[RP SOLO] Moonhunter.

Os passos eram incessantes. Rápidos, ferozes até. Não havia muito o que fazer. Era uma situação de vida ou morte. Em uma cidade grande, durante o fim da tarde, é comum que se tenha locais vazios, mas, é pior ainda quando se está sendo caçado, e ao mesmo tempo, é duplamente mais ruim, quando você também tem um trabalho para fazer. Uma coisa, como experiência de um Caçador, é que, não importa o que seja, nunca. Nunca seja caçado enquanto caça, a situação pode pegar. Se você puder evitar, resolver suas caçadas primeiro para depois resolver o fato de que alguém está atrás de você, é melhor assim.

É uma pena que nem tudo seja assim. Pessoas não têm controle de sua própria vida. Ninguém tem. A maioria dos religiosos, até mesmo lunáticos, dizem que é comum que o destino esteja traçado por uma linha do tempo. Isso traz à tona o conceito de imutabilidade dos fatos e eventos. Bem. Eu não acreditava nisso, mesmo que possa existir algo imutável, a coincidência é justamente o que faz a possibilidade de um homem escolher o próprio conceito de destino, do jeito que ele quiser. Então, dando mais alguns passos, saltei no ar após subir contra a borda de uma construção.

— Volte aqui! Não irá escapar de mim! Você é o meu dinheiro! — Gritei, girando no ar e estendendo o braço no ar em uma tentativa de agarrar o que seria o pano do pescoço do alvo, meu dedo encostou levemente e eu me vi caindo em direção ao chão, então, algo lá em cima explodiu, e com os pedaços de pedra voando para alguns cantos aleatórios, um homem saltou, movendo suas escopetas com os dois braços, estes que eram grossos e parrudos, fortes o suficiente para segurar duas espingardas como se nada fosse. Ele atirava, dispersando balas pela pólvora a rodo como um maluco. Haviam posto uma recompensa pela minha cabeça, e não era novidade. Ser exilado. Ok. Ser caçado. Ok. Tudo o que eu não esperava era ser duplamente caçado.

Girando o corpo, bati os pés sobre o chão, disparando pelo piso molhado, esguichando água para todo o canto. Balas explodiram atrás de minha pessoa, buscando me perseguir como uma leoa corre atrás de sua zebra. Eu não era presa, era o predador, logo o jogo viraria, eu seria o rei. Não existe nada melhor do que um bom lobo, sozinho com sua própria força, virar o mundo do avesso, pois ele é o rei. — Gyaah! — Saltei para trás de algumas barracas vazias, girando o corpo no processo e rolando sobre a lama. Erguendo a cabeça,  notei barris de pólvora próximos, então, peguei um, atirando para trás e uma das balas atingiu o objeto lançado, provocando uma explosão. Fagulhas, faíscas, chamar voaram para o alto. Aquilo foi tão forte que precisei erguer o braço por conta da claridade. — Woo. — Exibi um sorriso de canto, algo bem sacana, havia dado certo.

Me apoiando com um joelho, me levantei e comecei a correr, funguei o ar para notar qual rota havia sido traçada pelo alvo. A chuva poderia atrapalhar um pouco, mas nada que me impedisse, não era um lobisomem comum, era um Alfa.

Dei alguns passos. A cidade parecia vazia olhando assim. Somente a névoa distante e as construções semi englobadas pelo vento da chuva. Um ótimo cenário. Além do cheiro que o traste havia deixado, pude notar pegadas. Com certeza não era minhas. Me agachei, colocando um braço sobre a coxa enquanto que com a destra, encostei o indicador sobre o solo, de modo a tirar um punhado de terra e cheirar. Era de fato minha presa. Dando um sorriso de canto, fiquei de pé e comecei a correr. Após algum tempo, cheguei em um local abandonado. A chuva caia sobre meu corpo, deixando a massa um pouco pesada, mas, nada que não resolvesse com uma entrada.

Dando mais alguns passos, empurrei a porta com a mão, percebendo que o local parecia velho. Cadeiras de madeira quebradas, mesas reviradas, sujo, teia de aranha e uma péssima iluminação, se não fosse pelos raios e trovões vindo do céu. Movendo o punho brevemente, exigi que o lobo dentro de mim viesse parcialmente. Era difícil ter de lutar com essa besta, enjaulada, presa ali dentro, querendo se libertar e ser livre. Livremente caótica. As garras saltaram para fora, e eu pude ver o quão prateadas eram. Com isso, produzi faíscas sobre o triscar das garras e uma luminária se acendeu, revelando o quão velho aquele lugar estava. Por um segundo, cheguei a questionar se o meu faro e as pegadas estavam certos, mas estavam. Ele havia fugido para ali.

