(RP FECHADA) The Sea Will Calm You

Amelie riu de verdade pela primeira vez quando ele perguntou sobre o sobrenome. Ainda com o rosto enterrado em seu pescoço, absorvendo seu cheiro, ela relaxou as mãos quando sentaram. Continuou o abraçando ainda assim, agora apoiando a cabeça em seu ombro e abrindo os olhos, observando o convés e ouvindo o som do mar, o cheiro, aquilo a acalmava.

— Ele deixou você se casar comigo, bobinho, acha que se fosse outra pessoa ele deixaria? Provavelmente arrancaria a cabeça em praça pública, mas ele viu seu potencial, viu quem você era, temos isso em comum também, e principalmente ele viu como você me amava. — Ela trouxe a mão suja de sangue até seu peito. — Principalmente depois de hoje, ele está muito orgulhoso e impressionado com você, você merece o peso desse sobrenome, amor. Você não tem ideia do que fez hoje e do quão capaz você é, mas nós temos.  

Olhou para o homem que jazia agora morto enquanto outros ao redor rezavam para os deuses. Ela nunca acreditou em deuses, pois sua vida sempre foi miserável, teve sorte de ter encontrado Flint, mas acreditava que era apenas isso: sorte. Até que conheceu Keith, até que seus destinos se entrelaçaram, depois de tudo o que aconteceu, tão de repente, como se fossem as asas do destino, ela começou a ter dúvidas sobre sua própria espiritualidade e a forma que via a morte. Engoliu em seco, o vendo caído em uma das âncoras do convés.

— Eu não sei, talvez sim, talvez não.

Pensava sobre isso quando percebeu que alguém vinha em sua direção, mesmo de longe, era uma de suas habilidades, como um gato. Elliot estava completamente ensopado pela chuva, os cabelos médios e ruivos grudados em seu rosto enquanto ele tentava se equilibrar pelo convés, ele era extremamente desajeitado e tímido, ajustava o óculos no rosto enquanto vinha em nossa direção, quase escorregou duas vezes. Amelie prendeu o riso quando isso aconteceu. Quando ele finalmente conseguiu se aproximar e viu o sangue descendo por seu nariz enquanto ela cuspia mais sangue, ele franziu o cenho com medo da mesma coisa ter acontecido de novo.

— O que aconteceu, Amelie? — Indagou chegando mais perto, Amelie continuou sentada no colo de Keith enquanto ele se aproximava dela. Não queria se afastar dele.

— Acho que deslocaram alguma coisa no meu nariz.

Elliot começou a examinar de perto, tentando ignorar Keith que estava bem ali, era um momento constrangedor para ele. Examinou por um tempo, até que suspirou.

— Não deslocaram algo no seu nariz, deslocaram seu nariz. — Ele disse, olhando para Amelie que retribuiu o olhar. — Eu só preciso colocar no lugar de novo, isso vai doer. — Amelie segurou forte a mão de Keith e Elliot olhou para os dois rapidamente antes de o fazê-lo, em um "click" seu nariz voltou ao lugar, mas era uma dor insuportável que ressoou por todo o seu rosto. Ela segurou forte a mão de Keith enquanto gritava xingamentos. Elliot tirou um pano e começou a limpar seu nariz contra sua vontade, enquanto ela ainda grunhia de dor. — Não vai sangrar mais. — Ele afirmou, então virou-se para Keith, notando o sangue em sua roupa.

— E você, o que aconteceu, Keith? — Indagou esperando que não fosse nada grave.

Amelie continuou gemendo de dor enquanto sentia os efeitos do que Elliot fizera. Mas estava mais preocupara com Keith, então conseguiu forças o suficiente para se levantar e sentar ao seu lado.

Amelie observou Elliot examinar o braço de Keith e dizer que havia sido apenas um corte superficial, mas que ele precisaria limpar com frequência para não infeccionar. Ela respirou fundo aliviada. Quando se virou para checar Amelie novamente, ela ergueu a mão negando e ele fez que sim, se virando para checar os outros feridos.

— Tá doendo pra caralho. — Respondeu, fazendo uma careta de dor e tentando não mexer no nariz. — Mas eu vou ficar bem depois de algumas bebidas, quando voltarmos pra casa.  

