afinal.

— Só estou me perguntando se você é mesmo um lobinho ou um poodle.  — Ela o fitou, de maneira provocante. Queria que ele ficasse com raiva de novo, talvez ele soubesse disso. — Talvez você seja um grande e feroz lobo, mas não tem como saber se você não me mostrar.  — Sussurrou em seu ouvido, deixando leves mordidas em seu pescoço e deslizando a mão até sua parte inferior, apertando com força. Ela sabia que ele se derretia em seus braços, mas queria que ele lutasse contra isso, ou contra ela, era parte do jogo em sua cabeça.

— Ou talvez eu esteja errada e você seja apenas um cachorrinho que segue uma leoa. — Ela riu olhando em seus olhos, selando seus lábios em seguida, em um beijo feroz, quase animalesco. Ela sabia como dominá-lo perfeitamente, mas queria que ele fosse guiado pela raiva e a dominasse desta vez, então continuou provocando enquanto sentia o efeito que causava nele. — Seria uma pena se eu estivesse errada. — Ela sussurrou entre o beijo, avançando para deitá-lo na cama, com esperanças de que ele fizesse algo contra. Esperava por esse momento desde que ele começou a treinar, o observava treinando sem tirar os olhos, e todas as vezes seus pensamentos impuros, que guardava para si mesma, ficavam apenas dentro de sua cabeça, mas dessa vez ela deixou que eles escapassem. — Seria realmente uma pena. — Ela sussurrou contra seus lábios, tentando ser dominante o suficiente para jogá-lo na cama.

Amelie riu quando Keith se pôs em cima dela, era exatamente o que ela queria que ele fizesse. Se derreteu em seus braços e quase perdeu a linha de raciocínio, mas logo voltou ao normal quando ele falou sobre pedir desculpas, ela riu novamente, uma risada travessa.

— Eu não vou pedir desculpas.  — Ela olhou em seus olhos, com seu rosto bronzeado corado pelo o que sentia. — Você vai ter que fazer mais do que isso pra ouvir um pedido de desculpas vindo de mim.  — Tentou mudar e inverter a posição, mas ele estava ficando mais forte a cada dia, o que a fez ficar mais quente ainda.

— Você não quer ser subestimado por uma gatinha, acredito. Então faça por merecer. — Amelie estava realmente se divertindo com aquilo, usou as pernas para trazê-lo mais para perto até que estivessem colados um no outro, mesmo sem estar realmente dentro de si.  — Não acho que devo te lembrar de com quem estás lidando, amor. Mas agora você parece mais um cachorrinho com crise de raiva do que um lobo feroz. Se eu não pedir desculpas, o que o cachorrinho vai fazer... — Ela murmurou, tentando provocá-lo novamente com a pergunta e um sorriso vitorioso no rosto. Era muito divertido provocá-lo daquele jeito, queria ver o quão longe ele iria para fazê-la se desculpar por suas piadas e provocações.

Amelie sentia cada toque como se fosse uma onda elétrica passando por seu corpo, ela quase desistiu ao ouvi-lo falar, mas não iria desistir tão facilmente. Usou toda a força que tinha para inverter a posição que estavam, embora Keith agora fosse mais forte do que ela e se pôs em cima dele, segurando seus pulsos com suas duas mãos, o prendendo na cama antes que ele investisse contra ela.

— Talvez algo te faça mudar de ideia.  — Olhou profundamente em seus olhos enquanto o colocava dentro de si, sentindo-o preencher cada parte que ela ansiava em ter preenchida. Deixou um gemido alto escapar e suas mãos se soltaram um pouco mais com a sensação e o impacto, mas ela logo segurou seus pulsos novamente.  

— E-Eu... — Droga, por que estava gaguejando... Tentou se recompor, mas sentiu seu corpo amolecer cada vez que se movia.  — Se eu pedir desculpas.... O que você vai fazer? — As necessidades de seu corpo eram mais fortes do que a sua razão. Naquele momento ela não se importava com mais nada, o que foi um erro, havia falhado em sua tentativa de provocá-lo, era ela quem estava em suas mãos agora e de certa forma, ela gostava disso, gostava da sensação de ser dominada pelo homem que amava, a única pessoa que aceitaria que a domasse. Sua voz saiu mais manhosa e fina do que ela planejava, ela percebeu que estava perdendo nesta guerra.