Senti algo estranho, e não pude pensar direito. Movi o braço para trás, deslocando o ombro e evitando por pouco uma flecha de se cravar ali naquela região. Graças ao meu senso de visão e audição aguçada. Fechei os olhos por um instante e me concentrei nas orelhas do lobo. Eu as queria. A besta rugiu furiosa, mas pude sentir uma vibração sonora maior. Aquilo era… Flexionei os joelhos e me joguei para frente, evitando uma saraivada de flechas. Com isso, deslizei pela madeira velha, dando um salto e caindo de quatro patas as escadas, saltando após chegar no topo dela.

— Te achei! Seu Elfo de merda! — Gritei com um sorrisinho, erguendo as garras para gravar as pontudas unhas em seu alvo, que arregalou as sobrancelhas loiras, pensando que estava lascado. — Como me achou?! Lua Branca! Seu monstro! — Gritou, enjoado. Logo, utilizou o vento ao seu favor e se impulsionou para trás. As garras explodiram a madeira para baixo, o elfo rolou sobre o chão e encaixou uma flecha na corda de seu arco e se jogou para trás, passando pela vidraçaria da janela. Em meio aos cacos que caiam em direção ao chão, ele retesou o arco, puxando a flecha para trás e apontando. Aquilo iria parar direto no meu peito. — Morra. Desgraçado. — Ele atirou o projétil. Dei um mortal para trás, e aquela coisa passou zunindo por baixo do meu corpo. Pousando, dei alguns passos e saltei, caindo na direção do alvo, com as mãos erguidas, pronto para o abocanhar com as mãos.

Talvez se não fosse a maneira como tudo aconteceu tão rapidamente. Talvez se não fosse a celeridade alucinante da caçada, eu poderia ter acabado com tudo aquilo com bastante facilidade. Mas meu corpo entra em um frenesi a cada vez que eu me vejo em perigo, é como se eu fizesse sexo com um anjo a cara vez que eu luto com caras perigosos. Sim, eu sou maluco, para alguém que poderia ter vivido a vida dos reis e nobres, mas isso é coisa de otário, é entediante ser mimado e passar o dia de pernas para o ar em uma cadeira de ouro.

O chão fez um baque surdo e fissuras se abriram ali no solo manchado pela lama e pelo barro. Pelas leis da física, sempre há, pelo menos, uma reação. Dizem que quando os corpos se chocam um com o outro, ambos se empurram. Utilizando o impulso para o alto, o Elfo maldito girou o corpo flexível, apoiando as pernas em meu torso e em seguida, me jogou para trás, fazendo com que eu saísse de cima dele. Maldito. Estava usando magia para superar minha força bruta. Aquele trapaceiro. Rolei meu corpo na lama, em seguida, me levantando e ficando de pé enquanto limpava minhas mãos. — Ah, Elgaard, vamos, me deixa levar tua cabeça. Sabe que não tem chance. — Falei com um sorriso, fitando o elfo como se ele fosse algo delicioso de comer, mas na verdade, eu não era vegano, e Elfos pareciam de ter gosto de grama. — Seu merdinha. Que você sofra na escuridão de um mundo sem luar! — Com um sorriso cínico, Elgaard esboçou aquelas palavras em seus finos lábios.

Ele criou uma flecha de energia, e em seguida, as multiplicou por cinco, segurando cada base com um dedo. Aquilo era magia complexa e somente Elfos experientes poderiam dominar uma técnica avançada como aquela. Ergui as sobrancelhas, e em seguida, me movi. Dando um mortal para frente, evitei a primeira flecha, em seguida, rolei sobre a lama e evitei a segunda flecha. A terceira, usei um pedaço de pau, arremessando com um dos braços, para que ambas se chocassem e, com isso, provavelmente haveria um atraso no projétil energético disparado, o que me permitiu saltar no ar, correr pelas telhas das casas próximas e saltar novamente, mostrando as garras e deslizando por uma descida de ferro com o apoio delas, soltando faíscas no processo. — Ooh! —  Gritei, com um sorrisinho. Faltavam duas não era?