Ela virou para sorrir, mas o que sentiu foi exatamente o oposto, todo aquele estresse e o sangue que havia ingerido de seu nariz começou a deixar seu estômago irritado, na verdade, o sangue fazia o estômago doer. Ela segurou forte o banco em que estava sentada e virou-se para frente. De repente, por ansiedade e irritação, uma onde de vômito subiu por sua garganta e ela começou a vomitar todo o sangue que havia engolido do seu nariz.

Quando terminou percebeu que a maior parte do líquido no chão, que se misturava com a chuva, era apenas bile. Ela não havia se ferido de verdade. Ofegante passou a mão pela boca e a limpou, deixando-se cair no ombro de Keith, ofegante.

— Engoli muito sangue.

Ela disse, esperando que ele não se preocupasse. A água da chuva que punia o convés se misturava com o vômito e era uma visão um tanto nojenta, mas ela estava acostumada a ver coisas assim. Já vira muitos homens terem o intestino arrancado para fora e na maioria das vezes era ela quem o fazia.

Amelie continuou com a cabeça no ombro de Keith enquanto ele falava, tentando recobrar a respiração. Segurou sua mão quando viu que ele estava preocupado, entrelaçando seus dedos.

— Eu tô bem. — Disse com dificuldade. — Eu só quero ir pra casa.  

Mas era tarde demais porque ele já havia chamado Elliot novamente. Amelie quis dar um soco em Keith por fazer isso, mas sabia que ele tinha boas intenções, ela faria o mesmo.

Logo Elliot retornou, com seus passos erráticos sobre o navio molhado, escorregou e seu óculos caiu no chão, ele o pegou de volta e colocou em seu rosto, apesar da chuva torrencial. Levantou-se novamente e Amelie teve que se segurar para não rir, mas ele continuou caminhando com dificuldade até eles. Elliot não era conhecido por ser forte ou ter uma boa coordenação, principalmente num navio que estava no meio do mar com o convés ensopado e a chuva molhando seus óculos, mas conseguiu chegar até eles.

— Eu disse que eu tô bem.

Amelie repetiu, mas Elliot a ignorou completamente, chegando perto com os cabelos molhados, a examinando de novo.

— Você pode afastar o sobretudo por um segundo? — Ela se irritou, pois parecia que ninguém confiava no que ela falava, mas sabia o que havia acontecido da última vez, então desfez o cinto de seu sobretudo e o abriu, expondo a blusa branca de algodão que usava, que estava intacta. Ele fez que sim com a cabeça e ela fechou seu sobretudo novamente com um pouco de dificuldade. — Quanto sangue você ingeriu?

— Muito.

Ela respondeu e ele levantou, examinando seu nariz novamente que havia parado de sangrar depois que ele o pôs no lugar.

— Seu estômago se irritou e colocou para fora. — A diferença entre a forma que falavam mostrava o quão estudado e diferente de todos da tripulação Elliot era. — Então é normal. O estômago de um humano não está preparado para ingerir doses grandes de sangue quanto ela ingeriu, ela provavelmente vai precisar de um chá com ervas pra acalmá-lo, já que não temos remédios para isto aqui. Ela vai ficar bem.

Dessa vez respondeu para Keith, que parecia extremamente preocupado. Entrou para dentro do navio, para a ala hospitalar e retornou, dessa vez mais rápido já que dentro do navio não estava molhado, quando voltou para o convés quase escorregou novamente e entregou um papel para Keith com as ervas que seriam necessárias. Assentiu com a cabeça, olhou para Amelie que ainda descansava a cabeça no ombro de Keith e deu dois tapas no ombro dele, relembrando que ele precisaria limpar a ferida com frequência, depois voltou sua atenção para os homens que estavam caídos no convés, tentando caminhar até eles de novo sem escorregar.

— Eu disse, amor, eu vou ficar bem.

Ela fechou os olhos, se deixando levar pela proximidade a Keith e o barulho do mar, o cheiro. Embora seu rosto inteiro doesse, parecia que nada importava quando estava com Keith e especialmente no mar.