Amelie estava esperando por aquele momento por tanto tempo que não conseguia controlar suas próprias palavras ou ações, todo o tempo que passaram se recuperando do ataque foi o suficiente para criar este desejo enorme por Keith, que apenas crescia a cada dia. Ela realmente estava ferrada. Grunhiu de raiva ao ouvi-lo, mas queria que ele fizesse o que disse,

— Então me faça gritar pra que Hahle inteira escute, talvez faça eu mudar de ideia.  — Olhou para ele como se aquilo fosse um tipo de competição, mas ela sabia que já estava perdendo, desde o início ela sabia que iria perder. 

— Eu não sou de pedir d-desculpas... — Ela tentou não gaguejar, mas não conseguiu. Tentou não transparecer o fato de que estava animada com a ideia de Keith, tentou manter o olhar firme e a voz mais firme ainda.  — Me faça gritar então, eu estou pouco me fodendo para um poodle. — Sabia que aquilo iria irritá-lo e fazê-lo ficar com mais raiva ainda, mas aquele era seu objetivo, era queria ver até onde seu amado poderia chegar, ela queria sentir o quão fundo sua raiva iria se expressar, então não parou de provocá-lo, nem por um minuto sequer, embora seu corpo inteiro quisesse se render e implorar por perdão apenas para sentir o calor de seu corpo contra o dela. Ela não podia e não queria dar este gosto a ele, embora seu corpo reagisse de outra forma com o contato físico dos dois, ela tentava permanecer equilibrada,

Amelie grunhiu de raiva quando ele saiu de dentro dela e começou a beijar seu corpo, amava quando ele fazia isso, mas estava claro que suas provocações haviam funcionado e ele estava determinado a fazê-la perder o controle, não podia deixar isso acontecer, embora quisesse, embora seu corpo implorasse, era uma luta contra sua própria mente, quando ele desceu até sua intimidade, ela não conseguiu deixar que alguns gemidos escapassem de seus lábios. Droga, estava perdendo aquele jogo que ela mesma propôs. Ficou pior quando sentiu suas costas baterem contra a parede e sentiu ele entrar novamente, desta vez com mais força, uma força que ele nunca tinha usado antes. Até mesmo suas pernas não a obedeciam mais, ela não conseguia senti-las, tudo o que conseguia sentir era o que Keith estava fazendo e isso a deixava completamente fora de si. Se segurou em seu ombro e envolveu as pernas em sua cintura, o trazendo mais para perto, ouvir os sons que ele fazia também não ajudava, só a deixava pior, não conseguindo evitar que gemidos altos saíssem de seus lábios a cada investida que ele fazia. Estava adorando aquilo, tentava não demonstrar, mas amoleceu completamente em seus braços.

— V-Você acha que com i-isso vai conseguir...?  — Tentou falar, ofegante, quase em seu ápice, tentando não ceder, tentando manter um sorriso desafiador no rosto, mas parecia que quanto mais ela falava, mais forte e fundo ele investia e ela sentiu aquela sensação maravilhosa mais uma vez, dessa vez de forma tão intensa que puxou seus cabelos loiros e seu gemido foi tão alto que quase gritou, estava completamente ferrada agora, ela sabia disso, mas não iria desistir, queria ver até onde ele iria.  Quando ele parou e exigiu que pedisse desculpas, Amelie riu.

— Não. — Olhou no fundo de seus olhos azuis quando disse, talvez alto demais, queria continuar provocando e fazê-lo ir até seu limite.  — Não vou pedir desculpas. — Sabia que nesta guerra ele já tinha ganhado, mas Amelie era competitiva demais para desistir tão facilmente, mesmo após estar suada e ofegante e estar completamente derretida, à mercê de Keith, mesmo quando sabia que seu corpo já tinha desistido de lutar contra, ela continuava com aquele sorriso e aquele olhar de "você não consegue fazer mais do que isso".