Saltei quando a quarta estava próxima de me acertar, flexionando os joelhos na parede e tomando como impulso, provocando um giro corporal perfeito. Era como um acrobata. A quinta e última flecha me seguia, mas havia um motivo pelo qual eu havia dado um salto. O elfo olhava tudo aquilo com um sorriso esperançoso, ele esperava que tudo aquilo me findasse de uma vez por todas, bem, eu tinha um plano. Cai atrás dele. — Ei, e aí, olá? — Exibi um sorriso sacana enquanto ergui uma das mãos para acenar para o mesmo. Ele ergueu uma sobrancelha, porém a ficha caiu e ele sacou uma flecha, retesando o arco. Sua flecha elementar lhe acertou no ombro, abrindo um buraco ali, movi a perna com aquela distração. Chutei-lhe no peito e o joguei sobre o chão. — Elfo das orelhas tortas. Orelhas essas que parecem duas salsichas murchas.  Mais burro do que um coçador de testículos. Como pôde cair em um truque tão barato? — Questionei, dando passos leves em sua direção.

— Por favor! Fique longe de mim! Por favor! Eu tenho uma filha! Será que é possível que você tenha compaixão, pela minha filha! Por favor! — O elfo começou a se arrastar na lama. Caso eu não tenha dito antes, o dia estava chovendo. Relâmpagos e trovões eram possíveis de serem vistos em todos os cantos daquela região de Edelweiss. Relâmpagos roxos, tão piores quanto aqueles com eletricidade azul, Edelweiss tinha dessas coisas. — Não me importa. Ela tem uma mãe? — Questionei, lhe chutando a costela, o que fez com que o ser se contorcesse de dor. — T-tem! Se chama… — Ergui a perna, dando um pisão em sua face e acabei por abrir um buraco no chão. O braço mole daquele Elfo se manteve suspenso sobre a lama. — Ugh… Uh… Lyssea… Minha filha… — Gemia.

— Bem. Ela tem uma mãe. Pode muito bem viver sem um pai corrupto, um pai que fazia parte do contrabando de órgãos de seus semelhantes, quando viu o negócio ruir, fugiu, sabendo que teria uma recompensa pela porra da sua cabeça. Bem, eu estou aqui,bem aqui, pra ter a merda da sua cabeça nas minhas mãos. — Exibi um sorriso. — Cada um precisa sobreviver, de algum modo. E o meu modo, é caçando recompensas. — Me agachei, erguendo o punho no ar e as garras saltaram para fora. Mas a besta dentro de mim, rugiu tão alto que eu precisei fechar os olhos por um instante. — Caralho, fica quieto… — Sussurrei. — Enfim… Já passou muito tempo, últimas palavras? — Questionei, ficando de pé. E então, o homem parecia sussurrar algo em… Élfico. O que ele queria …? Arregalei os olhos.

Dei meia volta e comecei a correr, quando fui acertando por troncos de árvores e vinhas que me cortaram a pele, fazendo com que o vermelho se fizesse presente. Cuspi sangue no ar, sendo soterrado pela natureza. — Gaaah! — Gritei. E tudo ficou preto. Pelo menos eu achei que tinha ficado preto. Não sei quanto tempo passou. Dizem normalmente que a inconsciência em caso de batalha duram menos do que dez segundos. Para mim, parecia que tinha se passado a eternidade. Bem, eu não queria viver para sempre em um mundo calamitoso. Mas é verdade que lupinos vivem mais do que a média dos humanos e outras raças. Mas por que estava me preocupando com isso agora?

Ergui a mão no meio dos escombros, e em seguida, os dedos puxaram outros pedaços para o alto. — Isso já foi longe demais. Cough. Cough. — Subi para fora, ofegante. Cuspi sangue, me deixando cair sobre uma raiz gigante. Aquele maldito do Elfgaard, havia evocado uma árvore, uma mágica druídrica. Os pelos me envolveram o corpo, eles eram brancos como a lua, retirei minhas peças de roupa rapidamente enquanto meus olhos brilhavam em vermelho. Dentes saltavam para fora, e meu corpo se transfigurava. Elgaard parecia ter machucado a coxa. Estava mancando com mais sangue espalhando-se pelo terreno barroso. Espinhos de madeira haviam se cravado ali, deveria estar doendo muito.