Amelie foi completamente surpreendida pelo que Keith fez, sentia vergonha de suas cicatrizes nas costas, sempre iria sentir, era como uma memória que iria carregar pelo resto da vida, mas por algum motivo ele parecia não se importar. Seus pensamentos, entretanto, estavam focados nas cicatrizes que ele beijava, não conseguia sentir nada além de vergonha. Não sabia como ele conseguia olhar para aquilo, ela não conseguia, seu rosto ficou vermelho de vergonha, mas de repente a vergonha foi substituída pelo prazer. Certo, ele estava ganhando, na verdade ele já tinha ganhado há muito tempo, ela apenas não queria admitir. Os sussurros em seu ouvido não ajudaram, ela gostava demais daquilo, mais do que deveria, tê-lo ali tão feroz e animalesco, talvez fosse outra coisa que descobriu sobre si mesma: ela gostava de ser dominada pelo homem que amava. Sentiu novamente aquela sensação chegando, tomando conta de si, onde ela não era mais ela, apenas o que sentia. Não conseguiu controlar os sons altos que saíam de seus lábios com cada investida, não sabia de onde ele havia tirado tanta força, talvez pela raiva, mas ela gostava disso. Um sorriso escapou de seus lábios quando ele sussurrou em seu ouvido, mas já não era um sorriso competitivo ou implicante. Tentou buscar fôlego, seu coração batia rápido demais e tentava buscar ar, mesmo com ele ali parado.

— T-Tudo bem...  — Era difícil falar enquanto ela tentava trazer oxigênio aos seus pulmões.

— Tudo bem, você ganhou. — Tentou olhar para ele, mas era difícil na posição que estava.  — Desculpe, você não é um cachorrinho fofo... Ok... Você é um homem forte, embora ainda seja fofo com essa carinha, eu estava errada... — Bufou ao ceder, não sabia sequer formar frases coerentes, não sabia se aquilo seria o suficiente, sua mente ainda estava embaçada com o que acabara de acontecer com ela e com a forma que ele a surpreendeu, mas cedeu, desde o início talvez soubesse que iria ceder eventualmente e só queria ver até onde ele iria para provar que não era um poodle. Amelie riu consigo mesma quando esse pensamento passou por sua cabeça, mas não iria falar desta vez, não queria deixar as coisas piores para si mesma.

Quando Keith deitou ao seu lado, Amelie estava tentando recuperar o fôlego. Ela jogou os cabelos pra trás, tentando esconder as cicatrizes nas costas, uma sentença que iria carregar pra sempre.

— Você é fofo sim.  — Ela não falou aquilo num tom provocativo, mas num tom gentil, usando a mão livre para acariciar seu rosto, tentando não tocar na parte machucada. — Pra mim você sempre vai ser, você tem um rosto celestial.

— Eu também te amo muito e tenho muita sorte de ter você, não sei como consegue me aturar. — Ela riu olhando em seus olhos, mas foi uma risada triste.  — Você não tem nojo... Das cicatrizes... — Se encolheu um pouco mais, tentando não ceder à vontade de chorar. Só de pensar nas suas costas, ela tinha vontade de arrancar sua própria pele com as mãos, pedaço por pedaço.

Mas de repente o momento foi interrompido por batidas altas na porta, ela franziu o cenho, já traçando uma rota de fuga caso fossem os vigilantes. Vadia traidora, pensou consigo mesma sobre a dona da estalagem. Estava pagando mais do que devia apenas para ser encurralada. Quando algo acontecia, Amelie sempre considerava o pior, levantou-se da cama num pulo e vestiu uma camisola, a primeira que encontrou, pegando uma de suas espadas em seguida.

— Amor, se vista. Podem ter nos encontrado. — Ela avisou com a voz trêmula de medo, não por ela, mas por ele, iriam fazer o mesmo com ele se o pegassem. A porta foi batida mais uma vez, com mais força. Respirou fundo e caminhou até a mesma, com passos leves e bem articulados, como um gato. Abriu a porta com rapidez antes que pudessem bater novamente e levou a espada ao pescoço do homem que estava à sua frente. Ele não tinha vestes de vigilantes, era apenas um vizinho, talvez. Ela tirou a espada de seu pescoço ainda a segurando com força, o homem parecia com medo, deixou um suspiro de alívio sair de seus pulmões. — Que porra você quer, caralho? — Amelie, como sempre, sendo muito gentil. O homem limpou a garganta.

— Vocês não sabem que tem vizinhos?! E fazem barulho o tempo todo, dá pra ouvir até do outro lado de Hahle, eu tenho uma filha de 5 anos e ela sempre me pergunta sobre os barulhos, que caralhos vou responder? "Ele não tá machucando ela, filha, é só uma brincadeira"? — O homem cruzou os braços, estava furioso.

— Sei lá, se vira. — Amelie deu de ombros.

— Vou fazer uma reclamação! — Ele esbravou, tentando intimidar a ruiva, mas sua expressão de "foda-se" contin

uava estampada no rosto dela.— Faça e eu arranco seus olhos com minhas próprias mãos e dou para sua filha. — O homem frazniu o cenno.

—Quem você pensa que é pra fazer uma ameaça contra mim?

— Amelie Mildenhall, do Blackmore. — Respondeu com raiva e fechou a porta na cara dele, colocando a espada no lugar onde estava anteriormente. Sentou-se na cama, enfiando os dedos pela cabeça. — Desculpa, amor, eu achei eram eles. — Sua pele até se arrepiava ao lembrar das torturas e chicotadas que teve. Passaria por tudo de novo apenas para Keith não passar. Seu plano de fuga no fim das contas, não envolvia ela.

Deitou com ele, o abraçando. Suas palavras se repetiam em sua mente de novo e de novo, não sabia como ele conseguia gostar de suas cicatrizes quando ela as odiava e tinha vergonha, mas talvez ele pensasse a mesma coisa sobre si mesmo, no fundo.

— Obrigada por amar até minhas imperfeições.  — Deitou a cabeça em seu peito, se ajustando no abraço. — Obrigada por amar as partes de mim que eu não amo.  

— Eu não sei como você consegue me domar desse jeito, vou ter que me lembrar de te provocar mais vezes. — Ela deu uma risada baixa. Então escutou sobre aprender a ler e escrever, ela não entendia sua insistência.  — Ugh... — Bufou, um pouco irritada com a ideia. — É só papel, mas acho que eu cavei minha cova quando aceitei. — Tinha um leve tom de irritação em sua voz, ela realmente não gostava da ideia, mas iria fazer aquilo por ele, já que ele queria tanto que ela aprendesse.

A ideia de Amelie tentando aprender a escrever era cômica em sua cabeça. Ela provavelmente iria xingar e rasgar muito quando errasse alguma coisa. Parecia muito difícil pra ela.

Deixou que ele deitasse em seu peito e começou a fazer carinho em seu cabelo como ele havia pedido, um sorriso brotou em seu rosto quando ele disse aquilo sobre seu passado. Deu um beijo no topo de sua cabeça, voltando a acariciar seus cabelos depois.

— Você nunca mais vai ter que passar por isso de novo.  — Disse em um tom carinhoso, afundando as mãos em seu cabelo. — Vamos ficar juntos pra sempre.  

Mas então ouviu o que ele falou sobre o vestido e arregalou os olhos, fitando o teto.

— Um vestido... Certo... Eu prometi que iria vestir pra você se comprasse, cavei minha cova novamente. — Ela riu, mas era difícil negar qualquer coisa pra ele.  — Eu não consigo me imaginar usando um vestido. — Disse enquanto tentava se imaginar usando algo que nunca usou, mas por Keith ela faria qualquer coisa. Imaginava que usar um vestido iria acabar fazendo ela parecer uma mulher comum, ou até mesmo nobre, o que fez com que ela lembrasse do dia em que conheceu sua mãe biológica, não poderia ceder e chorar, não poderia ceder ao seu coração, ela não era assim. Keith a amoleceu completamente, ela não poderia deixar isso acontecer. Não iria chorar pela mãe que nunca teve, a vida que nunca desejou. Estava feliz ali, com ele, sendo uma pirata, a vida que escolheu para si. Não queria que nada fosse diferente, então apenas se ajustou no travesseiro para conseguir olhar para Keith, ou pelo menos tentou, ele era seu bem mais precioso. O abraçou forte com o braço livre e beijou seus lindos cabelos novamente. Logo ele iria dormir, como sempre acontecia quando ela mexia em seu cabelo por um tempo, ela gostava quando ele dormia assim, perto dela, podia sentir e ouvir sua respiração, a acalmava mais que o mar.