Um lobo branco pousou em sua frente quando um raio explodiu no céu, bombardeando a escuridão. — Oh meu Deus! O monstro! Meu Deus! — Ele se virou para tentar correr, mas tropeçou e caiu. Eu estava tentando manter o controle. Era difícil. A besta estava constantemente tentando me dominar e me fazer sucumbir aos instintos animalescos. Mas eu era racional. Eu era pensante. Eu ia passar nessa porra. O lobo avançou, dando alguns passos, e com as garras monstruosas, começou move-las, de modo a rasgar a costa do elfo. A água da chuva, sobre aquela terra, se tornou vermelha. Elgaard havia morrido. Do seu corpo dilacerado, havia somente sua cabeça, imbuída de terror, o estado em que esteve antes de morrer pelas minhas mãos.

Apesar de difícil, consegui conter o lobo dentro de mim, e aos poucos, fui voltando a mim. Me deixei tombar sobre o chão ofegante. A água lavava o meu corpo, mas era nítido o trincar dos dentes pelo esforço. — Arf.. Cacilda. Finalmente… Garanti o meu pagamento… Arf… — Tossi em seguida, fechando os olhos. Tempos depois eu já estava vestido, andando sobre aquela terra molhada. Do outro lado eu carregava, em um pano, a cabeça de meu alvo. Algo disparou, distante. Ergui o olhar em seguida, girei o corpo, dando um salto de lado, evitando uma bala explosiva. Olhei para cima. Eu quase havia esquecido, era verdade. Eu estava sendo caçado por um anão anômalo. Parece que ele havia me achado. Aquilo havia o atrasado bem. Exibi um sorriso.

— Achei você, lobinho. — O homem, parecia ter apenas 1,50 de altura. Possuía uma pança, ossos grossos e gordurosos, uma barba longa e ruiva, com um belo nariz gigante, olhos verdes pequenos e grossas sobrancelhas vermelhas. — Confesso que foi difícil te achar depois daquele show de fogo que você fez ali atrás, mas agora, eu almejo te descer meia dúzia de porrada voltar com sua cabeça na minha mão. — Ele exibiu um pequeno sorriso por baixo da barba, então, tirou o charuto apagado dos lábios, o tirando como se fosse um pedaço de pedra no sapato, mesmo que amasse fumar.

— Ótimo, eu sempre estou a par. — Falei, exibindo um sorriso de lado. — Sou extremamente atraente. — O respondi, fazendo com que o homem precisasse estreitar os olhos pela resposta. — Se quiser um caso comigo, te adianto logo: A fila tá fechada para homens. — Gesticulei com a mão livre. — Nossa moleque, deve ser por isso que tua família fala mal de ti. — E o anão girou as duas pistolas entre os dedos, antes de apontá-las para mim, e disparar contra meu lindo corpinho, mas era aquela verdade: Neste jogo, você ser a pessoa mais bonita do mundo, feia também, mas uma recompensa…

Uma recompensa muda tudo, e a sua vida se torna um sopro, no fim, não vale nada  se não apenas uma cabeça morta usada como meio monetário. Ou você mata, ou você morre. — Nossa, segura aí! — Gritei, aumentando o sorriso e jogando a cabeça morta do elfo para trás, e em seguida, me joguei para trás, usando as mãos como apoio no chão, comecei a impulsionar, fazendo o mesmo movimento como um mortal contínuo enquanto as balas energéticas explodiam bem próximas de mim, exalando buracos luminosos na lama. Girei uma última vez, dando o impulso no ar e pegando a cabeça do defunto.

Os tiros haviam cessado, eu entendia. Sobrecarga de tiro potente aquece o cano da arma, e precisa de tempo para voltar a funcionar, o mal de armas com núcleo mágico utilizado como fonte de energia e ataques. Rodopiei o corpo, deslizando os pés sobre o chão molhado e começando a correr. Mas, vi algo cair sobre o chão, não uma, duas, três… Aquilo, esperando apenas sua ignição para o estrago era,,, Granadas! Flexionei as pernas, dando um salto reto, e mergulhando de cabeça em linha reta, ao mesmo tempo em que as granadas explodiram, causando um show.

Depois do impulso, girei o corpo, protegendo a cabeça morta, girei meu corpo algumas vezes, e me atirei para a casa abandonada mais próxima, onde o show de luzes aconteciam, seguindo de tremores que por pouco, aquelas explosões não me acertaram, mesmo sendo um lobisomem, era possível que morresse. Deslizei no chão sujo e me levantei, dando alguns passos rápidos, procurando algum canto para colocar o prêmio. Tinha achado um baú velho. O abri, e em seguida, soltei o objeto lá dentro e fechei aquilo.. Eu voltaria para pegar, se fosse por Ovedo, mas iria voltar, custe o que custar.